Capítulo 24 - A caridade é sofredora

0 0 0
                                    

          - Ora, ora. Veja quem encontramos aqui.

          Um grupo de soldados armados sai da vegetação.

          - Estávamos à sua procura, princesa - diz Zared, colocando-se à frente do grupo.

          - Quem são vocês? - questiona Sarim.

          - Quem somos nós?! - ironiza - Estes são os soldados das trevas; e eu sou Zared, filho de Baruk, o grande... - interrompe, e olha para Suria.

          O coração da jovem fica gelado como a neve, e um arrepio lhe sobe a coluna.

          - ...e também o seu futuro esposo, princesa. - continua, com um maligno sorriso - Estamos aqui para levá-la para casa.

          - Só passando por cima de mim! - esbraveja Sarim, lançando mão de seu arco e apontando uma flecha para Zared.

          - Então o pequeno arqueiro quer duelar... - diz Zared, zombando do rapaz, enquanto os soldados soltam gargalhadas - Pois bem, arqueiro! Vamos duelar! - toma sua espada, desce do cavalo e vai em direção a Sarim.

          Suria se desespera. Os habitantes das Províncias do Leste são conhecidos por manejarem com excelência qualquer tipo de arma; quanto mais o filho de Baruk! Sarim deixa de lado o arco e também pega uma espada. Eles iniciam o combate. Os soldados apenas assistem confiantes, acreditando que seu líder acabará facilmente com o rapaz.

          Entretanto, além de exímio arqueiro, Sarim sabe utilizar muito bem outras armas. Por duas ou três vezes, consegue arrancar sangue de Zared, fazendo-o recuar por alguns instantes. Os homens ao redor começam a fazer barulho, tentando confundir o jovem, porém sem resultado.

          Até que um deles tem a brilhante ideia de usar uma isca para distrair o arqueiro: Suria. Ele avança em direção à princesa com uma espada. Ela está tão concentrada na batalha que não percebe sua aproximação; mas Sarim percebe.

          - Suria! Cuidado! - grita o arqueiro, desviando sua atenção do oponente.

           Nesse momento, Zared se lança sobre Sarim, na tentativa de derrubá-lo do precipício. Porém num movimento rápido o rapaz reage, e ambos acabam caindo da beirada.

          - Sarim! - Suria grita, e corre à margem do penhasco.

           Todos se apressam a ver o que aconteceu, e são surpreendidos ao ver Zared e Sarim pendurados em uma raíz que saia da imensa parede rochosa.

          - Rápido, peguem uma corda! - grita um dos soldados.

          - Por que vamos salvá-lo? - questiona outro - Se ele morrer, um de nós poderá assumir a liderança do exército.

          - Eu concordo - exclama um terceiro.

          E assim começa entre a tropa uma discussão para decidir se ajudariam ou não o filho de Baruk. Uns afirmavam lealdade ao príncipe e ao auto-declarado rei; outros queriam aproveitar a oportunidade para livrar-se dele. A discussão aumentava, e um consenso parecia fora de cogitação.

          A princesa desesperadamente tenta convencê-los a ajudar, mas ninguém lhe dá ouvidos. Ela clama a Deus em seu coração, e Ele a faz lembrar da corda em suas bagagens, e de como cruzaram o forte Yaruy. Rapidamente Suria a pega e começa a atar uma das pontas em uma árvore próxima.

          De repente, um forte estalo chama a atenção de todos, fazendo-os ficar em silêncio. Suria corre e ajoelha-se à beira do abismo, para ver o que está acontecendo; e a situação que encontra não é boa. A raiz, não suportando o peso dos dois jovens, começara a se partir. Se não forem resgatados logo, ambos cairão. Então, um dos soldados, amigo de Zared, levanta a voz e diz:

          - Vamos ajudar!

          Alguns dirigem-se à corda, para descê-la até onde os dois estão. Mas não é comprida o bastante, então tentam encontrar um cipó para emendá-la. Enquanto isso, a princesa permanece na margem; sua angústia é tanta, que ela permanece imóvel, com os olhos fechados e coração voltado a Deus, clamando pela vida de ambos. Até que um segundo estalo, mais forte que o primeiro, a desperta da oração.

          - Essa raiz não vai aguentar o peso de nós dois... - diz Sarim.

          Zared o encara com olhar desesperado, e o jovem arqueiro percebe seu pânico; é como se, por alguns instantes, ele pudesse ouvir a alma de seu até então inimigo, clamando por auxílio, sendo obrigada a viver num corpo que não lhe dá a devida atenção e cuidados. Sarim fecha os olhos por um momento, que mais parece uma eternidade; quando torna a abri-los, olha para Suria, e diz, com um sorriso:

          - Diga a Aysha que eu a amo... e fique bem.

          - Não... - ela sussurra.

          O rapaz então solta a raiz, deixando-se cair abismo a baixo.

          - SARIM! - Suria grita com toda a força.

A Saga de Suria: Em Busca da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora