Escolhas

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"É só isso. Não tem mais jeito. Acabou, boa sorte. Não tenho o que dizer, são só palavras e o que eu sinto não mudará"

Marcela Mc Gowan.

Ouvir grande parte das cartas estava mexendo com todo meu emocional e ainda não tinha lido a única que me interessava, a carta de Gizelly estava em minhas mãos como se eu segurasse a pedra mais preciosa do mundo e mesmo que eu tremesse em antecipação por medo do que leria ali dentro, eu queria ler, queria sentir cada fibra do meu corpo reagir a suas palavras.

Por vezes pude sentir os olhos de Gizelly me examinarem, mas eu não conseguia olhá-la de volta. Não conseguia encará-la, pois tinha consciência que a morena tinha em sua posse minha carta. Algo executado por Lana e que me deixava feliz. Gizelly precisava sentir o que cada palavra escrita por mim significa para nós duas.

- Mari, eu não sabia... -Tentei abordá-la de alguma forma, mas eu não tinha palavras e as que vinham em minha mente não eram suficientes de qualquer maneira.

- Óbvio que você não sabia, Marcela! Foragidos não tem conhecimento de muitas coisas. - Cuspiu suas palavras me deixando atordoada.

- Essa raiva que você sente de mim ainda vai te corroer. - Retruquei no mesmo tom de indiferença. - Quando vai se permitir perdoar? Esse rancor não te levará a canto algum.

- Marcela, não tenho raiva de você! - Gritou abalando minhas certezas. - Só não quero dar espaço para me acostumar com a sua presença e depois te ver ir embora nos deixando novamente. - Minha expressão quebrou diante dela. - Só estou cansada em sofrer por você nos deixar de lado, só quero matar o afeto que sinto por ti e nossa amizade, assim não sentirei mais a sua perda. - Lágrimas caíam de seus castanhos. - Então não tente mais se aproximar de mim, pois eu não quero mais te ver sair da minha vida caso você entre mais uma vez nela.

- Eu não vou embora, Mariana! - Quase gritei. - Você deveria no mínimo tentar entender os meus motivos para ir morar em Nova York.

- Não são seus motivos e sim o que você nos causou. - Falou alto. - Se tivesse ido, mas se mantido presente mesmo com a distância, eu não me importaria, porém você foi e nos apagou da sua vida.

- Também houve reciprocidade quanto a não tentar se manter perto vinda de vocês. - Opinei beirando a indignação. - Agora simplesmente me sentenciam jogando toda a culpa de todos os acontecimentos ruins sobre mim, agem como se eu não tivesse sofrido e me acusam de ser o pivô dos males que atingiram a Gi. Por que a protegem e tentam me jogar no chão? Por que querem me ver mentalmente mal com a rejeição de vocês?

- Ninguém quer te ver mal, Marcela. - Manu interviu. - Apesar de tudo gostamos de você.

- Então por que não falam comigo? - Murmurei, chorando. - Estou me sentindo muito sozinha, estou deslocada e parece que gostam de me ver assim. - Desabafei. - Por que não me dão uma segunda chance? Qual o seu problema, o da Mari, o do Fe e Gizelly quanto a mim? Não veem que não aguento mais? Que não tenho mais forças para lutar contra a rejeição de vocês e não sei me aproximar? - Ninguém respondeu. - Não sou tão forte quanto pensam, e sabem qual o problema em fingir ser forte o tempo todo? É que as pessoas esquecem que tenho sentimentos e vocês esquecem que sou um ser humano. 

- O nosso problema é você sempre ir embora, Marcela! Entenda isso. - Mariana repetiu. - A Gizelly ficou em São Paulo mesmo não estando bem, ela foi contra o desejo da avó de mandá-la para o Canadá. - Falou por fim. - A Gizelly viveria lá junto com a Helena, mas preferiu ficar com a gente, ela não fugiu.

- A Gi mesmo destruída ficou e você foi para mais longe perdendo o contato com metade do grupo. - Manu colocou o rosto entre as mãos. - Nos piores anos que já passamos você não esteve ao nosso lado e não deixou estarmos juntos com você, então é por isso que a protegemos quando necessário e nos protegemos.

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora