A Saga de Suria: Em Busca da Verdade

Capítulo 15 - Verdadeira razão

           Fora da cabana, a claridade permite a Suria visualizar melhor quem era aquelas misteriosas pessoas que a acolheram em sua cabana. Enquanto caminham em silêncio, ela os encara vez ou outra.

           Sarim é um varão alto, robusto, de cabelos castanho-escuro e olhos cinza. Suas roupas são feitas de peles de animais, e ele carrega consigo uma aljava com muitas flechas, e um arco. "Por que carregar armas dentro da vila?" ela se pergunta.

           Já Aysha, por sua vez, é um pouco mais baixa que seu irmão, com longos cabelos negros, fazendo destacar sua pele clara. Seus olhos são cinza, assim como os de Sarim, e ela exala uma personalidade alegre e otimista.

           E, de igual modo, sem ser percebida, Aysha observa Suria com curiosidade. A princesa tem cabelos castanhos e ondulados, e olhos esverdeados. Seu porte é elegante e delicado, mas também é possível sentir a força e determinação que pairam sobre ela. "Parece uma princesa", pensa Aysha consigo mesma, sem saber que Suria realmente o era.

           Parando, então, em uma tenda repleta de arcos e espadas, Sarim conversa com o comerciante, que já é um ancião.

           - Paz seja contigo, Balthazar. - saúda o rapaz.

           - Paz seja contigo, Sarim. Vejo que finalmente conseguiu uma companheira. - diz o homem, olhando para Suria.

           - Não é nada disso, amigo - diz o jovem, rindo - Ela caiu do cavalo quando a abordamos na floresta. O mínimo que poderíamos fazer era cuidar para que se recuperasse.

           - Não é seguro viajar sozinha, minha jovem. Há rumores de que os soldados das trevas estão a caminho de Enderlik. - aconselha Balthazar, dirigindo-se à moça.

           - Eles já estão a caminho? - pergunta Suria, aflita.

           - Sim - afirma o ancião - Inclusive há habitantes dizendo até que alguns deles já estão aqui no reino, escondidos nas florestas, à espreita dos nossos passos.

           - Mas você pode dar um jeito neles, não é mesmo Balthazar? Você é o melhor com armas. - interrompe Aysha, com ar divertido.

           - Acho que dessa vez é o Sarim que vai mandá-los embora, Aysha - responde Balthazar, rindo.

           A moça ri, e os três continuam a conversar e tratar sobre armas; Suria, entretanto, a esta altura já não consegue prestar atenção em mais nada. Seu coração está aflito. Se os soldados do Leste realmente estiverem no reino, sua viagem se tornará ainda mais urgente... e também mais perigosa.

           Após os negócios, despedem-se de Balthazar, e retornam à cabana, em silêncio. Chegando lá, Aysha vai para os fundos, para guardar os mantimentos, enquanto Sarim puxa uma cadeira, senta-se, e questiona à princesa:

           - Desculpe perguntar de novo, mas o que você veio fazer tão longe da cidade central, e sozinha?

           Suria hesita por um instante. E se ele fosse, na verdade, um inimigo? Ou se quisesse roubar os tesouros de Zaruach Gachar? Mas ela precisa de ajuda, então acaba contando ao rapaz a verdadeira razão de sua viagem.

           - Estou em busca de uma caverna muito preciosa... Zaruach Gachar - diz ela - Quero encontrar uma cura para minha mãe, e também descobrir porque o reino empobreceu tanto, se temos uma algo tão valioso em nossas terras.

           Sarim fica atônito, e pensativo. Depois de alguns instantes, se recupera, e indaga:

           - Como você sabe sobre Zaruach Gachar?

           - Encontrei um livro muito antigo, que falava a respeito desse lugar - diz Suria, tentando encobrir a verdade sobre sua família e seu título.

           Sarim então levanta-se, anda em silêncio até um pequeno móvel, onde abre uma gaveta e retira um pequeno objeto. Assopra-o, fazendo voar muita poeira, e coloca-o sobre uma mesa, à frente de Suria.