Charlie

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"Quero que você se divirta". Fiquei repassando mentalmente essa frase um milhão de vezes, por que eu disse isso? Eu queria dizer totalmente o contrário, não que eu não quero que ela se divertia. Eu quero. Mas não com Dexter. Quero que ela se divirta comigo e não me importo de estar sendo egotista, eu sei que estou.
Eu viajo no outro dia de madrugada para San Francisco para gravar umas músicas da série. Eu deveria estar dormindo, mas ao invés disso eu estou aqui na frente da Tevê passeando por todos os canais na esperança de achar qualquer coisa para assistir. Qualquer coisa que me tire dos meus pensamentos.
Por volta da uma da manhã, quando meus olhos já estavam implorando para fechar e eu estava quase cedendo, ouço Addie entrar e me forço para não olhar para ela -o que era praticamente impossível porquê porra, como ela estava linda aquela noite.
Ela tira as sandálias e se senta comigo soltando um gemido de alívio.
-Não era pra você já estar dormindo? -ela pergunta apoiando a cabeça no encosto do sofá e olhando para mim.
-Era -encaro ela, parece meus olhos tem vida própria pois eles contrariam meu cérebro. - Como foi o encontro? -pergunto tentando parecer o mais interessado possível.
Ela dá de ombros.
-Legal... Só que -ela dá outra pausa - Dexter é um cara legal.
-E vocês ficaram?
Pergunto olhando para as luzes estáticas na minha frente e de reflexo vejo virar mais o corpo para o meu lado.
-Não, não ficamos.
Ela não estava mentindo, sei quando está. Ela não está mentindo agora.
-Por que não? Ele não é um cara legal? -assim que pronuncio essas palavras percebo que fui até meio babaca.
Ela bufa.
-Ele é, mas não é você.
As palavras dela me estremecem por dentro, sinto uma fagulha se acender no meu peito. Engulo a enorme bola na minha garganta e me forço a olhar para aqueles olhos escuros com um formato felino que estavam vítreos em mim. Sua expressão era leve, cheia de ternura.
-Ele não é você, Charlie -ela insiste por causa da minha falta de resposta.
Eu queria dizer tantas coisas mas nada, eu não conseguia dizer nada.
Ela se aproximou mais, segurou o meu rosto, e finalmente seus lábios tocaram os meus, aqueles lábios macios e carnudos dos quais eu senti tanta falta.
Enquanto a língua dela percorria o céu da minha boca me dei conta do que estava acontecendo e puxei o seu corpo delicado para mais perto, com uma das mãos na sua cintura acaricie seus cabelos com a outra. Eu estava eufórico, extasiado. O tempo passava devagar; o tempo voava. Mas eu queria mesmo é que ele paralisasse ali, naquele instante. Somos feitos de instantes. E esse instante agora estava no topo da minha lista de melhores.
Ela terminou o beijo com um selinho e sorriu, apenas a televisão iluminava o ambiente, eu enxergava fleshes dela, o cabelo desgrenhado com alguns fios soltos cobrindo o rosto e aquele vestido que desenhava o corpo dela me fazia ter vontade de tirá-lo, um desejo me consumia, mas isso era Addie, ela nunca te dava mais que aquilo que quisesse no momento, mais do que ela achava que era necessário. Era o seu mistério. E eu particularmente, adoro esse jogo. E quero jogar.

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora