Esse não é o plano

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Alguns meses depois

- Você acha que isso aqui vai dar?

- Tem que dar, pegue as pacientes da ala leste, eu vou ver se isso está muito bem preso, avise ao San que em trinta minutos elas estarão lá.

Caminhei rapidamente pelo o enorme corredor abrindo as três portas e guiando as três pacientes até o meu quarto, era a quarta fez que ajudávamos mais daquelas mulheres a fugirem, e mesmo assim parecia que brotava do chão mais e mais pacientes, meu pai começou a deixar guardas nas portas de todas as pacientes, mas com uma simples ordem eu os mandava para longe, e assim conseguia fazer com que mais e mais pacientes saíssem, eram três pacientes que fugiam uma vez por mês, já haviam se passado quatro meses desde que eu, Jisoo, San e Seonghwa colocamos esse plano em ação, eu tirava as pacientes dos quartos as guiando até o meu quarto, Jisoo as guiavam pelo o duto, San as recebia no chão já fora do hospital e Seonghwa as levava até uma certa parte da floresta aonde havíamos escondido um velho ônibus e lá ele as levava até a cidade mais próxima. Parecia dar certo.

Quando quase todas estivessem fora de perigo, colocaríamos fogo no prédio trancando meu pai, os seguranças e as enfermeiras lá dentro para que queimassem até a morte. Parecia um plano.

A gravidez da Jennie estava indo perfeitamente bem, e ela estava segura, Eliza cuidava muito bem dela, como se fosse sua filha, Kai também me parecia muito disposto a ajudar com tudo e isso me fez confiar um pouco mais nele, a barriga da minha mulher crescia, e o nosso amor incondicional pelo os dois seres que estavam ali dentro também, Jennie conversava com a barriga as vezes, eu ainda tinha um pouco de vergonha, mas sempre estava com a mão ali, acariciando ou apenas repousadas ali. Eu imaginava que a nossa vida seria mais do que feliz, seria incrível, mas porque... eu não conseguia sentir aquilo?

- Alguma de vocês tem medo de altura?

- Eu... - aquela era Olívia, uma mulher de meia idade, e que me preocupava sobre a saúde, era arriscado demais, por isso estávamos deixando que as mulheres mais velhas fossem primeiro, por serem mais delicadas e por requerer mais atenção e cuidado.

- Olívia, escuta, eu vou te ajudar a descer até um certo ponto, você será a última assim terá mais segurança assim que chegar ao chão, podemos ir?

- San, está na escuta? - perguntei assim que liguei o nosso walk talk.

- Na escuta, o que foi?

- Tenha mais atenção na última paciente que descer, cadê o Seonghwa?

- No começo da floresta.

- Ok, em pouco tempo elas chegaram aí.

- Entendido.

Ajudei elas a subirem fechando a grade assim que Jisoo subiu juntamente, meu coração parando assim que escutei passos no corredor, me virei a tempo de chutar o banquinho para debaixo da minha cama e correr até o meu guarda-roupa, minha respiração poderia ser escutada assim que a porta do meu quarto se abriu, e o perfume forte que eu já conhecia se fazer presente.

- O que está fazendo?

- Indo tomar banho, ou terei que pedir permissão pra fazer isso também?

- Fale direito comigo-

Seus olhos voaram para o duto de ventilação e o meu coração parou, eu ainda escutava sons distantes das três pacientes juntamente a Jisoo por ali, mas logo eles pararam, meu pai olhou para mim com uma feição parcialmente confusa e que começava a adotar um certo desafio.

- Nunca me contou que tinha um duto em meu quarto - comecei, formulando cada palavra, com medo de perder aquele jogo para ele - Aonde ele dá?

- Pra que quer saber?

- O quarto é meu, eu deveria saber? Essa pintura já estava me incomodando - então ele se aproximou, meus olhos se movendo junto a ele - Esse quarto era de quem antes de ser meu? - perguntei, é claro que eu não tinha um pingo de interesse, mas precisava da sua atenção, eu necessitava da sua atenção naquele momento. Meu pai fechou os olhos, balançou a cabeça em negação e se virou.

- É melhor você não saber.

- Se eu perguntei, é porque eu quero saber - respondi com a testa franzida, agora sim ficando curiosa - De quem era esse quarto, pai?

- Agora não, Lalisa.

- "Agora não, Lalisa"? Você nunca teve tempo pra mim, então porque está falando isso? - pela primeira vez, em anos, meu pai me encarou profundamente, como se quisesse ler a minha alma perante aquilo - Porque sente tanta raiva de mim? Porque me culpa... eu não escolhi vir ao mundo, eu não escolhi nascer, pai.

- Nem você e nem o seu irmão... - sussurrou.

- Irmão...?

Ele me encarou, seu ar poderoso sumindo assim que sussurrei aquela palavra, olhei em volta até a parte que estava o meu guarda-roupa e vi coisas marcadas ali, assim que forcei minha vista acho que o tempo parou.

Eram marcações de alturas, aquelas que todos os pais fazem em paredes para mostrarem aos filhos o quanto eles estavam crescendo.

Yohan - um ano
Yohan - dois anos
Yohan - três anos
Yohan - quatro anos
Yohan - cinco anos
Yohan - seis anos
Yohan - sete anos
Yohan - oito anos
Yohan - nove anos
Yohan- dez anos...

Elas pararam ali, nos dez anos, eu fiquei sem reação por muito tempo, aquilo sempre sempre esteve ali, e eu nunca havia percebido.

- Sua mãe não poderia engravidar de novo depois que tivemos o nosso primeiro filho, mas aí... você veio e estragou tudo, estávamos bem, estávamos todos bem sem você, Lalisa! Você matou a sua mãe e o seu irmão!

- Eu...? O que eu fiz?! Que porra você está falando!?

- Você pegou uma gripe assim que nasceu, e o seu irmão como era grudado em você acabou a pegando também, ele morreu, Lalisa! A gripe nele se tornou algo mais sério, o meu único filho, o meu único orgulho MORREU POR CULPA SUA! Tudo o que você toca morre, você matou a sua mãe assim que nasceu, você matou o seu irmão, você é a causa de tudo isso! Eu deveria ter te matado naquela noite, na merda daquele lago! MAS PORQUE RAIOS EU NÃO CONSEGUI? PORQUE RAIOS VOCÊ TEM QUE SER TÃO PARECIDA COM A SUA MÃE!?

- A culpa... não é... minha - falei em meio a soluços - Eu não pedi pra nascer...

- Eu não te matei aquele dia, mas hoje... nada me impede de te matar a qualquer hora.

Eu tremi quando ele bateu a porta e no mesmo segundo Jisoo saiu de dentro do duto, me abraçando fortemente, eu gritava contra o seu peito, sentindo um peso invisível em minhas costas, porque eu era a culpada? Porque?

- A culpa não é minha! - gritei, minha voz sendo abafada pelo o abraço forte de Jisoo que também chorava - Não é minha... não é minha...

- Sh... a culpa não é sua, Lisa, a culpa não é sua.

Depois de um longo tempo, um longo tempo de soluços e alguns gritos abafados, eu me afastei da minha melhor amiga, fechando os punhos e encarando a porta.

- Vamos acabar logo com isso - murmurei - Vamos tirar todas as mulheres daqui, agora.

- O q-que? Lisa, esse não é o plano-

- Foda-se o plano, Jisoo, iremos tirar todas as mulheres agora, e iremos queimar aquele filho da puta - a encarei - AGORA!

...

(preparados para o último capítulo? 👁👄👁)

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora