11 de dezembro de 2011
Querido amigo...
Nossa, nossa, nossa e mil vezes minha nossa... acho que nem todos os nossa desse mundo seria capaz de mostrar o quão "nossa" eu fiquei assim que li a sua última carta.
Mesmo sem saber exatamente o porquê, os últimos parágrafos me deixaram nervoso, e um pouco ansioso e meio desesperado, então talvez essa seja a carta mais sem nexo e sem sentido que eu mando para você, mas não peço desculpas já que a culpa disso é realmente toda sua.
Agora eu estou no quintal da minha casa, e sim, usando um pijama dos simpsons, e está de noite. Olhar para o céu no escuro me faz pensar em coisas, e juntar tudo isso à um silêncio miserável graças ao dia de merda que tive ontem... me faz pensar bem mais do que gostaria de pensar.
Justamente quando percebi que tinha uma carta sua na caixinha do correio, minha mãe mandou eu parar de perder tempo fazendo nada e trocar de roupa, pois o meu avô paterno tinha acabado de falecer.
É estranho como ela se preocupa tanto com o tipo de roupa que vamos usar para ficar de frente à um corpo sem vida, mas eu não fiquei irritado por causa disso... um luto espontâneo costuma mexer demais com as pessoas, ainda mais quando se trata de uma pessoa querida.
Eu não tive muito contato com o meu avô, durante todo o tempo em que ele esteve vivo posso contar nos dedos quantas vezes nós nos vimos pessoalmente, mas todos esses momentos, de alguma forma, fizeram com que ontem e hoje se tornassem dias horríveis pra mim.
Sempre que ele vinha para nossa casa, tinha uma história diferente para contar. Algumas eram tão "mirabolantes" que eu me perguntava se aquilo não se passava de uma invenção do meu avô, mas ao mesmo tempo ele falava sobre a sua época de jovem com tanto ar de nostalgia que logo eu me esquecia dessa possibilidade.
Pelas poucas coisas que sei sobre os dois, meu avô e minha avó tiveram aquela típica história de amor que costumam passar nos filmes antigos, é até engraçado porque parece que todos os romances aconteciam da mesma forma naquela época.
Meu avô costumava ir naquelas festas onde as pessoas se juntavam pra dançar, beber e jogar todas as preocupações fora com roupas coloridas e passos animados (e sim, realmente tinham aqueles globos prateados que brilhavam no teto!!!) E num desses seus passeios minha avó estava la com as amigas dela. Minha avó dizia que ele era o típico homem que achava que poderia ter o controle de todas as situações do mundo, e meu avô disse que graças a ela, ele passou a ser um homem melhor com o tempo.
É bonito pensar que um ajudou o outro a evoluir sem ter essa real intenção. Diferente do que eu achava que os avós eram, os meus não tem uma história de vida perfeita e muito menos tentam se passar de pessoas perfeitas só por serem mais velhos agora e já terem vivido muito e aprendido com a vida. Todas as histórias que ele me contava traziam uma "moral" que ele aprendeu todas as vezes que fazia alguma burrada, mas também me faziam ter uma visão diferente sobre a vida, uma visão que meus pais nunca me deram ou se preocuparam em dar.
Eu não sei direito, mas para ele a vida deveria ser vivida, sabe? Meu avô era o tipo de pessoa que com certeza não iria rir de mim se eu contasse o meu sonho de ser cantor, e não riria se eu contasse tudo aquilo que contei à você. Na verdade, acho que acabei herdando muitas coisas dele, como gostar de dançar e o modo como vê as coisas a sua volta.
Eu gostaria de tê-lo conhecido mais cedo e de ter tido tempo o suficiente com ele... com certeza você iria gostar dele, e ele iria adorar você.
Ontem o meu pai me deu um abraço, e nem me lembro mais quanto tempo fazia que eu não recebia isso de um dos dois. Foi rápido, repentino mas acredito que foi sincero. O luto as vezes amolece as pessoas, mas não por muito tempo, já que por eu ter deixado claro demais a minha surpresa, ele soltou um "o que foi? Mesmo que você seja meio fora da caixinha, continuo gostando de você". Isso não soou ofensivo pra mim, o que só serviu pra que eu me surpreendesse mais ainda.
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dear friend; taekook.
Teen Fiction[EM ANDAMENTO] O que você faria se, sem mais nem menos, cartas de um desconhecido começassem a aparecer na sua caixinha do correio? Iria se sentir dentro de As vantagens de Ser Invisível ou em algum romance clichê escrito por John Green? Bom, Taehy...