Eu não estou louca

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"Jennie"

- ME LARGUEM! ME COLOQUEM NO CHÃO AGORA! MÃE, MANDE ELES ME SOLTAREM AGORA!

- Isso é o melhor para você, filha... eu sinto muito, você está doente!

- Ela está louca, ela está doente e louca. Levem ela daqui o mais rápido possível.

- PAPAI! EU NÃO ESTOU LOUCA! O QUE EU FIZ?

Aquela camisa de força limitava os meus movimentos, mas a minha cabeça se debatia, eu estava ficando sem voz de tanto gritar, de tanto tentar me explicar a eles, eu não era louca, não estava doente...

- Mamãe... você sabe que eu não estou doente, acredita em mim... por favor...

- Não tente fazer a cabeça da sua mãe, Jennie! Você precisa se tratar, eu sinto nojo de você, sua doente mental. O que estão esperando para levá-la? Andem!

A porta da van foi fechada junto aos meus gritos. Porque eles não acreditavam em mim? Céus o que eu havia feito de errado? A janela minúscula da van me dava a visão dos meus pais, que se afastavam aos poucos, percebi que os meus gritos não adiantavam de nada, era melhor eu parar de gritar antes que ficasse sem voz alguma. Tentei me soltar, mas não adiantava.

- Não adianta tentar fugir, princesa - um dos homens falou, meu estômago embrulhou ao escutar a sua voz, um velho nojento que me olhava com pura maldade nos olhos, eu sentia aquilo - Acho que já podemos começar o tratamento aqui mesmo...

Meus olhos se arregalaram assim que as suas mãos começaram a abrir o seu cinto, vindo em minha direção abaixando o seu zíper de uma forma rápida. Voltei a gritar, me debater, porque eu? Porque eu tinha que passar por aquilo?

O que eu havia feito?

- Luke! Não faça isso ou irá arranjar problemas para nós! Já estamos chegando. Guarde esse seu pinto agora ou eu dou um tiro nele e em você! Que porra, parece que só pensa em sexo!

Uma enorme casa, uma casa que me dava medo, não era a minha casa, eu queria voltar para casa. Eles me amarraram em uma maca e me empurraram até um quarto branco, tão branco que doía os meus olhos, eu fui jogada - literalmente - no chão, como um animal, como um vírus completamente contagioso, como um ninguém. Tiraram a camisa de força que eu usava, logo me trancando naquele quarto. Fiquei encolhida, com a cabeça entre as minhas pernas, estava tão anestesiada que não conseguia chorar, eu não sabia o que estava acontecendo.

Ouvi um barulho, a porta se abrindo junto a isso uma mulher entrou com um copo de leite e um prato em suas mãos, ela me olhou com pena, e quando se aproximou eu engatinhei até o outro lado do quarto, com medo dela também tentar me machucar eu tremia freneticamente.

- Não irei te machucar. Sente fome? - continuei a encarando, meus olhos tão arregalados que poderiam sair rolando - Certo, irei deixar aqui, para o seu bem coma o que tem aqui, os exames serão piores caso tiver com a barriga vazia.

Seus cabelos eram longos, pretos, ela era alta, com uma voz suave, e com olhos profundos. Com segredos.

Ela saiu me deixando em um silêncio extremo, engatinhei de volta até o prato, me parecia uma gosma verde que não cheirava nada bem e que me fez vomitar no mesmo segundo. Empurrei para longe aquele prato e aquele copo de leite agora sim voltando ao meu estado e chorando tudo o que eu não havia chorado antes. O que aconteceria comigo? Eu morreria?

Morreria por ter beijado uma garota?

Um longo tempo depois a mesma mulher voltou com uma prancheta na mão e com dois homens ao seu lado, eles me amarraram mais uma vez na maca, mas acho que estava tão fraca que não tentei lutar. Continuei com os olhos vidrados em tudo, um corredor gigante, uma sala escura e com um cheiro horrível. Uma luz forte caiu sobre o meu rosto, fazendo-me virar a cabeça, fui colocada em uma cadeira, ainda amarrada, uma tela de vidro aonde do outro lado havia a mulher dos cabelos escuros e várias outras pessoas, que pareciam ansiosos para ver o que aconteceriam comigo.

A mulher se aproximou do vidro, apertando um botão vermelho, um som alto preencheu a sala me fazendo fechar os olhos, meus tímpanos estourariam se aquele som não parece, estava doendo, muito, e eu não podia ao menos protegê-los com as minhas mãos, pois estavam amarradas.

- PARA POR FAVOR! - eu gritei o mais alto e forte que eu conseguia, e no mesmo segundo aquilo parou. Todos através do vidro anotaram algo, menos a mulher dos cabelos escuros.

Depois de um tempo duas mulheres que me pareciam enfermeiras colocaram metais com géis, cada um de um lado da minha cabeça, um desespero nasceu dentro de mim assim que um homem do outro lado do vidro se levantou pronto para abaixar uma alavanca. Meu corpo começou a convulsionar, me sentia mole, fraca, e escutei apenas um grito pedindo para "parar" meus olhos não se abriam, e mesmo com uma movimentação extrema ali eu não consegui acordar.

Acordei com o meu corpo completamente dolorido, mais um quarto escuro, mas dessa vez eu estava em uma cama, havia uma janela pequena a minha frente, tentei me sentar mas tudo doía. Um fio de luz apareceu pela fresta da porta, e ali pude ver a mulher de cabelo escuro me encarando.

- Você não comeu o que eu te levei mais cedo, não é? - a encarei com tanta raiva, que os meus olhos poderiam lançar chamas de fogo, eu só queria voltar para casa - Gosta de sanduíche com geleia de uva? Eu sei, aquela sopa não parecia muito apetitosa, não deixe ninguém saber que eu te trouxe isso - ela colocou um copo de suco de laranja em cima de um criado mudo junto a um sanduíche - Eu sei que você está assustada, mas essa é a sua nova casa, Jennie.

- Porque...? - perguntei abraçando as minhas pernas novamente - O que eu fiz? Eu não estou louca! Eu não estou doente!

- Tente descansar um pouco, muita informação para um dia só - ela respondeu friamente - E por favor, coma o que eu trouxe caso queira ficar viva - e então a única luz que era fornecida sumiu quando a porta se fechou.

E a única coisa que eu pensei foi... eu não estou doente... eu não estou louca...

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora