Juntas

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Gizelly Bicalho.

Estava descendo as malas do segundo andar quando reparei em Marcela cortando um dobrado com Alessia, a menina queria levar algumas bonecas suas e a loira não queria permiti. Tentando persuadir a mãe, minha filha distribuía beijos por seu rosto e a cada um recebia mais um "não" fazendo-a bufar em frustação.

Era a última bagagem que levaríamos, as outras já estavam organizadas no carro para partirmos em direção ao aeroporto. Seriam mais de treze horas de voo e me preparava internamente para lidar com meu pavor diante da situação.

- Mamãe... – A pequena correu em minha direção e a peguei no colo quando cheguei no último degrau. - A senhora é tão linda, mamãe. Tão linda! – Exclamou passando a mão na lateral de minha face. - Deixa eu levar as minhas bonecas? Elas vão ficar tristes sozinhas.

- Filha, são muitas bonecas que você quer levar, acho melhor escolher uma e as outras ficarão sendo cuidadas pela Lu quando ela vier organizar a casa. – Informei, minha noiva aproximou-se para pegar a mala e levá-la para o carro. - O neném não é seu melhor amigo? Leva ele junto.

- É a neném, mamãe! – Rebateu cruzando os braços em minha nuca para manter meu pescoço envolvido. - Mas e as outas, mamãe?

- Elas irão ficar e vai ser até melhor, sabia? Pois estariam muito cansadas se fossem com a gente. – Disse enquanto a menina pincelava nossos narizes com as mãos em cada lado do meu rosto. - Podemos ir? Vou pedir a Lu que venha visitá-las mais tarde. É promessa, anjinho.

- Tá bom. – Concordou bufando no fim e deu-me uma espécie de selo abraçando-me em seguida. - Liga pra Lu agora pra ela vim, mãe.

- Ligo, mas agora temos que ir que estão nos esperando. – Caminhei até ao sofá carregando-a em meus braços, peguei o urso e entreguei a ela, em seguida busquei minha bolsa junto a da minha noiva. - Está feliz em ir para Londres, anjinho?

- Vou ver a tia Bia. – Um sorriso imenso estampou seu rosto ao dizer tal frase. - Tô com saudade dela, mamãe.

- Hm, tenho certeza que Bianca também está com saudade de você, filha. – Falei vendo-a assenti. Liz adentrou na sala para ajudar-me com as bolsas. - Já pegou todas as suas coisas, amor?

- Sim, a mamãe vai trancar a casa. – Avisou-me, passamos a caminhar em direção a saída para irmos para o carro. - Mãe vou sentar ao seu lado no avião.

- Como quiser, filha. – Passei a mão por seus cachos os arrumando. – Coloca o casaco que está frio.

Tínhamos pedido um carro para nos levar ao aeroporto, nosso voo era a noite, o horário foi escolhido para que as meninas dormissem durante todo o percurso, assim evitaríamos um agitamento da parte delas em virtude da ansiedade.

Em mim havia a ausência de Jamil, sabia o quão feliz ficaria caso estivesse conosco e notava em Marcela um desânimo após a volta de nosso filho para o orfanato. Quando falávamos de qualquer coisa, sendo a melhor possível, já não havia o brilho que tomava conta de seus olhos castanho-claros, ela sentiu muito o baque da partida e isso por os dois terem se tornado muito grudados, além de grandes cúmplices.

Ao longo do caminho Alessia demonstrava querer cochilar, para mantê-la acordada entreguei meu celular para que passasse a jogar e notava minha noiva no banco da frente olhando a paisagem do percurso enquanto fazia cafuné em Liz.

Mc Gowan chegou a comentar comigo sobre adiarmos a viagem, mas vi como melhor saída levando distração as crianças e a até nós mesmas, ficar em São Paulo não traria Jamil de volta no dia seguinte, precisávamos revigorar nossas forças para lutar pelo menino. Não abriríamos mão da criança que já era como de nossa família tão facilmente.

Entrelinhas | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora