Capítulo 33 - Ninguém explica Deus

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           No pátio, Suria observa com atenção cada detalhe da simples, porém belíssima, decoração. Cortinas de seda, com detalhes em fios de ouro, refrescam o ambiente, aliadas à suave brisa que corre pelo jardim; tapetes de linho fino com diversas cores estão espalhados por todo o espaço; a gigantesca mesa no centro está repleta com os mais variados tipos de alimentos. E os convidados, em obediência às ordens do rei, podem passear à vontade pelos arredores do palácio; há comida em abundância, e os pequeninos brincam em rodas próximo à fonte. O olhar da princesa percorrem toda aquela cena cuidadosamente. O povo estava finalmente feliz.

           De repente, num sopro o vento a envolve, fazendo-a fechar os olhos, e respirar profundamente. Fica assim por alguns segundos, até que em seu coração surge, novamente, a lembrança de um certo arqueiro. Sua mente, então, involuntariamente vagueia pelo pátio, como que o buscando; mas, quando torna a si, e percebe que não há possibilidade de que seu amado esteja realmente ali, ela abre os olhos subitamente, e parece ter voltado de um profundo mergulho. No qual, aliás, quase afogara-se. Ainda recuperando-se do susto, ela sente um par de olhos castanhos a encarando fixamente.

           - Você está bem? - Zared pergunta, pela segunda vez em pouco tempo.

           - Estou. - a princesa responde, enxugando uma lágrima que acaba de lhe escorrer pela face.

           - Estava pensando nele... Acertei? - indaga o príncipe, enxugando no rosto de Suria uma segunda lágrima.

           - Sim - ela responde, já chorando.

           - Suria, eu já disse que pode contar comigo para o que precisar. Há algo que eu possa fazer para se sentir melhor? 

           -  Ore por mim. Por favor. - diz ela com um sorriso, limpando os olhos. - Eu... preciso ir.

           Zared, então, apenas a observa, enquanto ela se afasta sem olhar para trás. Suria dirige-se a um pequeno lago que há no jardim, e no caminho conversa bastante com Deus acerca dessa inundação de sentimentos. Em meio ao diálogo, as lágrimas insistem em molhar-lhe o rosto. Sentando-se à margem, observa ao longe o sol refletindo na água cristalina. Ela se lembra do Yaruy... Tão sereno, e ao mesmo tempo tão perigoso. Depois, volta o olhar ao grande Monte Sion.

           - Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? - ela recita baixinho.

           - O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. - responde uma voz por detrás dela.

           Virando-se, Suria imagina que Zared a teria acompanhado até ali. Mas seu coração dispara quando vê olhos cinzas a encarando fixamente, com um sorriso radiante.

           - Sarim?! - ela exclama, ainda sem acreditar no que está vendo.

           - Sou eu mesmo, Suria - ele diz com lágrima nos olhos.

           A princesa, então, reconhecendo que não se trata de uma visão, mas sim de um milagre, corre ao encontro de Sarim, e o abraça fortemente, sendo recebida por ele da mesma forma. Ambos ajoelham-se no gramado, e juntos em uma só voz louvam a Deus por mais uma vez mostrar Sua Misericórdia para com ambos. E caem em pranto.

           - Mas... Como é possível? - ela pondera, soltando-se do abraço.

           - Para O Nosso Deus, nada é impossível. - o jovem afirma - E o inexplicável é a especialidade dEle.

           - É... com certeza é. - Suria concorda, olhando fixamente para aquele varão que de alguma maneira a conquistara tão profundamente.

           De igual modo, Sarim a observa com olhar carinhoso, reparando em cada detalhe de sua face.

           - Eu te amo, Suria. - ele finalmente confessa.

           - Eu também te amo, Sarim - a princesa afirma, com olhar marejado.

           De repente, Zared aproxima-se do local, e surpreendentemente abraça Sarim, que já se havia levantado. O arqueiro também o abraça.

           - Louvado seja Deus! Estou feliz que esteja vivo, irmão! - o príncipe exclama.

           - E eu estou feliz que você tenha se reencontrado com O Deus Vivo - responde o rapaz com um sorriso.

           Zared então olha para Suria, e vê a alegria em sua face. Em tom brincalhão, ele volta-se novamente a Sarim, e diz:

           - Agora, cuide muito bem da nossa princesa, arqueiro! Como segundo capitão da guarda posso mandar prendê-lo se algo acontecer com ela. 

           - Pode contar comigo, capitão! - responde ele rindo.

           - Suria! Venha depressa! - um chamado ao longe os interrompe - É sua mãe! 

A Saga de Suria: Em Busca da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora