Conexão

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Vocês lembram de mim ainda???

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"O problema é que queremos que as pessoas entendam como estamos nos sentindo, mas a verdade é que nem nós mesmos sabemos. O problema é que existem pessoas que se importam, mas não acreditamos em nenhuma delas. É uma espécie de paradoxo..."

Gizelly Bicalho.

Em uma noite chuvosa eu assisti pela primeira vez Querido John, não o culpo por no fim ter deixado Savannah. Mas por que as pessoas demoram tanto para irem embora? criam os laços, os amarram bem e depois vão para longe. Savannah ficou com o John uns meses, eles se amavam, porém no fim ela desistiu deles por dificuldades que poderiam ser vencidas e para pôr fim no que estavam construindo enviou uma carta para a base do exército americano onde o rapaz estava. Engraçado que o casal chegou a agonizar na própria incerteza se o que eles tinham era um relacionamento - e não era?

Daí Marcela me mandou mensagem depois de três semanas sem nos falarmos e eu me perguntei por que ela estava fazendo aquilo. Sabe? Cada atitude dela por uma tentativa de aproximação era suas mãos apertando meu pescoço e pressionando ele contra a parede. Durante muito tempo não quis nada comigo, eu já entendia essa parte, mas pareceu que só esperou eu seguir em frente para me procurar e isso me fez questionar, o que ela tem mesmo a me oferecer? Apenas incertezas e o medo de me deixar novamente.

Ela voltou, disse umas coisas bonitas, eu por um instante acreditei, mas no dia seguinte não tentou nada e é irônico porque não me mandou mensagem uma vez só, foi lembrar da minha existência logo após eu e o Gustavo anunciarmos que iríamos nos casar em quatro meses. Me vi obrigada a dizer - olha aqui, eu gosto de você e por isso mesmo não vou ficar ao seu lado - nesse ponto acho que sou mais forte do que antes, pois nunca abri mão de Marcela, e me vi fazendo isso - bloqueando qualquer resquício da sua luz na minha pele - e abriria quantas vezes fosse necessário.

Eu não gosto de me machucar, de ficar em estado de calamidade emocional por causa de pessoas indecisas. Ela colocou a mão no meu coração, fez amor comigo, no dia seguinte foi embora e em dez anos nada de sua volta. Quando retornou para minha vida me levou para conhecer aquele território obscuro dentro de seu ser, um lugar que quase nenhum outro habitou, me contou que tinha medo de me perder e que quase morreu no acidente, que tem se afastado de tudo que é muito íntimo formando uma contradição, mas que me queria e no dia seguinte, nada.

Mas qual é o ponto mesmo? qual é a questão envolvida nessa volta repentina? Eu sei que queria saber de mim, se estava bem, se a ansiedade já havia tomado conta do meu corpo por completo, se já a tinha esquecido. Sabemos que não. Marcela se tornou uma completa desconhecida, pisando no território mais perigoso de mim mesma, minha intimidade. E de repente percebi que Mc Gowan sabia como me envolver e tinha ciência de que ainda a amava, por isso nossa distância era necessária.

Aparentemente, seu fetiche era me entregar a sensação morna de que tudo bem estar confusa em relação às pessoas que entram e saem das nossas vidas a todo tempo e por isso não deveria conter o que sentia entregando-me a ela. Contudo eu não pensava dessa forma. E sabe por que não? Porque havia muita coisa envolvida. Existia trauma, medo, insegurança.

Eu estava com o Gustavo e o largar faltando tão pouco para subirmos ao altar seria brincar com o que existia de mais honesto e humano na outra pessoa, era perigoso demais. Pegar os sentimentos que Gustavo carregava e mudar de lugar, modificar, derrubá-lo no chão e ir embora, seria injusto. Talvez Marcela não queria entrar naquele jogo por mal, mas eu decidi não fazer parte dele. Não queria novamente chorar na cama com febre emocional, comendo todas as porcarias para me aliviar do terror que foi ser colocada de lado. Eu só não queria, nem poderia me dar ao luxo de permanecer amando Marcela até não me restar ar, vontade de viver, vida.

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora