Não me solte

6.1K 860 430
                                    

...

- Você não comeu, não é?

- Como sabe...?

- Daqui a pouco você terá que me alimentar, pois toda a minha comida está indo pra você, pequena.

Olhei para Lalisa que saia do meu quarto, mas não o trancou me fazendo saber que voltaria com alguma coisa, me levantei tirando as chaves da fechadura finalmente pegando o sabonete que estava debaixo do meu travesseiro e fazendo o que Seulgi havia me pedido, foram em torno de cinco chaves as quais consegui a moldura perfeita, eu estava tremendo demais para aquilo, e talvez o medo de ser pega por Lalisa me deixava mais nervosa ainda, tive a certeza que não conseguiria todas as chaves, não naquele momento, então coloquei o sabonete novamente debaixo do meu travesseiro e a chave de volta na fechadura e quando me sentei novamente Lalisa entrou com uma bandeja repleta de coisas que aparentavam estar maravilhosas.

- Coma devagar ok? - assenti sorrindo quando vi a variedade de coisas gostosas que haviam ali, as vezes eu olhava para ela com um pouco de vergonha de estar comendo a sua comida enquanto ela só olhava, seus olhos estavam brilhando pela primeira vez.

- Você quer? - perguntei com a boca meio cheia a fazendo rir, mais uma vez conseguido me deixar envergonhada.

- Não, obrigada, trouxe isso pra você. Eu já jantei. Está bom?

- Muito! - balancei a cabeça freneticamente, recebendo um carinho em minha bochecha, seu dedo limpou o canto da minha boca me fazendo abaixar a cabeça levemente mas mesmo assim ela não parava de me olhar - Porque está olhando pra mim?

- Porque gosto de apreciar a sua beleza.

- Você está me deixando envergonhada... - sussurrei sorrindo enquanto limpava minha boca na manga do pijama.

- Desculpa... já se olhou no espelho quando está corada? É fofo.

Acabei por rir daquele pequeno comentário a fazendo rir também, então entramos em uma crise de risos que a muito eu não tinha, aquelas tão boas que faziam a minha barriga e as minhas bochechas doerem, Lalisa fazia sinais para ficarmos quietas, mas isso só me fazia rir mais e ela também, até que ela me abraçou tentando abafar as minhas gargalhadas, e por alguns segundos eu parei segurando a sua cintura enquanto meu rosto estava afundado em seu peito, eu me senti bem quando ela fez aquilo, eu me senti confortável e principalmente segura.

- Não me solte... por favor... - sussurrei quando ela tentou se afastar, seu perfume me fez fechar os olhos e deitar minha cabeça em seu ombro, parecia que ela não sabia o que fazer a partir daquele momento, mas relaxei completamente quando senti carinhos em meus fios, parecia que ela também começava a relaxar aos poucos acho que percebendo que eu não queria sair dali tão cedo.

- Jen? - sussurrou trazendo a sua mão até o meu rosto e o levantando fazendo seus olhos se conectarem com os meus, ela estava perto, muito perto do meu rosto, podia sentir a sua respiração contra mim, me dando leves arrepios e leves tremores pela o meu corpo - Me de o sabonete...

- C-como... como você sabe?

- Me de ele por favor... - me afastei dela, e mesmo relutante eu o entreguei, meus olhos se arregalaram quando a vi prensar os restos das chaves ali com mais habilidade do que eu, e parecia bem melhor do que eu havia feito - Com que material irão fazer as chaves?

- Argila... Seulgi disse que conforme o tempo passasse ela endureceria e ficaria boa o suficiente-

- Temos duas semanas, Jennie, você tem que sair daqui antes disso... - ela pareceu pensar por alguns segundos - Calma, deixe-me pensar.

Ela passou um tempo calada, olhando em volta, abaixando a cabeça e parecia fazer algumas contas ou falava algo que eu não entendia. Até que me assustou quando estalou os dedos olhando para mim e sorrindo, parecendo que havia ganhado um prêmio.

- Os dutos de ventilação que há em meu quarto. Vai ser por lá que você e Seulgi iram fugir. Pelas as minhas contas... eles darão para a parte de trás do hospital aonde há uma floresta, eu preciso estudar isso antes.

- O que é o projeto vinte e dois? - perguntei quando ela se calou, cada pelo do seu braço se arrepiou, e ela tremeu no mesmo instante - Me responda por favor.

- Jen... é algo que nunca deveria ter existido, algo que o meu pai aplicou em minha mãe, e por causa disso... ela não está mais aqui comigo... e a culpa é minha... - por mais que ela não tivesse respondido a minha dúvida, eu fiquei quieta, me limitando a segurar a sua mão apenas por querer sentir mais dela, gostava de qualquer contato que ela tinha comigo, mesmo o mais pequeno - Não vou deixar que isso aconteça com você.

- Porque não ajuda as outras pacientes?

- Fui perceber isso tarde demais, pequena, estava monótono até você chegar. Você não deveria estar aqui, Jennie...

- O que eu fiz de errado? - sussurrei para ela que apertou a minha mão.

- Nada, pequena... você não fez nada de errado.

- Então porque estou aqui?

- Porque os seus pais estão errados, eles não sabem o que é amar ou gostar de alguém.

- Você sabe? - ela riu.

- Estou começando a saber agora, você está me ensinando isso.

- Eu...? Estou fazendo algo de errado de novo? - perguntei me sentindo culpada mais uma vez, eu não queria fazer nada de errado, eu não queria que Lalisa me odiasse e me tratasse como as outras enfermeiras, ela era a minha segurança - Me desculpe...

- Você não está fazendo nada de errado, e não peça desculpas. Está tudo bem. Guarde bem esse sabonete certo? Sorte que apenas eu o vi, mas outra pessoa poderia ter visto, você e Seulgi precisam ter mais cuidado.

- Conto a ela que irá nos ajudar?

- Não, ainda não. Ela não confia em mim, e de verdade não confie cem por cento nela, pequena. Eu irei estudar os dutos de ventilação e amanhã te explico o que irá fazer certo? - assenti.

Sorri quando ela me entregou uma barra de chocolate amargo antes de sair e trancar a porta, me sentei olhando para a janela e comendo aquele doce lentamente, por algum motivo talvez eu estava feliz, acho que ela me fez causar isso, mas eu ainda sim pensava no que falará minutos antes "estou começando a saber agora, você está me ensinando isso". Porém, o pequeno sorriso em meus lábios não sumiam, e eu até não me importava, não me importava pois foi ela que causou aquele sorriso, e eu gostava daquela sensação.

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora