- Cheguei!
Kate ergue os olhos na direção da porta, vendo Jennifer entrando junto com seu namorado francês, Hugo.
- Cara, tô cansada. Nem acredito que a gente tem um voo pra pegar ainda.
- Onde deixo minhas coisas? - ele pergunta.
Jen e Hugo passam pela porta carregando grandes mochilas de acampamento e uma barraca enrolada debaixo do braço.
- Oi, Kate! - Jen acena e sorri, tirando a mochila pesada do ombro - Coloca tudo isso no meu quarto, amor. Eu arrumo tudo quando voltarmos.
- Ok. Oi, Kate.
Kate sorri para os dois, ainda meio nervosa.
- Oi, Hugo. Como foram de viagem?
- Fui picado - ele mostra o cotovelo, lamentando a bolinha vermelha - Acho que montamos a barraca perto de uma colmeia, porque as abelhas entravam em absolutamente tudo.
- Hmmm.
Kate respira fundo, vendo Jen e Hugo deixando as coisas no quarto e colocando as malas da viagem ao lado da porta. Kate não faz ideia de como convencer Jen a não ir. Se contasse que está aflita por causa de postagens em espanhol num aplicativo, Jen a passaria o contato do terapeuta de novo.
Mesmo que a ameaça seja falsa, ou não tão grave assim, ou só uma pegadinha, ou permaneça isolada na América do Sul... Talvez não seja a hora ideal para ir visitar os pais do namorado no Quebec, especialmente pela primeira vez. A mãe de Kate já havia lhe chamado de paranoica; ela não precisa que Jen pense isso dela também.
A porta do banheiro no corredor fecha e o chuveiro liga. Hugo está no banho. Kate deixa o computador no sofá e atravessa a sala na direção do quarto de Jen. Ela está separando as roupas da viagem, colocando as sujas no cesto e passando outros pertences para sua mala de mão.
- Uh, Jen...
- Oi.
Parada na porta, Kate sente a ansiedade explodir dentro do peito. O quarto de Jen não ajuda: há pôsteres e fotos colados na parede, coisas no chão e cobrindo a cama toda, cortina torta, pilhas de roupas penduradas na cadeira. Deuses, parece um campo de guerra.
- Escuta, deixa eu te falar uma coisa.
Jen levanta do chão depois de colocar um par de sapatos na mochila e pega a toalha pendurada na porta do armário.
- Fala.
- ... - Kate esfrega as mãos - Enquanto tava tomando conta da Mia, vi na internet umas postagens na comunidade argentina...
- Huh - Jen cruza os braços, expressão curiosa no rosto e sorriso na boca.
- No dia 26, o Edmonton Journal publicou uma matéria falando sobre um vírus da raiva mutante que foi descoberto na Patagônia. - quanto mais Kate fala, mais idiota ela percebe que soa. - Então, comecei a ver posts no grupo da Argentina falando sobre um contágio. Li no La Nacion, que é um jornal-
- Calma. O quê? Um vírus mutante da raiva escapou da Patagônia e tá infectando todo mundo na Argentina?
- A matéria do La Nacion disse que o vírus está subindo a Argentina na direção dos outros países e é muito contagioso e tem a taxa de mortalidade em mais de 90%, mais que o Ebo-
- Você tá chapada? - Jen pergunta tão inocentemente como se quisesse saber se Kate aceitaria um copo d'água.
- Não! Tô falando que tem um vírus novo e mais letal que o Corona subindo as Américas e eu não acho que é hora de você sair de casa! Talvez o governo decrete quarentena! - Kate desabafa, irritada e confusa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mortos Revivem
Science Fiction"Cientistas argentinos descobrem vírus milenar em geleiras da Patagônia" Essa foi a manchete que Kate leu na tarde de 30 de junho. Uma cepa antiga e mutada de vírus da raiva é descoberta na Argentina e se espalha pelas Américas em duas semanas, mata...