Catra permaneceu em silêncio por muito tempo, talvez uma hora. Com as costas apoiadas contra a prateleira de livros. A luz da lanterna do celular já oscilava e ela começou a pensar na burrada que cometeu.
Talvez fosse muito solitário ser uma fantasma. Principalmente uma que vivia por anos numa Biblioteca.
E nas férias?
Pior, já que nem os funcionários iam durante esse tempo!
Catra também sabia o que ser sozinha no mundo.
Suspirou fechando os olhos e logo abriu ao se lembrar de algo importante.
Sorriu ansiosa e murmurou sabendo que seria ouvida.- Adora Grayskull, nascida em 22 de março de 1953 e falecida em 3 de setembro de 1970.
E não é que funcionou?
A fantasma apareceu em pé na sua frente um pouco distante da garota.
- Você... como você...
- Você também foi enterrada perto de uma mulher - continuou segurando a emoção - madame Razz, nascida em 13 de junho de 1892 e falecida em 18 de agosto de 1971. Acho que era sua avó.
Adora permanecia em choque e perguntou trêmula se recuperando.
- Você...visitou meu túmulo?
- Sim, aliás tinha flores sobre ele, flores frescas. Você não está sozinha Adora. Tem alguém ainda que pensa em você e na sua avó.
Adora abraçou o próprio corpo e depois de cinco minutos ela sumiu e apareceu do lado da morena á sua esquerda, sobressaltou-se prendendo a respiração. Catra desconfiava que iria demorar um pouco a se acostumar com aquele movimento fantasmagórico.
- O que mais você descobriu sobre mim?- Infelizmente só isso. Do que exatamente, você consegue se lembrar?
Adora abraçou os joelho tendo o cuidado de não mostrar a parte superior das coxas grossas e bonitas. Catra se perguntou se era estranho demais se sentir atraída por uma fantasma.
- Lembro da escuridão, do vácuo me puxando, sabe. Parecia um buraco negro - tremeu - logo depois que eu morri.
- Humm, e...?
- Eu me senti leve, como se estivesse "voando", planando. Não sei quanto tempo passei fazendo isso.
- E seus poderes?
- Que poderes?
- Atravessar objetos, sumir e aparecer dando ataque cardíacos nas pessoas e essas coisas...esse lance de fantasma - se segurou para não debochar mas cara, era difícil.
- Sim, acho que são poderes mesmo - sorriu, um sorriso tão meigo e inocente que aqueceu o coração de Catra - Não sei como se manifestou isso, eles só foram aparecendo.
- Você mora nessa Biblioteca há mais de 30 anos sabia?
- Tudo isso? - se admirou.
- Hum hum.
Adora respirou fundo, ou pareceu respirar, ok é uma forma de falar. A fantasma estava triste.
- Até que faz sentido, vi tantos alunos se tornarem adultos e se tornarem professores aqui mesmo. Crianças ficarem adolescentes e logo adultos. Sabe, teve um casal que...- Como você morreu? - cortou a fala ansiosa - você se lembra né?
A fantasma balançou a cabeça negativamente ainda triste.
- Eu tava pensando aqui - escolheu as próximas palavras que ia falar - como se morre numa Biblioteca? Pode ser várias coisas mas somente uma. Talvez um acidente?
- Que tipo de acidente?
- Não faço ideia.
- Eu não sei - murmurou perdida.
- Acho que você não morreu por ataque cardíaco sabe? Você é muito nova e...muto calma - desviou o rosto escapando dos olhares da fantasma que estava perto lhe analisando atenta.
- Obrigada? - deu um sorriso sem graça.
- Adora - Catra prendeu os olhos na garota que estranhou de repente começando a ficar sem jeito com a encarada nada sutil.
- Eu acho...que você foi assassinada!
Adora arregalou os olhos.
"Uau Catra, quanta empatia hein!? Prepara o terreno antes imbecil."
Mas Adora desviou o rosto soltou um "humm" desmotivado.
- Ei, você não vai dizer nada? - cobrou sem entender a indiferença.
- Pra você me chamar de desmemoriada?
- Pô, não tá vendo que tô tentando te ajudar?
- Está?
- Claro ué.
- E por quê você perderia seu tempo fazendo isso? O que vai ganhar com isso? - ergueu as sobrancelhas.
- Por quê tem alguém que se importa com você Adora! E esse alguém deixou flores no seu túmulo, você deve ter irmãos, sobrinhos, filhos, netos...
- Eu não tenho filhos! - exclamou horrorizada.
- Tem certeza? Você disse que não se lembrava - provocou.
- Catrina, eu morri com 17 anos, eu não era casada e nem prometida em casamento disso eu tenho certeza...
- Ok ok, eu tava zuando. Mas tipo, cê não teve experiências debaixo do lençol não? - brincou com um sorriso zombateiro.
A garota ficou estática, Catra poderia apostar que a garota estava ficando vermelha.
Aquilo era divertido a beça.- Graças a Deus que não. Deus me livre me entregar a alguém antes do casamento - seus olhos azuis arregalados em descrença do tamanho atrevimento da mais baixa.
- Ok, eu tava zuando. Enfim, tem parentes seus espalhados por aí Adora - ficou séria novamente - você não está sozinha garota! Precisa encontrar eles.
- E você vai me ajudar a encontrá-los?
- O que você acha hein? - resmungou impaciente.
Adora se permitiu sorrir espantando um pouco a tristeza e vergonha de agora a pouco e Catra se perdeu ali naquele sorriso também dando um sorriso sincero.
Não se lembrava de ter sorrido sinceramente pra alguém já bastante tempo.
Bom saber que ainda tinha sentimentos.
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O crime de Bright Moon
FanfictionCatra não era uma garota que se impressionava tão fácil assim, aliás, emoções não era algo que a jovem demonstrava. De poucas palavras e uma carranca sempre no rosto desmotivava as pessoas a se aproximarem da mesma, não que ela se importasse. Apren...