Capítulo 7 - O leão e a pomba

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          Provavelmente aquilo não passava de uma canção ancestral. Sua mente estava exausta. Diversas informações, mas nenhuma que realmente ajudasse a salvar o reino. Caleb reclina-se na cadeira, e passa a olhar para o teto. Fica assim por longos dez minutos, que mais pareciam horas.

          De repente, como se alguém o despertasse de um sono, o rei passa a observar com mais atenção os detalhes entalhados no teto de mármore. Eram... animais? Sim, e haviam diversos, de todos os tamanhos e tipos.

          A essa altura, Caleb já havia esquecido do que lera no livro de seu avô. Até que percebe, em um canto do teto, o entalhe de um leão. A criatura estava deitada, como se estivesse descansando; mas sua cabeça estava erguida, e os olhos direcionados a outro ponto do teto.

          Seguindo a direção daquele olhar, o rei percebeu na outra extremidade o entalhe de uma ave. Uma pomba. Ela estava com as asas abertas; bem, na verdade, com uma asa aberta. A outra fora quebrada, ou talvez tenha caído com o tempo.

          - O leão observa ao longe uma pomba que tenta voar... - sussurra - mas como pode alçar vôo com uma asa quebrada...

          A escritura se encaixa... Caleb começa a imaginar se aquela seria a pista de seu avô para a localização de Zaruach Gachar.

          - Não se esforce tanto... - continua - apenas descanse e cuide do que aos seus pés esconde...

          Aos seus pés esconde... Volta o olhar aos pés da ave. Não há nada lá. Decide olhar mais de perto; anda até a parede, e para bem embaixo do entalhe. Encara-o fixamente, até perceber que entre as patas há algo que parece solto.

          Caleb pega uma cadeira, e sobe para tentar alcançar as patas da pomba. Depois de algum esforço, consegue remover um pequeno amuleto de ouro. E, limpando um pouco a poeira com os dedos, percebe que há algo lavrado na pedra.

          Já era de noite, então a má iluminação o impede de decifrar o que está entalhado. Ele desce rapidamente, e dirige-se à mesa, onde há uma pequena luminária, para enxergar melhor.

          Aproximando o achado da luz, Caleb consegue enxergar, em um dos lados do amuleto, alguns formatos... familiares. Era um mapa. Os desenhos não eram tão precisos, mas comparando com outro que estava sobre a mesa, o rei percebe que o pequeno entalhe representa a região norte do reino.

          Outro detalhe, então, lhe chama a atenção. No meio do que seria a representação da densa floresta que há ao norte de Enderlik, haviam palavras, possivelmente um nome. Caleb franze a testa, tentando ler.

          Zaruach Gachar

          Era isso! Aquela era a localização da caverna brilhante! Seu avô provavelmente a entalhara antes de falecer. O coração do rei exulta; Deus ouvira sua oração mais uma vez! Empolgado, Caleb sai da sala às pressas, sem ao menos terminar de ler o que Melchior escrevera sobre a mina em seu diário.

          "Entretanto, por trás da beleza, há um terrível perigo abrigado em Zaruach Gachar, muito pior do que as invasões estrangeiras. Um mal que levou meus pais, e os pais dos meus pais, à ruína..."

A Saga de Suria: Em Busca da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora