7 de setembro de 2011.
Fiquei me perguntando se nas ruas onde você mora as paredes são tão coloridas quanto as daqui... Bom, espero que tenha esse privilégio, e não que eu queira me gabar.... Mas, basicamente, foi eu e Namjoon que trouxemos vida a esse lugar, talvez ate merecêssemos uma medalha de honra do país pelo próprio presidente.... Não sei, apenas me deixe sonhar alto, ok?
Acho que estou viajando demais, e isso geralmente acontece quando passo muito tempo pensando, e se levar em consideração que não consigo parar de pensar o tempo todo, então aí está mais uma característica minha completamente inútil, mas que faz parte desse jovem narrador.
Hoje eu decidi passear pelas ruas do meu bairro, sem sprays nem nada, apenas com as mãos no meu casaco favorito e olhando cada desenho que eu e Namjoon fizemos juntos nas paredes antigamente cinzentas que os empregados do governo não conseguiram limpar a tempo. As vezes eu me perguntava se alguém passava por ali de carro ou apé e, graças a multidão ou ao transito, acabasse vendo o nosso trabalho e admirando-os também, assim como eu naquele momento. Seria uma forma bonita de desejar um bom dia/tarde/noite à ela, ou de trazer uns segundos de paz no meio de toda a correria por essas estradas... Pensar nisso me fez sorrir sozinho ali. É o que costumo fazer com frequência também, e acredito que as pessoas ao meu redor devam achar que eu tenho algum tipo de problema.
Você já leu Cidades de Papel? Pois enquanto eu escrevo essa carta eu estou sentado no chão empoeirado de um prédio abandonado, num bairro fantasma não muito distante da minha casa. Sim, aparentemente esse lugar realmente existe, ou é apenas uma cópia quase perfeita do livro.
Ultimamente esse é o meu lugar favorito, não tem ninguém por aqui, por isso se chama bairro fantasma, e mesmo que eu já esteja me sentindo sozinho demais... É melhor ficar aqui do que preso na minha própria casa.
Olhar para minha irmã mais nova me faz sentir culpado e um completo covarde por estar num prédio vazio e não junto à ela, protegendo-a, como um bom irmão mais velho deve fazer. Mas ao invés disso, prefiro fugir de tudo, como a Margo Roth Spielgema fazia na historia... Porem sem um Quentin Jacobsen para me procurar com um grupinho de amigos numa viagem de carro...
Talvez você seja ele? Será se devo deixar migalhas para você coletar e tentar descobrir aonde estou agora?
Acho que deveria parar de pensar que você seja um garoto, talvez você pode ser uma garota... Então me desculpe se isso te incomodar, querido ser humano.
Mas hoje eu parei para pensar numa coisa que fiz, não há muito tempo atrás... Na verdade faz muitos anos que isso aconteceu, e continua me atormentando. Antes era pior. Eu tinha pesadelos, e as vezes via coisas que não estavam acontecendo de verdade... Talvez fosse o universo garantindo que eu jamais me esquecesse do que fiz, do quão mal e cruel eu fui naquele tempo.
O olhar da minha irmã para mim está vivo até hoje na minha mente. Ela sentiu raiva de mim, meu pai sentiu raiva de mim... Nesse dia eu pude entender que ele podia sentir raiva de alguma coisa. Naquele dia eu percebi que qualquer um tem a capacidade de ser mal com alguém, de magoar, machucar, de agir como um infeliz... É numa fração de segundos, você não consegue controlar muito menos perceber que está fazendo mal à alguém... Até quando for tarde demais.
Fui egoísta, mimado demais, incompreensível demais... Busquei mil e uma desculpas para tentar me acobertar, talvez fosse pela minha pouca idade na época, talvez eu tenha feito isso sem a real consciência do que estava fazendo... Mas de qualquer forma esta feito. Minha tia Helen está morta... E a culpa é minha. Minha mãe se afastou de todos, inclusive de mim, por minha causa. Agora meu pai voltou a beber e desconta sua raiva e indignação na filha menor e no adolescente inconsequente que até então não sabe o que é trazer algo que não seja decepção para dentro de casa, aka o narrador dessa história.
Eu não usei nenhuma arma, nenhum sangue escorreu pelas minhas mãos, mas fui tão cruel quanto. As vezes eu me sinto como um assassino. Naquela época eu fui frio, tão frio quanto aquele que puxa o gatilho contra alguém... E é por isso que hoje eu fujo, por isso que escrevia tantas cartas para a minha mãe na intenção de pedir o seu perdão... É por isso que as vezes me odeio por não conseguir tirar a culpa que Jimin carrega, nem as paranoias da cabeça de Namjoon e fazer com que Hoseok volte a fazer o que fazia antes... E é por isso que essa carta está sendo enviada à um desconhecido que não tem nada haver com isso.
Mas entenda uma coisa: todos nós podemos e vamos ser maus com alguém, tanto com aquele que você ama quanto com alguém que nem sequer conheça. E vai estar tudo bem quando você se arrepender e compreender que aquilo o que fez foi errado e imperdoável. Não há uma máquina do tempo que possa usar, não vai poder voltar para o passado e impedir que faça aquilo que fez... Não pode mudar a visão que as pessoas têm de você por isso... Mas pode mudar a visão que tens de si mesmo. Pode não cometer mais isso, e pode crescer. Não importa se apenas você consegue entender isso, é nessas horas que o foda-se pode ser aplicado sem dó, mas quando entender que está tudo bem... Vai estar tudo bem, ou pelo menos é nisso que estou tentando acreditar.
Com amor, Taehyung.
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Olá pessoinhas, venho aqui com mais uma carta, pretendo inclusive postar todas as que já estão prontas aos poucos para realmente fazer essa fanfic ¨ir pra frente¨ sabe...
Mas então... Se por acaso alguém chegar a ler até aqui, me diga... O que acha que o tete fez para se sentir tão culpado? Será se ele realmente tem uma culpa ou seria apenas ¨coisa da sua cabeça¨? De qualquer forma, espero que possam conseguir entrar na mente dele e compreender seus pensamentos, sentimentos e motivações... Estou criando esse personagem com todo o carinho do mundo.
Bem... Até a próxima carta <3.
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dear friend; taekook.
Ficção Adolescente[EM ANDAMENTO] O que você faria se, sem mais nem menos, cartas de um desconhecido começassem a aparecer na sua caixinha do correio? Iria se sentir dentro de As vantagens de Ser Invisível ou em algum romance clichê escrito por John Green? Bom, Taehy...