23. mapas, parte 1: direções.

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19 de dezembro de 2011

Querido Jeongguk...

Sinceramente eu odeio a sensação que estou sentindo agora. Os meus últimos dias foram péssimos, estressantes e tensos demais, e tudo pareceu não existir mais quando você começou a falar sobre o seu avô, a forma como os seus pais aparentemente amolesceram por um instante e te deram carinho, e principalmente sobre Yoongi e o momento tão significativo que passaram juntos.

Eu juro, tudo isso me fez abrir um sorriso sem nenhum esforço e me fez, de alguma forma, ficar feliz por você, mesmo que esses seus dois dias também tivessem partes tristes. Não quero dizer que sinto muito, pois acho que essas palavras nem sempre ajudam, mas eu acredito que, sempre quando perdemos alguém que amamos, sentimos parte de nós se perdendo em algum lugar também, e que vamos passar a procurar com inúmeros mapas furados... Até perceber que não há nada para ser encontrado, e sim para ser vivido.

Mas eu não quero te fazer chorar, de verdade, então só gostaria de dizer que sempre que leio o que você escreve é impossível não sorrir por alguma coisa, pois deve ter algo especial na forma como descreve elas, os sentimentos e sensações... ou apenas você em si seja especial, muito especial, Jungkook.

Há alguns dias atrás recebi uma ligação inesperada de Namjoon, daquelas em que a pessoa do outro lado da linha só consegue repetir a mesma coisa várias vezes até que aquela frase perca todo o sentido e a única coisa que conseguimos ouvir depois é o choro e a respiração acelerada demais.

Os pais de Namjoon sofreram um acidente na estrada enquanto dirigiam o trailer para virem até aqui. Eles queriam ver Namjoon e o apartamento novo dele. Acho que nem preciso dizer o quão culpado ele se sentiu quando desconhecidos ligaram para si avisando sobre o acidente que os seus pais tinham sofrido.

Agora está tudo bem, a recuperação de ambos está sendo positiva e logo logo poderão voltar à sua rotina normalmente, mas o choque que tive ao receber a notícia e a sensação de insuficiência que sinto agora sempre que olho para o estado de Namjoon, fazem com que tudo se perca novamente. Acho que eu nunca cheguei à contar como nos conhecemos para você, Gguk, e mesmo que não fosse algo tão clichê como foi com Jimin, acredito que faria sentido contar agora.

Eu tinha uns 16 anos, passava mais tempo na rua do que na própria casa por conta dos grafites que fazia, e num dia qualquer, um desconhecido se aproximou de mim e disse que o meu desenho estava bonito. Eu não esperava que algo assim acontecesse, porque eu poderia contar nos dedos quantas pessoas gentis passavam por mim no dia a dia, por isso olhei para ele e agradeci. Realmente aquele comentário fez com que algo dentro de mim ficasse mais tranquilo, mas não imaginei que logo depois ele tiraria sprays do seu próprio casaco e dividisse comigo, dizendo que "uma arte, independente do que seja, deve ser sempre incentivada e impulsionada pra frente". Sim, um dos nossos primeiros diálogos foram filosóficos, Namjoon é esse tipo de humano.

Depois, passamos a nos encontrar por acasos do destino pelas ruas, colorindo paredes e jogando conversa fora. Acho que acabei gostando dele logo no primeiro momento, Namjoon é o tipo de pessoa que deixa qualquer um confortável do seu lado, tão confortável ao ponto de fazer você duvidar se aquilo é realmente real ou se você deveria sair correndo dali no mesmo segundo.. mas eu não corri, e hoje sou muito grato por isso.

Ele nunca teve vergonha de dizer que morava num trailer, nem que o seu emprego num posto de gasolina era apenas para ajudar os pais, e isso me fez questionar sobre o que mais eu poderia fazer para os meus próprios pais, na verdade, acho que toda a bondade de Namjoon me fazia querer ser uma pessoa mais bondosa também, ele sempre me fez querer ser melhor mesmo sem nunca querer ser de fato um exemplo para mim.

dear friend; taekook.Onde histórias criam vida. Descubra agora