Capítulo 25 - Sombras do passado

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          Algum tempo depois, os soldados voltam trazendo um grande cipó, e conseguem puxar Zared em segurança. Suria continua ajoelhada na beira do penhasco, com o rosto em terra, e chorando muito. Até que dois dos homens a tomam pelos braços, e fazem-na ficar de pé.

          - Senhor, vamos partir? - pergunta um dos soldados ao príncipe.

          Zared está perdido em seus próprios pensamentos, observando o horizonte ao longe, e também a imensa distância, preenchida por uma espessa neblina, que os separa do fim do desfiladeiro. Por que ele fez isso? E por que aquela atitude está deixando-o tão abalado? Nenhuma morte nunca lhe afetara tanto... Ou melhor, quase nenhuma.

          Por instantes, sua mente cavalga pelo passado, e memórias distantes vêm à tona. Ele se lembra de sua mãe. Como era doce, e carinhosa; quanta saudade. Apesar de ser ainda muito pequeno quando aconteceu, lembrava-se de sua feição pálida como a neve... Depois de sua morte, seu maligno pai nem sequer importou-se em demonstrar luto; ele estava mais preocupado em matar o rei do Leste e tomar o trono para si. E a cada dia, o coração de Zared tornava-se mais negro.

          - Senhor? - o soldado interrompe seus pensamentos.

          - Hã... Sim, vamos partir. - ele responde hesitante.

          A tarde já avança sobre a tropa, que caminha de maneira constante em direção à cidade central. Entre eles há risadas, e conversas; apenas Zared e Suria permanecem em silêncio. Vez ou outra, o príncipe a observa; ela está de cabeça baixa, e em certo momento, uma lágrima solitária lhe escorre pela face.

          A longa viagem perdura até o amanhecer. Até que, finalmente, conseguem avistar o suntuoso palácio, onde Baruk já os aguardava. E à medida que caminhavam pelas ruas, os habitantes os observavam aterrorizados; principalmente quando percebiam a presença da princesa, trazida como prisioneira.

          No castelo, já haviam organizado os preparativos para casamento, que aconteceria naquele mesmo dia. Havia flores, e também estátuas de deuses estranhos; e a cerimônia seria realizada por um dos sacerdotes pagãos das Províncias do Leste. Caleb havia se corrompido completamente. Suria observava cada detalhe com desespero; como seu pai pôde permitir que trouxessem estátuas de idolatria?!

          Finalmente, foram ao encontro dos reis. Inesperadamente, ao ver sua filha naquele estado, trazida com cadeias nos pulsos como uma criminosa, Caleb sentiu um forte amargor em sua alma. A princesa, por sua vez, o encarou por alguns instantes, observando cada traço de seu rosto cansado, e logo abaixou a cabeça.

          - Muito bem, Zared - diz Baruk orgulhoso - Por um momento pensei que você não fosse capaz de cumprir essa tarefa. Levem a nossa princesa para seus aposentos, e preparem-na para a cerimônia - ordena, dirigindo-se a alguns criados.

          Zared sai da sala sem dizer nada, e vai até um pequeno lago que há no jardim. Ele olha seu reflexo nas águas, pensativo; toda sua vida fora baseada em atender às ordens de seu pai. Afinal, ele é o príncipe, essa é a coisa certa a fazer... não é?

          - Perdido em pensamentos? - uma voz familiar o tira de suas reflexões.

          - Castiel... eu não tinha te visto aí - diz Zared ao seu amigo de infância.

          - Ora, meu amigo, eu te conheço há anos. Me diga, o que o incomoda?

          - Você já teve a sensação de que sua vida toda foi baseada apenas em seguir o que os outros esperam de você? - pergunta o príncipe.

          - Essa é uma pergunta e tanto... - diz Castiel rindo - Mas eu sou apenas um soldado. Apesar de seguir as ordens do comandante, às vezes posso fazer minhas próprias escolhas também.

          Zared, então, fica em silêncio, e volta a observar o lago. Percebendo sua aflição, Castiel tenta consolá-lo.

          - Não se preocupe tanto, Zared. Você é o príncipe das Províncias do Leste; é normal que suas escolhas sejam baseadas no que o nosso povo espera de você.

          - No que o nosso povo espera de mim... - repete o príncipe, pensativo.

          - Agora é melhor entrarmos - diz Castiel colocando a mão em seu ombro - Você precisa se preparar para a cerimônia.

          - Tem razão. - assente Zared, e ambos entram no palácio.

A Saga de Suria: Em Busca da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora