Addie

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Um fio de suor percorre minha coluna até a altura da cintura, tem tantos papéis na minha frente que já não consigo diferenciar o que é redação ou sei lá, lixo. O tic tac do meu relógio de pulso me lembra que ainda faltam três horas para eu sair desse escritório e respirar ar puro, e isso me desespera, de verdade.
-Hey, ma belle
Elliot debruça sobre os papéis e me encara, dessa vez sinto uma pontada de felicidade. "Por favor me chama para um café, por favor", eu penso.
-Que tal um cafezinho?
Ufa
-Claro -respondo com um sorriso
Saímos para fora daquele prédio imenso, minhas mãos estavam suadas e meu coração parecia prestes a sair pela boca.
-Você está bem? -ele perguntou enquanto esperávamos o sinal para atravessar
-Estou -forço um sorriso e ele descarta minhas palavras.
Seis meses e ele me conhece tão bem.
Na verdade, ele é o único aqui, ou em qualquer lugar que me conhece como sou hoje. Elliot estava tirando fotos de umas modelos para a capa do mês no dia em que eu cheguei, ele me olhou e eu pude jurar que seus olhos brilharam, ele pegou minha mão no fim do expediente e me disse que eu era mais bonita que qualquer uma que ele já havia fotografado. E não era uma cantada, considerando que em uma festa nós dois procuramos o mesmo sexo para "atacar". Aquilo foi real, ele se apaixonou por mim de uma maneira pura. Eu elogiei o cachecol que ele estava usando porquê realmente era incrível, dali pra frente ele passou a me chamar de "ma belle" e nunca mais desgrudamos. Deixei que ele soubesse mais de mim pois ele me contou mais e mais sobre ele, foi uma troca, foi recíproco. Definitivamente o melhor amigo que eu tive em anos. E é por isso, que ele sabia que se eu não saísse daquela sala naquele instante eu iria explodir.
-Café com o que, ma belle?
-Puro, e forte.
Respondi desviando meus pensamentos um pouco.
Ele pegou os nossos cafés e nos sentamos em uma mesa a ao ar livre por quinze minutos, que era tudo o que tínhamos.
-Você vai trabalhar hoje à noite? -me olhou
-Vou, infelizmente
-Por que você só não sai de lá?


-O dinheiro é bom, me ajuda no fim do mês. -me limitei responder apenas isso na esperança de que ele não tocasse mais no assunto. Mas ele tocou...
-Você sabe que eu posso te ajudar, se precisar, não sabe?
-Eu sei meu amor, é só que, eu me viro.
Ele deu de ombros nada satisfeito e terminamos de tomar nosso café. Voltamos lá para dentro e finalmente  o dia acabou e eu voltei para o meu apartamento, literalmente correndo. Tomei um banho, me vesti e corri novamente, dessa vez para Sunset Boulevard, mais especificamente "The Queen's", o bar onde eu trabalhava.
-Que bom que você chegou, Travor está te procurando! -Cassie me cumprimentou com um abraço que eu retribui e fui logo até Travor.
-A Cassie falou que você precisa de mim, o que foi?
Ele estava atrás do balcão contanto umas notas e sem me olhar, respondeu:
-Sim, você vai cantar hoje, o cara que ia se apresentar ficou doente. -falou.
-O que? Hoje, eu...
-Qual é Addie, você já cantou antes -disparou ele me interrompendo - Além do mais, se me fizer esse favor eu te dou um dinheiro extra.
Assenti com a cabeça e respirei fundo.
-Quantas músicas?
Ele finalmente olhou pra mim.
-Cinco está bom. Pode combinar com a banda da casa. E por favor, nada muito melancólico.
Ótimo. Eu ia ter que cantar. Mas cantar o que? Esperei a banda chegar e combinei com Tommy, o cara da guitarra algumas músicas que davam para improvisar e fiquei atrás do palco tentando controlar meus batimentos e minha respiração até chamarem o meu nome. E então, chamaram. Apesar de meu corpo todo fazer força para ficar imóvel eu juntei toda coragem e subi, sem olhar a plateia cocei a garganta e esperei que os caras começassem os acordes, e somente quando eu cantei os primeiros versos de Black, olhei para as pessoas diante da luz ofuscante que iluminava, na esperança de encontrar um rosto conhecido. E eu encontrei. Encontrei o rosto inesperado e oito anos mais maduro de Charlie Gillespie.

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora