Dois tesouros.pt1

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- Ok... ela não está com febre... será que foi algo que ela comeu? - podia ouvir a voz abafada de Seulgi, estava debaixo da coberta querendo que aquela tontura e aquele enjoo passasse o mais rápido possível.

- Vai fazer quase três dias que ela está assim, Seulgi, não é possível! Se fosse algo na comida nós duas também estaríamos passando mal!

- E se...

- Não, longe disso, claro que não! - Chaeyoung negou antes mesmo de Seulgi completar, minha atenção se redobrou quando sai debaixo da coberta, agora ficando em dúvida perante a opinião de Seulgi.

- 'E se' o que, Seulgi?

- Nada, Jen-

- Seulgi - olhei para Chaeyoung já me irritando com a sua barreira - 'E se' o que?

A mulher coçou a nuca, olhando para mim e depois para Chaeyoung que apenas negou com a cabeça. Me assustei quando ela estalou os dedos dando um pequeno sorriso.

- Eliza! Eliza deve saber! Esperem aqui!

Voltei a me deitar e a me esconder entre as grandes cobertas... três dias... faltava apenas quatro dias... QUATRO DIAS PARA LALISA VIR ME VISITAR!

Uma animação fora do normal tomou conta do meu peito, me fazendo esquecer dos enjoos repetitivos. Eu precisa comprar uma roupa nova! Fazer os cabelos! E... a comida favorita dela! Será que ela passaria a noite comigo? Por via das dúvidas eu me depilaria apenas por precaução. Porém, toda aquela excitação se foi assim que tocaram em minhas costas e eu acabei por voltar pro mundo normal, era Eliza.

- Hum... - ela murmurou assim que me viu - Enjoos não é? - assenti - Jennie... Jennie... - a mulher repetiu se sentando mais perto e segurando as minhas mãos, ela olhou cada centímetro do meu rosto e depois assentiu como se achasse uma certeza ali - Lalisa te ajudou muito não é? Eu sei que você a vê como o seu ponto de proteção, o seu porto seguro, o seu melhor porto seguro. E ela te vê assim também, você a salvou, a salvou de escolhas precipitadas, você a fez querer viver mais uma vez, e agora... alguém vai querer, vai precisar de vocês duas pra viver também.

- Quem...? - perguntei com um leve receio, um leve medo, e uma leve certeza.

- A alguém aqui - suas mãos caíram em minha barriga, minha garganta formando um nó imenso tentando formular o que estava acontecendo, Eliza tinha os olhos fechados e estava séria, mas sorriu depois de um tempo - Ah sim... tem alguém se formando aqui dentro... duas pessoas se formando aqui dentro... idênticas... idênticas a Lalisa, mas terá personalidades diferentes. Uma será calma como uma suave brisa, te trará muito orgulho, já a outra, difícil como um terremoto, mas irá te manter forte quando as ondas ruins vierem. Aqui dentro, Jennie... há dois tesouros que ajudará você e Lalisa a voltarem a serem como antes.

- E-eu... eu estou grávida - aquilo não era uma pergunta, e sim algo que eu precisa processar, meus olhos subiram para Chaeyoung, Seulgi e Kai, que se entreolhavam, era pra mim estar feliz, certo? - De gêmeas...?

- Acredite, Jennie... você pode estar assustada agora, ou até não ter gostado da notícia, mas essas meninas... serão a sua alegria quando tudo desmoronar. Vamos, ela precisa ficar sozinha e pensar um pouco.

Pensar? No que eu deveria pensar? Porque eu tinha que pensar?

Não era mais novidade caso eu não descesse pra jantar, estava sendo assim desde um tempo. Os dias se passaram lentamente, eu não conseguia sair do quarto e quando saía da cama era apenas para vomitar ou tomar banho. Até que havia se completamente sete dias, eu não fiz uma produção como havia planejado, ou ao menos preparado algo pra ela, não sabia como seria a sua reação, ela poderia dar uma desculpa e... nunca mais voltaria a me ver... e se ela não tivesse pronta para ser mãe, e não assumisse? Isso poderia acontecer... muitas coisas poderiam acontecer.

O sol estava razoavelmente fraco, o dia nublado mas ainda era duas horas da tarde quando me sentei em uma pedra ali na entrada da vila. Eu esperei... esperei... sorria e acenava para as outras mulheres que caminhavam até o rio com bacias de roupas, ou até conversava com uma criança ou outra. Estava preste a voltar para casa, mas parei assim que vi uma silhueta surgir na trilha.

Eu poderia reconhecê-la a quilômetros de distância...

Lalisa tinha um sorriso largo no rosto, e de longe pude ver as lágrimas que caiam de seus olhos, seus fios pretos soltos e enrolados na ponta e um ar de quem estava com saudade. Ela jogou a mochila no chão de qualquer jeito abrindo os braços quando corri até ela, me jogando contra o seu corpo e deixando os soluços tomarem conta do breve silêncio que se estendeu.

- Eu senti tanto a sua falta, Nini... eu senti tanta a sua falta, meu amor...

- Eu pensei que não iria vir... - murmurei ainda muito fraca e ficando tonta por conta da falta de ar que o meu choro causava - Por favor não pare de me abraçar...

- Estou aqui... estou aqui, minha pequena... estou aqui e não vou a lugar nenhum até amanhã de manhã - ela segurou o meu rosto, varrendo aqueles olhos verdes acastanhados por ali - Você está diferente...

- Hum?

- Parece abatida...

- Impressão sua, vem, aqui está ficando frio.

Lalisa pegou a sua mochila, me seguindo até a grande casa, Eliza a parou na porta, sorrindo para mim e depois para ela.

- Chegou na hora do jantar, querida. Me chamo Eliza, e esse é o meu filho Kai.

- Prazer em conhecê-la, Lalisa - Kai sorriu esticando a mão, mas Lisa não a pegou, o encarando de cima abaixo, o garoto ficou sem jeito, apenas coçando a nuca tentando disfarçar o grande vácuo que havia tomado.

- Porque não sobe e tome um banho? Jennie pode te mostrar o quarto.

Fiquei tensa, com medo de Eliza falar algo sobre a gravidez, mas ela só me olhou e assentiu. Segurei a mão de Lisa guiando-a para uma suíte que Kai havia arrumado para nós duas, dando a desculpa de que "as pombinhas não podem dividir o quarto com a Seulgi e a Chaeyoung na noite de amor" eu apenas ri do seu comentário, ele estava sendo um bom amigo.

- Kai... - ela murmurou - Vocês são amigos?

- Huhum, ele é um garoto legal - falei tirando o seu casaco e o deixando em cima de uma poltrona. Vi quando a sua mandíbula trancou - O que foi?

- Nada, vou tomar um banho para o jantar - fiquei sem entender quando ela passou por mim de um jeito frio, e até um pouco rude.

- Posso ir com você? - perguntei baixo, me retraindo um pouco sobre a sua mera ignorância aos meus olhos.

- Claro, meu amor... vem.

[...]

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora