Charlie

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Resolvo ir mais cedo para a casa. Desde que Addie me beijou naquela noite nós não nos vimos e eu mal pude ligar para ela por conta das gravações. Então aproveito que já estou liberado e resolvo ir embora sem avisar para fazer uma surpresa para ela. Chego no apartamento por volta das nove da noite, como era quarta Addie já devia estar em casa; abro a porta e me deparo com o vazio, subo as escadas tudo está calado e escuro, exceto pela luz do abajur no quarto dela. Como a porta estava entre aberta tomo a liberdade de não bater, mas ela também não estava no quarto. Ando até a varanda e a primeira coisa que vejo é uma garrafa de vodka vazia jogada no chão, ao lado estava Addie bebendo no bico outra garrafa olhando para a vista da praia. Mas seu olhar era tão vazio que eu duvido que ela estivesse realmente prestando a atenção em alguma coisa.
-Addie? -falo baixo para não assusta-la
Em vão. Ela se assusta e se vira pra mim.
-Charlie, oi -sua voz estava arrastada - achei que você só chegaria amanhã.
Ela estava totalmente bêbada.
-Você bebeu isso tudo? -segurei a garrafa  jogada.
-Me desculpa -ela baixou o olhar.
Me agachei e me sentei ao lado dela.
-Quer me contar o que aconteceu?
Silêncio e outro gole.
-Addie conversa comigo, sou eu, Charlie.
Essas palavras causaram algum efeito nela, pois lágrimas começaram a rolar de seus olhos. Era um choro de puro sofrimento. Eu a abracei com força para que ela se sentisse segura de alguma forma.
-Eu matei ele, Charlie -entre muitos soluços- Eu matei o Pete.
Pete está morto?
-Eu bati a droga do carro e matei ele -ela continuou em completo desespero.
-Calma Addie -acariciei as costas dela na esperança de tentar acalma-lá um pouco.
Ficamos ali abraçados tempo suficiente para ela retomar algum controle. Guardei o resto da vodka que tinha sobrado e e carreguei ela até o banheiro. Precisava diminuir o porre dela. Apoiei ela em mim e liguei o chuveiro, deixei que a água fria caísse sobre ela que mal parava em pé. Depois de desligar, peguei uma toalha e sequei ela, por mais que eu quisesse ver ela nua, não era daquela forma, porém precisei tirar a roupa dela e colocar umas secas. Ela estava tão vulnerável que nem hesitou. Deixei ela descansar no sofá enquanto ainda chorava e preparei um macarrão instantâneo que era mais rápido. Levei para ela e a fiz comer um pouco.
Mais tarde quando ela já estava um pouco melhor, levei ela para a cama.
-Fica comigo -ela pediu segurando meu braço
Assim eu fiz, me deitei ao lado dela e a envolvi nos meus braços. Um silêncio se instaurou e eu pensei que ela tivesse dormindo, mas não.
-Hoje faz dois anos que ele morreu -deixei que ela contasse - Ele recebera a notícia de que havia sido aprovado na faculdade e resolvemos comemorar, juntos. Como sempre foi. Fomos a uma casa afastada da cidade para uma festa com os amigos dele, como eu estava dirigindo não bebi nada aquela noite -um choro apareceu de novo, mais silencioso dessa vez. - Eu estava tão feliz por ele Charlie, tão feliz -ela puxou o fôlego- Na volta estávamos cantando, rindo, fazendo planos... Mas um carro perdeu o controle e atravessou a pista, na tentativa de desviar eu também perdi o controle e capotei na ribanceira -ela parou para tentar controlar as lágrimas e eu não controlei as minhas que desceram junto as dela - Ele morreu na hora. E a culpa foi minha, não vi a porra do carro e ele está morto.
Abracei ela com mais força porque eu não sabia o que dizer, só sabia que a culpa não era dela. Ela precisava entender isso também. Segurei o choro que insistia em continuar e resolvi dizer algo.
-Addie, a culpa não foi sua, ok. Não precisa carregar isso com você. Eu sinto muito por isso, de verdade. Mas aconteceu, não dava pra fazer nada.
-Você não entende Charlie, não entende -ela começou a contorcer e eu a segurei -
-Calma, calma, tá tudo bem, vai ficar tudo bem...
-Ele era minha vida, ele não realizou nada, nenhum dos seus sonhos... Eu matei as chances que ele tinha.
Aquilo foi doloroso de ouvir, e eu não tinha nenhuma palavra de conforto para mudar a opinião dela. Não agora. Apenas fiquei ali, até ela pegar no sono, tentando processar tudo. Addie não merecia passar por isso. Pete não merecia o final que teve.

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora