O som do piano se mistura aos gritos da mulher, que pede braços, braços, não atrasem os braços de segunda, e impaciente, grita: onde estão as quintas posições de pernas de vocês?
Tento ficar fechada no meu mundo. Giro pirouette en dehor ao lado da barra e procuro não dar campo para distrações com correções à alunas que não vão ser minhas colegas, já que sou de um nível inferior.
Só que não posso deixar de notar que a Dominique está bastante à vontade, está na cara que ela faz aula com as bailarinas profissionais com frequência.
A morena tem uma flexibilidade incrível, que Tatiana mostra ao pôr a mão no quadril dela e lhe esticar a perna em arabesque.
Em seguida, ela faz o mesmo comigo. Para minha surpresa, um sorriso de satisfação se forma nos lábios da mulher, talvez por ficar satisfeita com minha desenvoltura.
O exercício seguinte é o rond de jambe per terre. É sempre complicado manter o encaixe de quadril, ainda mais quando o exercício parte de derriere. Meu quadril tende a se deslocar e perder a linha, mandando a bunda para trás.
Tatiana me segura pela cintura. Sem querer, faço uma careta ao inalar seu hálito de cigarro enquanto ela fala ao meu ouvido.
— Você não tem que dar show. Mas pelo menos, faça certo.
Meus lábios semiabrem ao mesmo tempo em que meu tornozelo é segurado e meu pé faz, com ajuda dela, a circunferência no chão, deixando a marca da minha sapatilha de ponta. Fico com a impressão de que eu podia fazer isso sozinha.
Eu me odeio. Droga, esse era um dos meus exercícios preferidos na minha antiga escola. Será que não estou concentrada?
— Melhor agora. Consegue fazer um russo³? Posso contar com você?
Aprendi esse movimento no ano passado, acho sua execução bem fácil, graças – de novo – à minha flexibilidade. Jogo minha perna esticada para o lado e para cima, recolhendo-a dobrada como um chicote.
— Ah, obrigada — a ironia na expressão da mulher me deixa um pouco brava. Claro que escondo isso atrás do meu sorriso artístico e altivo.
Deixo um suspiro aborrecido fugir da minha boca assim que Tatiana anda até o piano para tomar sua garrafa de água, e aproveito para me hidratar também.
Lívia se apoia de costas na barra folgadamente, sorrindo simpática.
— Você está indo muito bem — fala segurando minha mão.
— Não é o que a professora acha — enxugo uma gota de suor ao responder.
— Vai por mim. Ela é assim com todo mundo. Se ela ficar em cima de você, é porque sabe que você pode fazer muito mais.
Olho para Lívia com incredulidade.
Ponho a mão esquerda na barra e cruzo as pernas em quinta posição à espera do próximo exercício, que eu acho que deve ser o grand battement.
De novo a contagem de sete e oito. Acorde inicial, port de bras.
Up!
Letícia não estava muito animada comigo quando entrei em seu estúdio. Quem ficaria? Uma menina careca, recém recuperada da leucemia, com pernas compridas e flexíveis, porém quieta. Muito tempo depois a gente riu quando ela disse que eu parecia a Wandinha, da Família Addams, só que careca. Só que a menina calada se soltou quando a música começou a tocar no som.
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Princesa de Cristal
Teen FictionA dança expressa o que o coração sente. Danielle sempre sonhou ser bailarina, e aos quinze anos de idade, é considerada um prodígio. Como filha da lendária Françoise Shushunova, Danny atrai para si os holofotes quando dança e irradia um...