Ser normalizado

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"Lalisa"

- E vocês acham que isso é realmente necessário nos pacientes? Assim, sei que é um manicômio, mas tratamento de choque? Estupro-

- Não é estupro, senhorita Manoban-

- É sim! Vocês forçam as pacientes a terem relações sexuais!

- Estamos apenas aplicando um dos tratamentos. É preciso, as famílias as deixaram aqui por um único motivo, estamos arrumando-as, estamos livrando essas mulheres dessa doença.

- Não sabia que homossexualidade era uma doença - murmurei.

- Como, senhorita Manoban?

Eu neguei e com isso Wooyoung continuou com a sua reunião, batucava na mesa, sempre discordando com tudo, mas o que eu poderia fazer? Estava apenas seguindo a linhagem da família Manoban.

E que família...

- Hey, Lisa! Quer ajuda com a paciente 1996?

- Não, Seonghwa, preciso ganhar a confiança dela primeiro. Acho que ela é a paciente mais nova que temos aqui, não será nada fácil até ela perceber que não saíra daqui tão cedo.

- Ok, nos encontramos no refeitório então.

- Até - sorri colocando o meu jaleco e caminhando pelo o grande o corredor de quartos. Ouvia os choros das demais pacientes, algumas estavam ali a dois meses, outras a dois anos, nenhuma completamente conformada, nenhuma ainda havia entendido que para a família a homossexualidade era algo pecaminoso, monstruoso, horrível.

Céus se eles descobrem o quão diferente sou, posso ser sentenciada a morte...

Olhei para o número acima da porta daquele quarto "1996", senti um aperto em meu peito em vê-la tão encolhida no canto do quarto, isso acontecia com as novas pacientes. Me aproximei devagar, seus olhos me fitaram e junto a isso ela soltou um grito tão doloroso que fez os meus ouvidos doerem, ela se levantou com uma ira anormal em seu semblante fechando suas pequenas mãos e desferindo socos em meus peitos e ombros, seria doloroso se não fosse tão deprimente. Não era a primeira fez que eu era recebia a tapas de pacientes, mas os socos dela doíam até que demais.

Segurei os seus pulsos assim que ela perdeu a sua força a empurrando na cama e por fim amarrando as suas mãos e os seus pés, ela se debateu na cama, gritou tanto que por um minuto achei que estouraria as suas cordas vocais, a única coisa que eu pude fazer foi observá-la. Quando se esgotou fisicamente, começou a chorar perguntando a mim porque ela, porque ela estava ali e o porque de estar sendo tratada daquele jeito. As suas perguntas me feriam, e não deveriam pois todas as pacientes já passaram por isso, e em todas tratei com uma enorme indiferença, mas porque com ela era doloroso?

Acho que por ser a mais nova, e por ser uma das primeiras a ser levada para lá depois de anos.

- Eu não quero te machucar, mas também não posso deixar que me machuque - falei - Você está tornando isso mais difícil. Estou aqui para te ajudar e não para te machucar.

- Então me tire daqui... me deixe voltar para casa.

- Eu não posso fazer isso.

- Eu já disse que não sou louca... porque as pessoas não acreditam em mim? - respirei fundo, andando até a bandeja que havia deixando no chão e levando até ela.

- Vamos fazer um acordo, certo? Irei soltar as suas mãos e os seus pés agora, você irá comer o que tem aqui, sem me machucar, e quando terminar posso trazer uma barra de chocolate para você. Tudo bem?

- Eu não estou com fome.

- Creio que está mentindo, não comeu nada dês da noite passada, a não ser um sanduíche. Vamos, come isso.

Ela negou, me fazendo ter a paciência testada mais uma vez naquele dia, eu sabia que não era culpa dela, não era culpa de ninguém exatamente.

- Ok... - peguei uma colher daquela sopa, guiando até a sua boca, ela virou o rosto fazendo assim aquela gosma sujar a sua bochecha. Fechei os olhos e contei até dez, peguei um guardanapo limpando a sujeira que havia ficado em seu rosto, ela me olhava de canto, sempre recuando com medo de ser machucada - Qual é a sua comida favorita, Jennie?

- Macarronada... - sua voz era rouca por conta dos gritos que dera quando eu entrei no quarto.

- Certo, imagine então que isso é uma macarronada, verá que é bem mais fácil comer isso usando a imaginação.

- O cheiro não é igual...

- De fato - concordei levando mais uma vez a colher até a sua boca sendo aceita dessa vez - Mas o que os olhos não veem, o coração não sente, não é?

Ela fez uma careta assim que engoliu aquilo, agora sim aceitando as colheradas que eu dava em sua boca, em pouco tempo ela havia comido mais da metade mas percebi que ela não queria mais. Soltei uma de suas mãos entregando a ela o copo de leite o qual ela bebeu tudo de uma vez. Ainda fiquei com um pé atrás mas ao perceber a inocência em seu olhar, a soltei por fim, ela massageou o seu tornozelo por um tempo e me encarou assim que me levantei para sair.

- Mais tarde te levarei ao jardim, não irá fazer bem para a sua saúde ficar tanto tempo no quarto.

Fechei a porta e a tranquei logo em seguida, sorri quando vi San e Jisoo conversando ao longe dando uma pequena corrida para alcançá-los, respirando por fim quando fiquei ao lado deles.

- Correu uma maratona foi, Manoban?

- Estava no quarto da paciente 1996.

- A paciente que estava gritando? Céus deu pra ouvir os gritos dela do jardim!

- Ela mal sabe o que está acontecendo, deve estar assustada - San concluiu.

- Acho que vai ser difícil até ela se acostumar.

- Simplesmente não tem como se acostumar com aqui, Jisoo, nenhuma dessas pacientes deveriam estar "acostumadas" a estar aqui.

- E quem disse que fazer todo esse discurso muda a opinião do Wooyoung?

- Claro que não muda, nunca tentamos...

- E se-

- Não, Jisoo - a interrompi pois já sabia o que falaria - Meu pai nunca mudaria de ideia sobre isso tudo - Não podemos fazer nada, lembra que se tentarmos... eu posso ser descoberta? Só vocês dois sabem sobre o meu corpo.

- Sobre você ter um pinto-

- Shh, cala a boca, San! - murmurei o beliscando - Se alguém daqui descobre isso, eu posso ser internada!

- Ok, ok... vamos mudar de assunto.

Tudo seria mais fácil, era apenas ser normalizado...

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora