PARTE 2: O CONTO DOS TRÊS URSOS

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PRÓLOGO

O calor na floresta deixa Mia preguiçosa.

Depois de ter limpado a casa e cortado madeira, ela almoçou os restos de coelho com as últimas das barras de cereal — não exatamente um banquete, mas a comida estava bem escassa. Kate tinha mandado bilhete via Cree fazia alguns dias, mas nenhum sinal dela ainda.

Cree, se for esperto de verdade, está se banhando em uma poça d'água fresquinha e aliviando o calor.

Deitada no chão lendo um livro, Mia pensa que deve sair para caçar amanhã ou depois. Ugh, chega de coelho. Se tudo der certo, Kate está chegando logo mais e vai trazer comida boa de novo.

É com isso na cabeça que Mia senta e apura os ouvidos quando ouve as pedrinhas lá fora. Finalmente! Mas o barulho aumenta. Não parece uma bicicleta... Parece algo grande e pesado. Aquele som imediatamente a leva de volta anos atrás, quando seu pai chegava do trabalho de carro e estacionava na garagem.

Um carro.

Mia fecha o livro e levanta do chão, tensa. Um carro? Ela pega a espingarda apoiada no canto da lareira e se esgueira até a janela. Pela cortina ela vê uma picape preta enorme vindo pela estradinha, e ela para atrás da caminhonete enferrujada do outro lado da clareira.

— O que-

A picape é chique. Bem empoeirada. Alta e larga. É esse o tipo de carro que estão usando no fim do mundo?

A porta do motorista abre e um homem loiro, alto e magro sai de lá. Mia ajeita a arma na mão. Como essa pessoa chegou aqui? Quem é ele? Como ele-

Kate. Ela aparece dando a volta na frente do carro, feliz. Kate está aqui.

Mia segura a espingarda com firmeza e abre a porta, tensa e confusa. O cara loiro olha para ela.

— Mia! — Kate sorri, animada. Ela avança na direção de Mia e abre os braços.

— Oi...

Kate a abraça bem apertado, mas Mia não consegue tirar os olhos do cara estranho. De onde ele veio? Ela e Kate eram as únicas que tinham sobrado.

— Você cresceu — Kate ajeita o cabelo dela. — Daqui a pouco me passa!

— Quem é esse aí?

— Uh- — ele vacila, nervoso.

— O nome dele é Ben — Kate explica, um pouco apreensiva. Mia não tinha uma expressão amigável.

— Isso. — ele se aproxima, um tanto tímido. — Meu nome é Ben. Eu e a Kate nos esbarramos em River Cline.

— Huh.

Ele é magro e pálido; parece doente. Cabelo cor de palha e olhos azuis. Não parece ser perigoso... Kate o trouxe aqui, então deve ser seguro...

— Meu nome é Mia.

— Prazer em te conhecer, Mia. A Kate falou de você a viagem toda.

— Ah, é? — ela vira para a outra.

— Só um pouquinho — Kate dá uma risadinha encabulada. — Você almoçou? Trouxemos bastante coisa!

— Almocei sim.

Ben vai até o carro e afasta a lona que cobre o bagageiro, revelando pilhas de sacos de lixo e algumas malas grandes.

— Tudo isso?

— Sim — Kate sorri. — É muita coisa mesmo, então amanhã descarregamos. Eu tô quebrada da viagem.

— Eu também. — Ben ajeita a lona no lugar e chega perto delas.

Ele está se sentindo bem à vontade, não?

— Você tem um sotaque engraçado. — Mia ergue o queixo. — De onde você é mesmo?

— Dos- Uh, dos Estados Unidos. Tennessee.

— Longe, né? E o que você tá fazendo aqui exatamente?

Ben se encolhe um tantinho e Kate a acerta com o cotovelo, brava.

— O Ben é uma das únicas pessoas que restaram, então ele é convidado na nossa casa até quando quiser ficar. Seja mais legal.

Ótimo. Kate convidara uma pessoa estranha para a casa delas e nem tinha avisado.

Ugh. Está calor demais para ficar estressada. Mia pendura a arma no ombro e, afastando-se na direção oposta, diz:

— Tanto faz. Vô pegar uns peixes pra janta.

Pelo menos assim ela enfia os pés na água e se refresca um pouco.

Um grasnado alto soa do céu e um pássaro preto aparece voando entre os topos das árvores.

— Cree! — Kate chama, acenando.

Ele desce rapidamente e pousa no braço de Kate, enchendo-a de carinho. Depois ele pula para o ombro de Ben e bagunça o cabelo dele.

Mia suspira. Traidor.

Ela coloca a arma ao lado da porta e dá a volta na cabine, pegando a lança de pesca e uma cesta no armarinho das ferramentas, e deixa Kate e o cara para trás. O estresse a deixa com mais calor ainda.

A trilha no chão leva até uma pequena escadinha de madeira na lateral da colina, que desce vários metros até o córrego lá embaixo. A água que desce não está muito rápida ou turbulenta hoje, fazendo pouca espuma quando bate nas rochas das margens. Mia salta pelas pedras rio abaixo, com a lança firme na mão, até uma parte mais larga e rasa do córrego, bem afastada de casa.

— Quem é aquele cara? — ela reclama consigo mesma, pisando com cuidado nas pedras úmidas. Mia senta na maior das pedras e tira os tênis e as meias, mergulhando os pés na água corrente. — Que ódio.

E agora? Uma pessoa estranha na casa dela. Um menino. Onde esse cara vai dormir? O Floresta Fashion Week já era.

Mia joga água no rosto e na nuca, ainda quente de raiva. Pelo menos o sol já está abaixando no céu. Ugh, ela tem fome. Melhor apressar o jantar.

Mia levanta, pega sua lança e começa a rondar as margens com cuidado, tentando encontrar peixes entre as pedras. O ventinho que vem das árvores ajuda a secar o suor no rosto dela.

Em menos de 40 minutos Mia consegue trutas o suficiente para todos. Especialmente para Ben, que parece tão desnutrido. Ugh, agora ela tinha que se preocupar em caçar para alimentar mais uma pessoa.

Mia joga a cesta de galhos no ombro e perambula pelas pedras reclamando consigo mesma na volta até em casa. Ela sobe as escadinhas da colina e se depara com Kate acendendo a fogueira e o rapaz montando a mesa ao lado dela, prontos para preparar o jantar.


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Observações finais

Felicitações, leitores e leitoras! Vamos torcer pra que 2021 seja menos pior que 2020 hehe

Chego nesse ano novo com capítulos novos da segunda parte de Mortos Revivem! Espero que gostem e estejam prontos pra ler sobre as aventuras de Kate, Mia e Ben na floresta. Tenho muita coisa planejada, mas nem tanta escrita ainda, então peço um tantinho de paciência, ok?

Aos novos leitores, sejam bem vindos! Aos que já são da casa, sintam-se à vontade hahahah

O próximo capítulo sai amanhã; esse prólogo é só uma palinha do que vem por aí. A gente se vê logo mais!

Mortos RevivemOnde histórias criam vida. Descubra agora