Página Virada

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Oi, gente. Estou trazendo nossa última passagem por essa história. Gostaria de agradecer todo o carinho que recebi ao longo dela, todas as palavras incentivadoras e gestos genuínos que foi dedicado. Os elogios sempre tão sinceros guardarei com muito amor e só posso agradecer ao tempinho que tiraram para isso, além dos que ficaram quietinhos acompanhando. Tentei trazer o melhor, tratar assuntos delicados e atiçar a sensibilidade geral, espero ter conseguido. Foram feitas muitas metáforas ao longo da história, com coisas complicadas de lidar, gostaria de explicar todos, mas imagino não ser possível. Portanto, espero que tenham captado pelo menos um. Enfim, obrigada e que não nos falte amor.

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"Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias

Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás"

Gizelly Bicalho.

2022...

O início do trabalho de parto é diferente para cada mulher. Algumas sabem imediatamente quando está chegando a hora, outras podem confundir o estágio inicial do processo com outras coisas, mas logo que comecei a sentir uma dor como cólica menstrual pela madrugada soube que Théo estava a caminho. Por um momento pensei em não acordar Marcela e movi-me na cama de um lado para o outro tentando encontrar uma posição confortável para o momento, mas tudo o que sentia eram pontadas absurdas revezadas entre minhas costas e abdômen.

As contrações ocorriam porque o meu útero estava se contraindo e relaxando ao mesmo tempo, ajudando a abrir o colo e empurrar o bebê para o canal de nascimento. Durante o estágio inicial do trabalho de parto, elas eram sentidas entre intervalos de quinze a vinte minutos, e quando eu era atingida fazia uma respiração bocal tentando dissipar a dor. Estavam durando em média de trinta a quarenta e cinco segundos, sendo que no ápice do meu desespero contava cada milésimo objetivando o fim.

- Marcela... - Chamei-a olhando para o teto e minha mão buscou seu corpo para balançá-la. - Marcela, pelo amor de Deus acorda... Má... - Mexia seu corpo enquanto resmungava ajeitando-se dentro da coberta. - Marcela... - Falei novamente já impaciente com sua sonolência.

Naquele momento não sabia o que me incomodava mais, se era o fato de eu estar deitada em uma poça por conta do estouro da bolsa, as contrações ou a loira não despertar do sono em que estava. Na verdade, talvez fosse o conjunto de tudo, mas assim que fui atingida por mais uma dor insuportável acabei gritando fazendo-a dar uma salto da cama totalmente assustada, em outras circunstâncias seria engraçado mas naquela para mim foi um alivio tê-la acordado de tal forma.

- O que foi, Gizelly? - Perguntou sentando-se com a mão no peito. - Isso é maneira de me acordar? - Coçou os olhos bocejando em seguida e encarou-me.

- O Théo, ele está chegando. - Falei tentando regular a minha respiração. - Preciso que me ajude a sentar, sozinha não consigo, minhas costas estão doendo muito. - Falei deixando uma lágrima solitária escorrer por meu rosto.

- Meu Deus do céu! - Exclamou descompensada levantando-se no mesmo instante. - Isso são horas, Théo. - Dizia dando a volta para auxiliar-me. Sentou-se na beirada do colchão puxando-me cuidadosamente para sua direção, percebi que ela tremia em nervosismo, mas tinha um sorriso bobo no rosto. - Oh, meu amor, venha cá. - Envolveu-me em seus braços assim que sentei e acariciou-me as costas. - Você não pode ficar aqui, está tudo molhado.

- Vai pro quarto de hóspedes e prepare a cama para mim, quando terminar venha me buscar. - Pedi dando um beijo em seu rosto. Sabíamos o que fazer, mas a ansiedade nos dominava de tal forma tornando cada ato inseguro. - Ele quer que o conheçamos hoje.

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora