02.Kickboxing

228 33 7
                                    

01 de Agosto de 2016. – Etéria, Província de Ontário, CA.

Último ano do colegial.

A camiseta dos Beatles amarrotada, os passos apressados pelas ruas de Etéria, e a fina camada de suor em sua testa denunciavam o atraso de Adora para o primeiro dia de aula na nova escola. Enquanto esbarrava em duas, três, ou quem sabe dez pessoas, praguejava a maldita insônia que a manteve acordada por grande parte da noite, fazendo-a despertar pela manhã com os gritos de Mara, quase uma hora atrasada.

Aparentemente voltar à sua cidade natal tinha intensificado os pesadelos que insistiam em assombrar seu sono nos últimos três anos, sempre os mesmos: seu pai chamando-a de princesa enquanto a girava no ar com o maior sorriso do mundo, esse era nostálgico; tinha também o que ela apenas escutava os gritos de sua mãe, não haviam imagens, apenas um borrão preto e a sensação de impotência, esse era cruel; e o que uma garota com olhos de cores diferentes a encarava, sorrindo largo e logo depois correndo para abraçá-la, esse Adora não entendia. O médico disse que ela deveria aprender a viver sem os remédios, mas quando acordava suando frio no meio da noite, a cartela de comprimidos amarelos era tudo o que mais queria.

— Finalmente! — sua voz saiu ofegante pela corrida recente, se curvando com as mãos nos joelhos para regular a respiração em frente aos enormes portões. — Droga! — para então perceber que era tarde demais, estavam fechados.

— Atrasos não costumam ser recorrentes no primeiro dia. — congelou com a voz em suas costas. — Devo me preocupar?

— Ugh... Meu nome é Adora, senhora. — se virou envergonhada, ajeitando a postura, ficariam cara a cara se a mulher não fosse tão alta. — E não precisa se preocupar, não haverão mais atrasos. — coçou a nuca, desviando o olhar quando a figura altiva ergueu uma sobrancelha em sua direção. — É que cheguei na cidade faz pouco tempo, e-

Antes que pudesse terminar seu pedido de desculpas desajeitado, foi interrompida pelo barulho alto da porta do carro sendo fechada com força quase exagerada.

— O que foi, mãe? — viu surgir atrás da mulher uma menina baixinha, cabelos curtos num tom de lilás, e roupas... brilhantes demais? — Ah, hey! Você deve ser um dos novatos. — concluiu ao não reconhecer o rosto da loira. — Glimmer, filha da sargentona aí — indicou a mais velha com a cabeça, sendo repreendida por um olhar atravessado. — é um prazer.

— Ahn, Adora. — murmurou, demorando alguns segundos para reagir corretamente à mão estendida da garota, ainda intimidada pela presença da mulher.

— A "Senhora Diretora" já deve estar te assustando. — fez aspas com os dedos e a loira engoliu em seco com a informação, sua primeira impressão com a diretora não seria das melhores. — Mas você é nova e todo mundo já se atrasou alguma vez na vida! Vem, vamos entrar e te ajudo a achar sua sala.

Adora agiu no automático ao concordar, os olhos azuis levemente arregalados em medo enquanto esperava a mais velha abrir os portões, seguindo ao lado de Glimmer como se fosse seu escudo humano.

— Espero que não se repita, Adora. — a diretora advertiu ao terminarem de subir as escadas na entrada do edifício, fazendo a menina emitir um balanço de cabeça frenético em afirmação. — Minha filha irá te mostrar o local. Seja bem-vinda à Bright Moon. — foi o que disse antes de sair pelos corredores vazios, apenas o barulho de seus saltos ecoando à medida que se afastava.

— Hey, relaxa, ela tá só mantendo a pose de durona. — a mais nova tranquilizou. — Então, veio de onde? — tentou quebrar o gelo, mal percebendo quando Adora fez uma careta. Seu passado não era um de seus tópicos preferidos para uma conversa.

Seven YearsOnde histórias criam vida. Descubra agora