11.Déjà-vu

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— Eu juro que se você não me colocar no chão agora, nunca mais vai ver a luz de outro dia! — a loira prendeu uma risada com a frase de Catra, meio difícil soar ameaçadora quando mal consegue falar sem arrastar metade das palavras.

— Ok, eu te solto. — a menor parou de se debater — Mas tem que prometer não tentar fugir. — bufando em seguida.

— Não vou prometer nada pra você! — ralhou soluçando, para depois se distrair com a luz piscante de um poste.

— Vamos, se não posso te deixar com mais ninguém, preciso levá-la comigo. — encarou os olhos bicolores levemente perdidos, efeito do álcool. A mente bêbada de Catra se viu num beco sem saída com àquelas bolinhas brilhantes e pidonas sobre si, sempre fora incapaz de negar algo às orbes azuis.

— Tá, eu não vou fugir. — virou o rosto quando a mais alta sorriu vitoriosa. — Insuportável.

Um movimento brusco e seus coturnos tocavam o chão outra vez, abraçou o próprio corpo quando a friagem da madrugada lhe atingiu, inconscientemente sentindo falta do calor do corpo de Adora. A blusa preta de manga longa e gola alta ainda molhada de vodka com suco de uva.

— Está com frio? — o queixo batendo de leve, e o movimento incessante das mãos pelos braços não passaram despercebidos pela loira.

— Uma idiota derrubou bebida em mim. — resmungou, ao passo que Adora fez uma careta culpada, enfim reparando na mancha de cheiro forte no abdômen da morena.

— Desculpa por isso. — não hesitou em ficar apenas com a camiseta branca, envolvendo sua camisa vermelha xadrez de flanela nos ombros da garota, que sobressaltou com o ato.

— O qu- sai fora, Adora! — tentou inutilmente se esquivar do pano, quase caindo se não fosse pela mão da loira em seus ombros.

— Fica com ela, vai acabar resfriando se não se agasalhar. — os malditos olhos azuis de novo, Catra cogitou a possibilidade de aquilo ser algum tipo de bruxaria.

— Só porque você manchou minha blusa, merece mesmo passar frio. — Adora gargalhou, fazendo o estômago da mais nova saltar enquanto era tomada por uma sensação nostálgica e estranhamente boa.

— Acho que tem razão, eu mereço.

As garotas andavam lado a lado pelas ruas desertas, apenas o sons de seus passos e dos animais noturnos impedindo total silêncio. Adora fazia o que pensava ser certo, se deixando levar pelo extinto protetor, mesmo que uma voz irritante no fundo de sua mente insistisse em questionar até quando duraria o comportamento pacífico de Catra; provavelmente o mesmo tempo que o álcool demoraria para deixar seu sangue. A festa aconteceu relativamente longe de onde a loira morava, já que o plano inicial era dormir na casa de Glimmer, e se dependesse da morena de olhos bicolores alcançariam o destino após amanhecer, mal conseguia dar um passo sem tropeçar ou cambalear.

— Se apoia em mim, assim chegamos mais rápido. — disse após uma quase queda de Catra por tropeçar em pedras invisíveis, ou seja, em nada.

— Não quero. — murmurou fazendo birra.

— Tá tudo bem aceitar ajuda às vezes, sabia? — perguntou retoricamente, concluindo que a morena não havia mudado em nada no quesito teimosia.

— EU NÃO PRECISO DA SUA AJU- — perdeu o equilíbrio antes que pudesse terminar de gritar a frase, sentindo seu corpo ser impulsionado para frente em direção ao asfalto.

Dez a zero para os obstáculos invisíveis.

— Catra! — segurou a garota de maneira desajeitada, impedindo-a de ter um encontro nada agradável com o chão. — Não precisa de ajuda, né? — lembrou firmando os pés da menina, logo vestindo corretamente a manga esquerda da camisa xadrez no braço magro, fazendo-a se apoiar em seus ombros enquanto rodeava a cintura morena. — Pronto, agora não cai mais!

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