Addie

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Agosto de 2011

A garrafa estava girando e parou com a ponta virada para Charlie, Bethany sorriu maliciosa e perguntou:
-Verdade ou desafio?
Eu sempre achei que que essa garota era má demais para a idade que tinha.
-Verdade -Charlie respondeu todo tímido
-É verdade que você gosta da Addie?
Ele pigarreou e sua pele ficou escarlate, eu podia sentir a vergonha o consumir. Mas como a pergunta se tratava sobre mim, também comecei a sentir meu rosto queimar.
-D-desafio -ele mudou
-Tá bem, então eu desafio você a dar um selinho... nela -a filha da mãe apontou para mim.
Em uníssono todos os presentes começaram a gritar "beija beija". Minha cara que já estava queimando levemente começou a ser tomada totalmente pelo fogo. Eu nunca havia beijado ninguém antes. Charlie era meu amigo, meu melhor amigo.
Ele se aproximou de mim devagar.
-Posso? -ele perguntou baixinho
Fiz que sim com a cabeça e fechei meus olhos, não era bem assim que eu estava esperando que fosse meu primeiro beijo. Mas se tem uma pessoa no mundo com quem eu não me importaria de estar fazendo isso, é Charlie.
Então nossas bocas se tocaram, foi um selinho longo e estranho. Mas estranho de um jeito bom. Ele se afastou correndo e depois de várias expressões calorosas de nossos colegas, o jogo prosseguiu normalmente.

Me mudei para a casa ao lado de Charlie aos quatro anos de idade por causa do meu irmão recém nascido, e assim que eu soube que nossos vizinhos tinha muitos filhos fiquei contente por ter alguém para brincar, Charlie era uma criança assim como eu, e muito, muito sorridente. Fomos criados quase como irmãos, tínhamos a mesma idade e sempre fomos da mesma sala, ele me defendia quando algum menino puxava o meu cabelo ou roubava minha comida no recreio. Passamos todas às tardes de quase dois anos no quarto dele escutando música e ele me ensinando a tocar violão. Andávamos de bicicleta nos dias quentes e a mãe dele fazia cookies nos dias frios. Eu não conhecia um mundo sem Charlie, sem o meu ombro amigo. Mas depois desse dia na casa na Bethany onde demos o nosso primeiro beijinho, as coisas ficaram diferentes. Ele já não aparecia na minha casa de manhã para me esperar ficar pronta, e também ficava me evitando na escola. O que me deixou extremamente brava. Confrontei ele depois de uma semana e ele me disse que não podíamos mais ser amigos porque ele estava gostando de mim. Eu chorei a tarde toda aquele dia.
Dois meses depois era o meu aniversário de quatorze anos e novamente Bethany teve a brilhante ideia de fazer a brincadeira "Sete minutos no paraíso", me mandaram vendar os olhos e entrar no armário, logo depois, Charlie entrou também, à essa altura estávamos sem nos falar por todo esse tempo, minha raiva ainda não tinha passado, mas eu era boba demais para admitir que também gostava dele. Tirei a venda dos olhos e ele novamente me perguntou se podia avançar, eu deixei e dessa vez nos beijamos de verdade. Meu coração disparou. Bendito seja o sorteio deles que trouxe Charlie Gillespie para esse armário.
Ficamos os sete minutos nos beijando, eu não queria que aquele momento acabasse. Ele beijava bem para um menino de quatorze anos que nunca tinha beijado ninguém de língua. Era delicado, gentil. Eu não conseguia imaginar um cenário melhor. Principalmente porque depois disso voltamos a nos falar normalmente, sempre encontrando momentos para trocarmos alguns beijos escondidos, e eu até deixei ele colocar a mão na minha bunda uma vez.
Entretanto, ao passo que isso acontecia, o casamento dos meus pais ruía, eu não entendia direito o que estava acontecendo, mas mamãe chegou em casa e me disse com calma que papai e ela não ficariam mais juntos, que ele iria se mudar e nós também. E foi a segunda vez que eu chorei descontroladamente.
1-Papai e mamãe estavam se separando.
2-Eu iria mudar do Canadá para Califórnia.
3-Eu iria deixar para trás o meu melhor amigo. E a pessoa que eu amava.
Depois que me acalmei, pedi para que mamãe não dissesse nada para Charlie, e pedi para que ela esperasse o baile de inverno para irmos embora. Vários meninos tinham me chamado para ir, até mesmo Keith tinha me chamado, ele era o menino mais bonito da nossa série, o mais descolado também. Mas eu não aceitei, em vez disse, chamei Charlie para ir comigo. Queria fazer nossa última noite ser especial. Eu planejava contar no final que eu iria embora; nós dançamos a noite toda, e foi até a primeira vez que bebemos ponche batizado. Depois saímos lá para fora e era minha chance de contar, mas não consegui olhar nos olhos dele e dizer que amanhã eu não estaria mais lá. Então apenas abracei ele e disse o quanto ele era importante para mim, e o quanto eu amava. No dia seguinte eu estava na Califórnia e nunca mais nós nos falamos.

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora