Eclipse

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Gizelly Bicalho.

Eu estava vivendo as vésperas do meu casamento, mal conseguia dormir tamanha era minha ansiedade, sendo já de madrugada andava de um canto a outro no quarto e sabia que no dia seguinte meu maquiador teria trabalho para esconder as olheiras que seriam gritantes. Dizem que quando a mente está vaga abre-se espaço para o inadequado, certamente aconteceu comigo quando passei a pensar em Marcela.

Nos últimos meses ela enviou diversas mensagens, fez ligações e não parava de visitar minha avó, tanto por gostar dela quanto por querer me ver, tudo se tornou um incomodo para Gustavo que aguentava calado todas as tentativas de reconquista da loira.

Naquela altura do campeonato me permiti lembrar a primeira transa, as marcas que me deixou ainda se faziam presentes em minha alma. Ela foi a primeira pessoa que eu amei. Eu lembro como os meus olhos filmavam o seu sorriso de longe, havia em mim aquele desejo de eternizá-la, eu ainda não sabia o que era amar, mas eu senti todo aquele sentimento desconhecido me queimar por dentro, enquanto ela desaguava em mim. Eu a via como luz e busquei nela a minha salvação e me salvou por algum tempo não longo.

Naquele quarto lembrei que havia prometido escrever um poema para Marcela, de fato nunca o fiz e me senti disposta em tentar construí-lo. Eu me vi diferente, me vi entregue a escrever e revivi os momentos que se tornaram únicos. Eu a amei como nunca achei que amaria alguém, a quis como nunca imaginei que um dia iria querer um ser.

Eu me joguei, como quem não tem medo de se machucar, mas eu cai, ela sentiu o peso da culpa, eu a ouvi falar de amor, da dor e que me amava. Pediu desculpa, no fim de tudo disse que precisava ir, que não podia ficar. Eu tentei colocar tudo no papel que um dia a entregaria.

Primavera

O lugar onde criou morada e disse não ser capaz de habitar.

Um dia sentiu o vazio se fazer presente e resolver retornar.

Era tarde. Encontrou-me tranquila como uma manhã de domingo. No fim quis tempestade.

Com pensamentos fixos no seu ser, a noite da sua volta foi atormentada.

Mentalmente cansada tentei esvair como água que desce pelo rio.

Acabei buscando refúgio em um gargalo.

Es que o amor verdadeiro vai, mas cisma em voltar batendo na mesma porta.

Não fui capaz de abrir. Não dessa vez.

Pois abrir passagem era permitir novamente o encontro de almas - que talvez sequer tenham se separado.

Como compreender tal sentimento? Anos passaram-se e vivo permanece.

Marcela tornou-se um estado de estabilidade para meu ser.

Porém não mais a tenho e isso me entristece.

Na primavera agarrei-me a folha

Quando o outono chegou, ela caiu

E descobri que estaríamos juntas caso estivesse fincando-me em sua raiz.

Ah, sempre fui uma mera aprendiz.

Assim que acabei foliei meu diário, encontrei diversos textos e rabiscos, todos datados e acabei por ler o primeiro destinado a loira. Nunca conversamos sobre aquela noite do primeiro beijo, eu quis contar que no meio daquilo tudo, eu me via como uma estrela, tamanho era o brilho que exalava. Não imaginava um dia morrer ou explodir, jamais pensaria que o nosso amor viraria sinônimo de dor. De tanto relembrar resolvi descansar, no dia seguinte haveria um casamento, o meu.

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora