Luna e eu andamos até onde deixamos a Paloma. Não conversamos muito dentro do carro por causa do cansaço. Já é tarde e a única coisa que eu quero é dormir, e quando chegamos na república, me deixo cair no sofá após tirar meu All Star vermelho. Luna sobe ao primeiro andar enquanto Paloma fica me fazendo companhia.
— Está cansada? — ela pergunta tirando os brincos.
Rio de olhos fechados, fazendo que sim com a cabeça.
— E pensar que tenho que acordar cedo amanhã…
— Então é melhor dormir.
— Estou com preguiça de subir a escada. Me leva carregando?
Paloma ri da minha brincadeira, atirando em mim uma almofada do outro sofá.
— Eu tenho cara de quem tem uma filha adolescente?
— Me adota? — estendo os braços fazendo cara de menina carente.
Tomo outra almofada no rosto.
— Obrigada por ter ido com a gente — agradeço, sorrindo.
— Imagina. Eu é que não deixaria duas meninas andando sozinha à noite pelo Rio de Janeiro.
— Mas você gostou, não é? Valeu a pena ficar quase duas horas assistindo.
O brilho nos olhos da monitora dispensa palavras.
— É bom fazer algo diferente de vez em quando — ela dá de ombros, vai à cozinha.
Me levanto num pulo, vou atrás de Paloma. Ela está de costas para mim, tirando algo da geladeira que logo vejo que é uma garrafa de vidro com suco de uva, sem açúcar.
Não sei quase nada dessa moça, a não ser que ela é de Botafogo e cozinha super bem. E claro, tem obsessão em manter tudo em ordem. Nunca a ouvi cantando nenhum trecho de música, não sei quais são seus cantores preferidos.
Ela se importa conosco de verdade, como só uma mãe faz. Mas eu não sei quem Paloma é.
— Quer um gole? — me oferece um copo vazio.
— Quero — falo, e ela despeja o suco.
A bebida lembra vinho, mas sem álcool. É simplesmente delicioso.
— Bom — ela lava o copo e o guarda —, já é tarde e preciso me recolher. Você apaga a luz?
— Claro.
— Valeu, Danny. Eu venho amanhã cedo, antes de ir trabalhar.
— Pah, já é a segunda vez que você fala nesse seu outro trabalho, mas até agora não falou o que é. O que você faz?
A moça negra semiabre a boca, hesitando em responder.
— Eu danço.
— Não acredito. Sério? Que tipo de dança?
— Aeróbica. Eu danço num programa de tv que apresenta variedades, sabe… Cantores, quadros… essas coisas. Ele passa aos domingos.
— Então, você também é bailarina?
Paloma ri como se tivesse ouvido uma piada.
— Imagina. O que eu faço não pode nem ser chamado de balé. Eu só fico numa arquibancada com outras moças, usando um collant de cores neon, tênis de cano alto, meias e o cabelo preso em rabo de cavalo. Tudo o que eu faço é pular, mexer os braços e as pernas, de vez em quando rebolo, enquanto uma apresentadora fala pelos cotovelos.
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Princesa de Cristal
Fiksi RemajaA dança expressa o que o coração sente. Danielle sempre sonhou ser bailarina, e aos quinze anos de idade, é considerada um prodígio. Como filha da lendária Françoise Shushunova, Danny atrai para si os holofotes quando dança e irradia um...