Capítulo 21 - Por que essa angústia?

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          O sol começa a se por, quando Sarim e Suria arrumam novamente seus pertences, preparam os cavalos e seguem viagem. Ela está cabisbaixa; ainda não se perdoou por não ter acreditado em Sarim o suficiente para contar-lhe a verdade.

          O rapaz, por sua vez, não está chateado como Suria pensa. Ele a perdoou no instante em que ela se desculpou, afinal é bastante compreensível que alguém desconfie de pessoas que não conhece. Então, como de costume, Sarim tenta iniciar algum assunto durante o caminho, para quebrar o silêncio.

          - Você maneja muito bem a espada, por um instante fiquei com pena dos salteadores - diz ele rindo, e fazendo-a rir timidamente também - Onde aprendeu a lutar?

          - Ao longo dos anos fiquei cada vez mais solitária no palácio. Meu pai sempre ocupado, e minha mãe muito enferma... Não há muito o que se fazer. Então comecei a estudar diversas coisas para me distrair, e acabei aprendendo a manejar armas - ela explica.

          - Armas? Então não são apenas espadas...

          - Não - diz a princesa com uma leve risada - Também aprendi a atirar com arco e flecha.

          - Me lembre de não entrar em uma briga contra você, por favor - Sarim diz com ar brincalhão.

          Pela primeira vez em quase dezessete anos, Suria se vê rindo. Aquele estranho, que agora já não é tão desconhecido, de alguma maneira a faz sentir bem, apesar de todos os problemas que se levantam à sua volta. Por instantes, seus olhares se cruzam, e os dois ficam em silêncio profundo, quase como se suas almas conversassem entre si.

          Entretanto, um ruído os desperta. Os cavalos estão agitados. O que seria agora? Eles param, e tentam ouvir novamente para identificar o que era aquele som. Mas não dá tempo. Subitamente um lobo cinzento pula de trás de um arbusto em direção à Suria.

          Sarim rapidamente lança mão de seu arco, e atira uma flecha contra o animal, fazendo-o cair. O restante do bando surge, então, e os cerca. A princesa toma uma espada, e ambos tentam se livrar de alguns deles, para pelo menos conseguirem escapar.

          Derrubados dois ou três, Sarim e Suria fazem os cavalos correr, sendo perseguidos pelos demais. Eles avançam floresta a dentro. O arqueiro lança flechas, e aos poucos vai atingindo as feras, enquanto Suria fere com a espada os que tentam se aproximar para atacá-los.

          Porém, mais à frente, há outro problema: Yaruy. Estando a poucos metros do rio, olham para trás, tentando ver se ainda estão sendo perseguidos. Não há nada. Quando torna a olhar para frente, Sarim sente uma forte mordida em seu ombro, próximo ao pescoço. Sobrara um lobo, que atingiu o rapaz num ataque certeiro.

          - Sarim! - Suria grita, ferindo o animal com sua espada, e fazendo-o soltar a mordida - Sarim, aguente firme!

           E agora? Ela não sabia como atravessar o Yaruy, nem teria condições de carregar Sarim pelas águas. Eles precisavam de ajuda. Suria segue adiante, guiando o cavalo de seu companheiro ferido; eles andam por algum tempo, mas não encontram nenhum sinal de civilização. Não há nem sequer uma aldeia naquela região.

          Está escurecendo. A única opção é abrigarem-se em uma caverna que ali havia. Suria ajuda o rapaz a descer do cavalo; o ferimento está péssimo. Sarim mal consegue ficar em pé, e está ardendo em febre.

          Apesar dos conhecimentos sobre plantas medicinais, a noite impede a jovem de achar qualquer erva para tratá-lo. Ela, então, limpa o ferimento com um pouco de azeite que tinham consigo, e enfaixa, tentando estancar o sangramento.

          Seu coração está aflito; mais do que o normal. O que ela poderia fazer para salvar Sarim? E por que essa angústia por salvar um desconhecido?

A Saga de Suria: Em Busca da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora