Eu não vou sem você

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"Lalisa"

- Certo, aqui temos um mapa sobre as ventilações, o melhor caminho a se seguir é pela ventilação do meu quarto, se seguirem reto e virarem apenas uma vez para a esquerda, vocês conseguem sair pela floresta que há atrás do hospital.

Seulgi, Jennie e Chaeyoung me escutavam atentamente, seguindo com os olhos aonde eu apontava no mapa que havia desenhado com os meus estudos. Eu me colocava no meio quando Chaeyoung tocava a mão de Jennie ou abraçava ela, não gostava do contato físico das duas, e eu de verdade não sabia o porque. Seulgi calculava tudo milimetricamente, como se já tivesse tudo pensado e a sua inteligência me assustava.

- Nessa floresta a uma trilha se seguirem pelo o norte, eu brincava lá quando era menor e sei que mais à frente há uma vila pequena, eu sei que eles podem ajudar vocês, não contem o que de fato aconteceu... apenas peça ajuda a eles.

- Espera... - Jennie me olhou - Você não vira com a gente?

- Eu... - parei pra pensar naquele momento, eu poderia ir? Mas... e se me pegassem? Elas poderiam ser pegas também, eu não poderia deixar a Jennie presa mais uma vez - Não se preocupe, Nini, conversamos sobre isso depois.

- Eu não vou sem você... - seus olhos agora eram suplicantes, como se tentasse me convencer de algo que eu ainda não tinha pensado com clareza - Lili...

- Não se preocupe com isso, certo? - segurei o seu rosto levemente acariciando a sua bochecha - Caso isso não de certo, temos o plano B, o plano da Seulgi. Como está o desenvolvimento da chave?

- Tenho deixado todos os dias no parapeito da janela, para absorver algum tipo de fonte - ela jogou a argila muito bem trabalhada para mim, estava quase no ponto certo - Você tem certeza que essa chave, abre todas as portas?

- É a chave mestra, Seulgi - confirmei - Não poderão sair pela porta principal, desse jeito vocês seriam pegas fácil demais. A porta da cozinha é a melhor solução.

- E quando vamos fazer isso? - Chaeyoung perguntou com aquele seu olhar, aquele olhar que não me agradava, ela inteira não me agradava.

- Três dias, daqui três dias essa chave estará perfeita o suficiente para o plano B - eu tremi, daqui três dia daria duas semanas, e se Jennie não saísse a tempo, ela passaria pelo o projeto vinte e dois.

- Até lá... temos que agir o mais normal possível.

- Tem alguém te esperando, Seulgi?

A mulher sorriu ao escutar a pergunta de Chaeyoung, seus olhos vagos se encheram de lágrimas e com as mãos trêmulas ela tirou o colar que usava, abrindo o pingente e mostrando a foto de uma bela mulher.

- Joohyun... minha noiva... - mostrou a nós - Eu prometi a ela que voltaria, e ela me prometeu que me esperaria... recebo uma carta dela uma vez ao mês, a saudade que eu sinto... me faz querer fazer qualquer coisa e ir embora daqui, por ela...

- Você vai sair daqui, Seulgi - a confortei colocando a mão no seu ombro - Todas vocês irão sair daqui.

- Você também, não é, Lili?

Acabei por não aguentar aquela pergunta, se eu continuasse olhando para ela desabaria em lágrimas, então apenas a puxei para um abraço caloroso, seu rosto escondido em meu peito enquanto seus braços pequenos apertavam a minha cintura naquele abraço, senti o cheiro do seu cabelo sorrindo quando ela olhou para mim. Eu não aguentaria perder ela.

Passei a tarde refletindo sobre muitas coisas, se seria melhor eu me afastar de Jennie, pois assim a despedida doeria menos, se eu iria fugir junto a elas... ou se apenas... as veria partir e deixariam apenas lembranças. Naquela noite depois do jantar, quando fui tomar banho, tudo o que eu havia segurado naquela mini reunião acabou saindo, eu não conseguia respirar de tanto que me pus a chorar. Chorei de medo, saudade, ansiedade, a água do chuveiro se misturava com as minhas lágrimas salgadas, que pareciam lâminas afiadas rasgando o meu rosto de várias formas, eu nunca deveria ter me aproximado de Jennie, não seria tão difícil assim.

Mais uma vez ela olhava para o lado de fora quando abri a porta, seus olhos emanavam esperança, ela sorria, um sorriso que eu nunca mais veria depois de três dias, porque doía tanto? Era normal doer tanto?

- Hey... - sussurrei quando ela veio até mim, saltitando e batendo palmas curtas de animação. Seu abraço nunca doeu tanto igual aquele - Trouxe isso pra você - ela segurou a barra de chocolate amargo com os olhos brilhando, como da primeira vez, porém ela se virou caminhando até debaixo do seu travesseio e pegando uma rosa de papel machê, tão delicada que parecia real.

- Fiz pra você... - olhou para mim meio envergonhada. Meus olhos transbordaram em um pequeno lago de lágrimas acumuladas, eu não queria chorar na frente dela, mas foi difícil me manter firme quando ela ficou na ponta dos pés para deixar um leve selar em meus lábios - Não chore... eu não vou embora sem você.

Parecia que ela sabia o que se passava na minha cabeça, ela conseguia ver o meu medo, ela conseguia sentir o meu pavor em perdê-la, eu não poderia ir junto, talvez eu pudesse mas... e depois? Como seria tudo? Ficaríamos mesmo juntas depois? E se pegassem a gente?

- Eu não vou sem você, Lili...

- Tenho medo, Nini... - entreguei o que sentia com a voz embargada de pavor - E se pegarem a gente?

- Vamos ser pegas juntas então...

- Não... você não pode ficar presa aqui, você não...

- Você também não...

- Eu posso ser morta por conta disso, Jennie... você não entende.

- Quero morrer com você então - ela não me pareceu firme naquela frase, me fazendo parar por alguns segundos e apenas prestar atenção na nossa respiração - Se te pegarem, eu quero que me peguem junto, se te levarem, eu quero que me levem junto... e se te matarem... eu quero que matem junto, porque eu não vou a lugar algum sem você, Lalisa.

Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram naquele mesmo instante, parecia uma carga que apenas ela me passava, uma carga boa e... estranha.

- Eu não vou sem você, Lisa...

...

1996 (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora