Capítulo XII

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O carro dos Paoli faz um escândalo na rua deserta e escura, chamando a atenção de toda e qualquer coisa nas proximidades. Josh, de pijamas, está desesperado.

Imediatamente um morto atravessa os gramados vizinhos, atraído pelas luzes e pelo barulho do carro. Ele grita, despertando todos os outros como um alarme.

Josh continua apertando o botão da chave do carro. Marta aparece na porta da casa, gritando:

— VOLTA! VOLTA!

— PAPAI!

Kate gruda o rosto no vidro, embaçando-o com sua respiração.

Josh bate no morto com seu taco de hockey, mas outro se aproxima rapidamente. E outro. E outro. Todos os mortos da rua correm na direção da casa como animais famintos, gritando e se retorcendo, pisoteando uns aos outros.

— Não!

Josh tenta recuar até a casa, mas um morto se aproxima por trás e o derruba no chão. Ele grita e outros mortos caem em cima dele, pintando o chão de vermelho. Mia e Marta gritam, desesperadas, e Marta fecha a porta. Quatro mortos jogam-se nela com todas as forças e ela racha no meio. Mia continua gritando lá dentro e a porta é esmurrada violentamente. Kate perde totalmente o fôlego. Os vidros das janelas quebram e as tábuas mal aguentam o impacto

Os gritos de Mia chamam a atenção até dos mortos que atacavam Josh. Eles levantam para bater na porta e nas paredes junto com os outros, deixando uma massa deformada ensanguentada no chão. Kate sente a cabeça ficar leve de tontura.

Pelo menos cinquenta mortos atacam a casa dos Paoli. As janelas e a porta cedem quase ao mesmo tempo e os mortos jorram para dentro como água. Dois, três tiros ecoam na cabeça de Kate, e mais gritos desesperados. Mais batidas fortes: tump, tump, tump.

Mia aparece em seu quarto e tranca a porta. Kate grita, desesperada. Mia corre até a janela e grita e acena na direção de Kate.

Kate destranca sua porta rapidamente e abre uma fresta. A rua está deserta, cheia de sangue. Mia continua gritando e acenando.

— KATE, SOCORRO! SOCORRO! ME AJUDA!

A porta do quarto dela começa a tremer.

— No telhado! — Kate grita de volta.

Mia empurra a janela e passa as pequenas pernas pela beirada, andando cuidadosamente no telhado em cima da garagem. A porta do quarto quebra no meio.

— Pula no carro!

Mia desce o telhado até o carro cinza e pula em seu teto amassado. Kate mal consegue respirar. Mortos explodem a porta e invadem o quarto de Mia aos montes, derrubando-se.

— Rápido, Mia! Rápido!

Mia pula no capô e depois para o chão, correndo desesperadamente. Kate abre a porta e ela se joga para dentro com um baque. Kate bate a porta e fecha todas as trancas, correndo para a janela. Ela espia por uma fresta da cortina e vê mortos pulando a janela do quarto de Mia e rolando pelo telhado, para cair no chão como um saco de batatas. Não, nenhum deles tinha visto Mia entrar.

Kate se vira e vê Mia jogada no chão perto da porta, tremendo violentamente. Kate a levanta pelos braços e a leva para o sofá, abraçando-a com força e deixando algumas lágrimas escaparem.

— Mia? — ela se afasta e limpa o rosto, fungando. — Mia, você tá bem? Tá machucada?

Ela pega o rosto da menina e o beija, chorando mais um pouco.

— Não...

— Tem alguma coisa doendo?

— Não...

Kate analisa o corpo dela rapidamente e não vê sinal de machucados ou sangue. Mia está perfeita, só um pouco desgrenhada. E não para de tremer. O rosto dela está tão, tão pálido e assustado que ela parece um fantasma.

— Fica aqui, ok? Fica quietinha.

Ela balança a cabeça e Kate levanta para pegar água e bolachas. Mia toma alguns goles e rejeita a comida.

— Tá tudo bem agora. — Kate acaricia o cabelo dela — Prometo.

Mia a abraça pela cintura e esconde o rosto em seu ombro, fechando os olhos. Kate a abraça de volta, derramando mais lágrimas, e continua a acariciar seu cabelo.

.

.

Perto das três da manhã, Mia dormiu no sofá.

Kate ficou acordada a madrugada toda na janela, observando os mortos lá fora e fazendo anotações em seu caderno. A grande maioria deles tinha sido atraída para fora da casa por um guaxinim, mas Kate podia ver pelas janelas e pela porta quebradas três mortos perambulando lá dentro. Agora, sem nada para caçar, os outros estavam parados no meio da rua, balançando e se contorcendo. As peles deles estavam cheias de buracos por causa das bolhas, e mais bolhas pareciam crescer umas em cima das outras. Vários rastejavam pelo chão, com as pernas quebradas da queda do telhado, e alguns até tinham pescoços ou coluna tortos.

Quando começou a amanhecer, Kate respirou mais aliviada.

Sentada na mesa da cozinha com uma caneca de café, Kate desentope a mente em seu caderno de desenho. Ela desenha tudo o que é recorrente: aquele morto na janela, o primeiro que ela vira; eles atacando a casa dos Paoli; ajoelhados no chão enquanto atacavam aquela família do final da rua; escorregando pelo telhado; passeando na rua. A mente dela ficava reprisando essas mesmas imagens o tempo inteiro, como se pedissem para serem desenhadas. Colocadas para fora. Kate sequer percebeu quando terminou de preencher a quinta folha de seu caderno, mas logo voltou à realidade com passos no chão de madeira.

Kate olha para a porta e Mia entra, coçando os olhos. Kate fecha o caderno e levanta, indo na direção dela:

— Oi, bom dia, querida. Tá com fome? — Mia balança a cabeça e suspira. — Vamos comer.

Mia senta na cadeira, quieta como um fantasma. A expressão dela está bem melhor e a pele tinha recuperado o tom de âmbar marrom. Os cachos dela estão amassados.

Rapidamente Kate lhe dá um copo com leite e achocolatado e pão com geleia, separando mais café e bolachas para si. Mia come tudo em silêncio, exausta. Kate a observa cuidadosamente e ajeita seus cachos.

— Quer dormir mais um pouco?

— Sim...

— Vamos lá pra cima.

Kate coloca a louça na pia e leva Mia até o segundo andar. Elas passam pelo banheiro e pelo quarto de Jen, seguindo até a última porta. Kate coloca Mia em sua cama e a cobre com uma manta. Ela boceja.

— Pronto, estamos confortáveis agora. — ela sorri e passa a mão em sua cabeça. — Bora tirar uma soneca.

— Kate, fica aqui comigo?

Os olhos de Mia ficam úmidos e ela se esconde debaixo da coberta.

— Claro. Vai um pouco pra lá.

Mia se ajeita e Kate deita também, suspirando. Mia se encolhe nos braços dela e suspira baixinho, sendo abraçada de volta.

Os olhos de Kate queimam de raiva.

Deu tudo errado.

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Observações finais

O próximo capítulo vem amanhã pq esse daqui é muito curto hehehe

Se gostou, considere deixar um comentário! Leio todos e respondo sempre que dá  :D

Mil beijos e até a próxima!

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