Capítulo 1 - parte 1

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I’m standing on the bridgewaiting on the darkI throught that  you’d be here  by now

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I’m standing on the bridge
waiting on the dark
I throught that  you’d be here  
by now

There’s nothing but the rain
No footsteps on the ground
I’m listening but there’s no 
sound

Avril Lavigne, “I'm with you”

      Nunca fui de me arrepender por algo que fiz. Mas chegar para a Letícia e dizer que queria prestar a audição para o Ballet Imperial de Petrópolis foi uma das decisões mais difíceis que tomei.

      Eu sempre soube que cedo ou tarde esse dia iria chegar. Foi pra isso que ensaiei, treinei, durante anos, até alcançar o nível técnico e artístico que toda companhia deseja em suas bailarinas.

      Mesmo assim, é tão difícil encerrar um capítulo e começar outro… Deixar para trás as pessoas que eu amo, os amigos que fiz, o estúdio onde aprendi a dançar.

      Queria que esta fosse só mais uma manhã igual às outras, com meu cronograma definido: colégio de manhã, aula de balé à tarde. Eu assistindo ao ensaio de papai na Companhia Paulistana de Ballet, onde ele é Premier Danseur, e voltando pra casa na garupa de sua moto depois de comermos comida japonesa.

      Mas é meu último dia em São Paulo. O último dia de uma parte da minha vida, o fim de um capítulo de uma história em construção.

      Se eu tivesse mais alguns dias, faria muita coisa que não pude fazer por falta de tempo, devido aos ensaios que sempre terminam tarde, e por causa das apresentações do espetáculo Ato 2 de Lago dos Cisnes.

      A frase não posso, tenho ensaio, parece ter sido escrita especialmente para mim. Tanto tempo fazendo aulas, sessões intermináveis de alongamento até que meu corpo ficasse flexível e eu pudesse tocar minha perna na orelha quando a estendo em detiré, e alcançasse as proporções físicas perfeitas. Ensaios. Mais aulas.

      Foi um longo caminho, com certeza.

      Um suspiro foge por entre meus lábios carnudos, que parecem maiores por causa do aparelho de dente de pedrinhas azuis que uso há anos e que faz parte de mim. Ligo o botão do foda-se. Me entrego.

      Ando até o pequeno suporte parafusado na parede, faço os ajustes no iPhone e aciono o timer. Aponto a câmera para mim. Dou um meio sorriso enquanto ponho o pen drive no som. Aperto o play.

      Desfilo com graciosidade pelo piso flutuante com linóleo da sala de balé, em direção ao fundo. Apesar de serem só seis horas, posso ver através das paredes de vidro o vento balançando as copas das árvores e derrubando folhas, pronunciando uma manhã de chuva.

Princesa de CristalWhere stories live. Discover now