Addie

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Recebi alta e fui para a casa. Eu não estava mais grávida. Me ofereceram terapia, me disseram que em três meses eu poderia tentar novamente mas eu definitivamente não ligava para nada do que estavam falando, eu não queria fazer terapia, não queria tentar de novo, eu nem queria ter um filho agora. Mas mesmo assim, o luto e a dor de perder essa criança que nem mesmo veio ao mundo era insuportável. Mas era ainda mais insuportável olhar para Charlie e ver a tristeza no rosto dele. O sentimento de tê-lo decepcionado é inevitável e mais uma vez estou me culpando, culpando a droga do meu corpo por ter espontaneamente colocado meu filho para fora antes do tempo.
-Você quer alguma coisa? Está com fome? -Charlie pergunta e eu faço que não com a cabeça.
-Tudo bem, vou deixar você sozinha, se preferir.
-Não quero ficar sozinha -respondo engasgada, há uma bola enorme na minha garganta.
Uma bola composta por choro, angústia e luto.
Ele se deita ao meu lado e ficamos de frente um para o outro, ele parece estar tentando ler minha mente ao passo que tento decifrar a dele.
-Me desculpa -sussurro.
-Pelo que?
-Sei como estava feliz e animado com a ideia de ser pai.
-Addie -ele se aproxima depositando um beijo em minha testa - nem pense em se desculpar, ok? É normal acontecer isso nos primeiros meses, você não teve culpa.
Respiro fundo.
-Eu sei que minha vida mudou muito desde que saí do Canadá. Eu fiz muitas coisas das quais eu me arrependo, e infelizmente Michael não mentiu...
-Você não precisa se explicar, amor. -ele me interrompe
-Preciso, preciso sim -continuo ignorando os gestos negativos que ele fazia- Quando eu perdi o Pete, perdi também a minha vontade de dar continuidade em qualquer coisa, eu me perdi. Foi quando conheci ele e tudo desandou, eu apenas sobrevivi por quatro longos meses. As drogas e o álcool me moviam porque eu só não queria sentir nada, não queria ficar sã e lidar com nada daquilo -uma lágrima escorre no meu olho.
-Tudo bem, tudo bem -ele me abraça
-Eu entendo se a minha bagunça for demais para você. De verdade, eu vou entender.
Ele me olha com inconformidade.
-Eu sinto muito por tudo o que você passou, mas eu te amo muito para tornar isso algum pretexto para não estar com você -ele sorri e isso me faz sorrir também- Sempre amei você e sempre vou amar, você é minha melhor amiga.
Meu coração se acalma com essas palavras. Charlie é genuinamente bom, bom para qualquer um que tenha o privilégio de o conhecer. Ele é bom para mim. Ele é um ser humano muito melhor do que eu jamais serei.
-Também amo você -respondo

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora