18.Magia

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18 de Dezembro de 2008 - Etéria, Província de Ontário, CA.

Orfanato Horda.

As bolinhas heterocromáticas observavam frustradas os pingos colidirem violentos na janela de vidro. A chuva caía torrencial, impedindo a tradicional comemoração de aniversários das duas garotinhas, que consistia em conseguir o máximo de doces possível para levar até o esconderijo no relógio, e, se tivessem sorte, ganhar alguns restos de guloseimas gratuitos da simpática Sra. Eliza, dona de umas das melhores confeitarias de Etéria.

Mas a mudança de planos não as impedia de comemorar juntas, já que, como em todos os anos nessa exata data, Samantha Weaver havia saído antes do amanhecer; ela vestia as usuais botas pretas, combinadas com chapéu e sobretudo da mesma cor. Não era comum que a diretora deixasse o orfanato, as pequenas se perguntavam o porquê de o fazer sempre nesse dia. Talvez fosse sua forma de presentear Catra, deixar-lhe em paz por algumas horas, ou quem sabe visitava alguém.

Teria a mulher gélida, de cabelos negros e alma corrompida, filhos ou família?

Bom, para as garotinhas isso não importava realmente. Não quando poderiam desfrutar das poucas horas de sossego.

— Por que não podemos brincar na chuva? — a pequena questionou manhosa quando Adora voltou ao quarto, encarando o jardim molhado e não notando que a loira escondia algo nas costas.

— Senhora Weaver ficaria uma fera se descobrisse, sabe que é melhor não arriscar. — a maior lembrou, ao passo que Catra fez um bico e cruzou os braços.

— Isso não é justo, e a Weaver é uma chata! — a feição adoravelmente emburrada se desfez quando botou os olhos na loirinha, que sorria travessa com as mãos para trás. — O que tem aí?

Os bicolores fitaram atentos a aproximação da garota, adquirindo um brilho ainda mais curioso quando ela subiu na cama e sentou com as pernas cruzadas, sorrindo com a língua entre os dentes antes de começar a falar.

— É seu aniversário de dez anos, e eu queria que fosse especial... pelo menos um pouquinho. — explicou, fazendo a menor tombar a cabeça para o lado em confusão. — Estou juntando moedinhas faz um tempo, não é muito, mas aos poucos consegui algum dinheiro. — Catra estava a ponto de implorar para que ela parasse de enrolar, quando finalmente trouxe as mãos à frente. — Então comprei isso.

A pequena arregalou os olhos em surpresa com a visão do bolo confeitado, ele tinha detalhes vermelhos, e Adora sabia que era sua cor preferida. Vivendo num orfanato desde quando podem se lembrar, nunca tiveram o luxo de festas, balões, e muito menos doces caros ou bolos em seus aniversários. Mas suas íris azuis favoritas no mundo estavam ali, derretendo em carinho apenas por tentar proporcionar uma lembrança memorável em seus dez anos.

— Hm... sei que não é grande coisa mas-

A loira foi interrompida pelos movimentos ágeis da menor, que tirou o doce de suas mãos colocando-o para o lado, em seguida a abraçando com força quase desnecessária. Não que Adora se importasse, ela poderia facilmente morar naquele abraço pelo resto de seus dias.

— Obrigada por isso... esse é meu melhor aniversário. — murmurou baixinho e com a voz embargada, tentando concentrar no carinho que a outra fazia em suas costas para não deixar que as lágrimas caíssem.

— Por causa do presente?

— Não é só por isso... é porque foi você. Eu adorei a surpresa, mas acho que poderia me dar qualquer outra coisa e seria incrível do mesmo jeito. — Catra terminou sentindo as bochechas quentes, apertando a loira ainda mais para que não a visse corar.

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