Uma nova amiga?

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A luminosidade já começava a oscilar, sinal de que a bateria do celular estava ficando fraca, as horas passaram e as duas continuaram conversando. Adora queria se atualizar, saber sobre o mundo de hoje, se ainda passava Jornal Nacional( que estreara na TV um ano antes de ela morrer), se o Roberto Carlos ainda cantava com a Wanderléa, se o presidente ainda era o general Emílio Garrastazu Médici, ficou extremamente abalada quando Catra contou que os Beatles haviam se separado e mais ainda quando soube que Jonh Lennon havia sido morto. E não acreditou quando Catra contou sobre a atual situação da presidência do Brasil.

- Então, quer dizer que aceitaram um antigo sindicalista para presidente? - perguntou incrédula.

Catra não conseguiu explicar exatamente a história recente do Brasil. Na verdade, nunca nem se interessara pelo assunto o que causou irritação em Adora.

- Como você pode viver nesse país e não saber nada dele? - intimidou apontando o dedo em seu peito - Por culpa de pessoas como você que corruptos mandam e desmandam e o povo continua na miséria!

Ok, Catra aceitou cabisbaixa a crítica. Sim, ela contara sobre as favelas, violência urbana, crianças que vivem na rua e do desemprego que assola o Brasil.
Bom, pelo menos a fantasma era esperta e pegava as coisas rápido.
Ela tinha uma percepção atual da realidade ao comparar passado e presente, o que beneficiava, de modo direto sua memória.

Catra bocejou. Estava há 24 horas sem dormir. As luzes matinais que saíam das janelas da Biblioteca refletiam.

- Ok, hora de ir embora - prendeu a mochila nas costas antes de se levantar do chão e dar passos de distância que o separavam da porta da Biblioteca, mas notou que Adora não havia mexido um músculo - Ei, você vêm ou não?

- Eu moro aqui!

- E daí? Só por quê eu moro na minha casa não quer dizer que tenho que ficar trancada lá - revirou os olhos.

- Você não entende...

- Entendo sim, oh como entendo - fingiu que refletia - eu entendo que você está morrendo de medo de sair e se esbarrar com o mundão lá fora.

- Isso é ridículo, não tem como eu morrer de medo, eu já estou morta - criticou fazendo careta.

- Ih alá, tá até mudando de assunto - provocou - deixa de ser medrosa!

- Eu não sou medrosa!

- É sim! Quer ver que eu vou sair e você vai continuar aí com essa cara de idiota? - provocou com um sorriso de lado.

- Tá chamando quem de idiota? - se levantou bruscamente.

- Ah... licença - olhou para todos os lados cínicamente - está vendo alguma outra loira fantasma por aqui?

- Eu não sou idiota sua grosseira!

- Pô, se não é, então parece!

Com raiva, a mesma marcha até a porta que a morena havia deixado aberta. Parou hesitante ainda no batente. Essa manhã prometia um sol de tão quente quanto a véspera, sombras se faziam sobre as duas quadras esportivas e piscinas semi olímpica na lateral do terreno.

- O colégio...parece mais diferente do que antes - divagou.

Catra bufou já impaciente.
- Vambora medrosa - e correu, mais por medo da expressão de raiva da fantasma do que ser pega pelo vigia.
Sem falar que a pequena casinha dos fundos era da temerosa Sombria, Catra tremia só de imaginar o que aconteceria se ela lhe flagrasse ali, seria devolvida na hora pro Orfanato.
Mas no meio do caminho, lembrou que não havia trancado a porta e voltou xingando a si mesma por tamanha burrice, percebeu que a fantasma não estava mais ali.

O crime de Bright MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora