Charlie

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Depois de ligar para Addie e ela aceitar meu convite para um almoço, me vesti, com uma calça preta rasgada e uma camiseta de banda, estilo que roubei do Luke, peguei o carro e dirigi até o restaurante. Escolhi uma mesa ao ar livre pois o dia está bonito, e fiquei esperando ela chegar enquanto folheio o cardápio prestando zero atenção nele. Eu estou nervoso, por algum motivo a presença de Addie ou a expectativa de estar na presença dela me deixa ansioso.
Depois de quase vinte minutos eu a vi saindo do táxi, com um sorriso enorme na boca, me fazendo sentir um idiota por ter ficado nervoso. Era fácil demais estar com ela, essa é o problema, porque quando ela vai embora, fica um vazio. E como ela gostava de dizer, somos apenas instantes. Sendo assim, eu gostaria que os instantes perto dela durassem uma eternidade.
Ela se sentou de frente para mim, fizemos os pedidos e ficamos conversando, eu não pude deixar de reparar que apesar de não transparecer ela está nervosa, mas com o que?
-E como estão seus pais? -perguntei
-Bem, meu pai se casou de novo e minha mãe também -ela tomou um gole da água - da pra acreditar que eles tiverem mais filhos? -ela tirou o celular e me mostrou Daisy, a sua irmãzinha de três anos.
-Ela parece com você, o cabelo e esses olhos espertos... -ela sorriu assentindo- E o Pete? Deve estar enorme, lembro dele criança correndo na rua de casa. -aquele garoto era grudado na Addie, fica morto de ciúmes quando eu estava na casa deles.
-É -ela deu um pigarro - ele está enorme...
Algo na expressão dela mudou ao responder sobre ele, eu quis perguntar o que era, mas preferi deixa-la à vontade para conversar quando quisesse.
Ela me contou também que está trabalhando numa revista como assistente de Lorelay Howard, e eu fiquei impressionado, aquela mulher era a elite dos jornalistas. Ela quis saber tudo sobre o meu trabalho na Netflix e como estava sendo, e foi ótimo responder para ela, porque Addie sempre foi assim, interessada em tudo, nada passava despercebido por ela e eu sempre gostei de compartilhar cada detalhe.
-E onde você está morando? -perguntei mantendo um tom tão interessado quanto o dela.
-É, então... Por enquanto estou morando em um apê no centro, mas -ela parou um segundo, parece estar criando coragem para dizer algo - Eu acabei de ser despejada.
Como ela consegue falar dessas coisas e ainda assim manter o bom humor?
-Despejada, sério?
-Sério, ser estagiária não dá muito dinheiro. Nem ser garçonete. -ela desviou o olhar e brincou com as ervilhas no prato.
Pensei por tipo cinco segundos e decidi pronunciar minhas próximas palavras:
-Se você quiser, tem um quarto vazio no meu apartamento, você pode ficar lá até achar outro lugar... se quiser.
Os olhos dela se ascenderam como uma faísca e o lado inferior do seu lábio se curvou em um sorriso.
-É sério? De verdade mesmo?
-Sim -respondi - quer dizer, acho que seria bom não ficar sozinho, as vezes pode ser bem solitário -dei uma ênfase maior no "bem", brincando.
-Charlie, eu não sei como te agradecer, mas... você tem certeza mesmo do que está dizendo?
-Addie não somos estranhos um para o outro, tenho certeza sim... e, eu moro em Venice, é perto do prédio que você trabalha, acho que isso seria bom pra você também, não seria?
-Aí meu Deus, sim, sim -ela passou as mãos entre os cabelos e segurou a minha mão fazendo meu corpo gelar em reação ao seu toque - obrigada.
-Não tem de quê -sorri de volta para ela.
Contrariando minhas vontades internas ela soltou minha mão. Nós terminamos o almoço, me ofereci de levar ela em casa, mas ela não aceitou, então esperei o táxi dela chegar e nos despedimos. Mas dessa vez eu sabia que a veria de novo.

ALWAYS BEEN YOU | CHARLIE GILLESPIEOnde histórias criam vida. Descubra agora