Receber

785 76 57
                                    

"Longe de você me sinto uma pessoa sem pensamentos... Ou melhor, não sei me concentrar neles... Mas ao pensar em você, sinto em mim um alívio que ameniza todos os problemas da vida..."

Marcela Mc Gowan.

Os dias que se passaram após a consulta da médica com Liz mantive-me mais presente em sua vida. Estava me adaptando junto a ela em relação as mudanças que estavam ocorrendo em sua vida, fazia-me mais presente, perguntava sobre seu dia, como se sentia, o que estava fazendo e a ouvia falar sem parar sobre seus desejos naquele momento.

Queria que a menina compreendesse que antes de dominar o mundo exterior, ela deveria dominar seu mundo interior, deveria dominar e explorar sua alma e se conhecer verdadeiramente.

Ensinava-lhe que deveria torna-se uma pessoa de índole boa, uma mulher de princípios e lutadora em relação as causas que acreditava, explicava que aos poucos suas vontades começariam a mudar e ela passaria por uma fase de turbulência, o que era normal, acontecia com todos.

Ajudava-lhe a reconhecer gestos bons e ficar de olho em quem possuía má intenção. Falávamos sobre sua profissão que até aquele momento envolvia a área das exatas, mas deixava claro que poderia mudar.

Ensinava aos poucos o mundo dos adultos, mas sempre deixando presente o mundo colorido e infantil que ela nunca deveria abandonar. Ao passar dos dias tudo que eu e Gizelly falávamos envolvia sempre o amor, queria que estivesse aberta a ele seja da forma que for.

- Mãe, tenho que te contar uma coisa. - Disse mordendo o canto lábio inferior enquanto comia seu brownie com sorvete de creme. - Eu pensei em falar quando estivesse com a mamãe também, mas queria contar para a senhora primeiro.

- Tudo bem, filha. - Murmurei pensando que era algo vinculado a algum menino. Pressentimento de mãe. - Pode dizer.

- O que a senhora achou do Caio? - Questionou, e minha memória remeteu-me ao menino que foi em seu almoço de aniversário.

- Ele me pareceu um bom garoto, foi simpático, educado e muito fofo. - Respondi passando a mão em minha nuca. - Mas por que?

- O Caio me falou que... - Travou um tanto sem graça, e meus olhos automaticamente se semicerraram para ela. - Ele gosta de mim. - Sussurrou como se tivesse me contando a senha de algo.

- Gosta?! - Pigarreei olhando para outro canto, menos para seu rosto. Estava sem saber muito o que dizer. - E você? Gosta dele, filha?

- Acho que sim. - Confessou abrindo um sorriso sem jeito. Ela só tinha onze anos! Uma criança ainda. - O que eu faço?

- Não faça nada! Não, espera, quer dizer... cadê a Gi nessas horas? Filha, eu estou surpresa e sem saber o que dizer. - Murmurei escondendo meu rosto em minhas mãos. Sabia que ela ria de minha crise existencial. - Você quer namorar com ele?

- Não sei, não contei que gosto dele, não tive coragem, mãe. - Sorriu envergonhada, e comeu o seu doce. - Acha que fui boba?

- Acho que tudo tem o seu tempo e que ainda é muito nova para pensar nisso, no seu lugar eu daria tempo ao tempo e no momento certo o que tiver que acontecer, acontecerá. - Foi o máximo que consegui aconselhar, ela concordou e sentia meu coração galopear dentro do peito. - Não acelere seu tempo.

- Você está certa, mãe, eu ainda estou confusa se gosto mesmo dele. - Pegou o guardanapo para limpar sua boca. - Não quero beijar ninguém.

- Isso meu amor, continue assim, fico mais tranquila. - Brinquei, ela acabou rindo de meu desespero interno. Era tão madura. - Contará para a sua mãe?

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora