O carro dos Paoli faz um escândalo na rua deserta e escura, chamando a atenção de toda e qualquer coisa nas proximidades. Josh, de pijamas, está desesperado.
Imediatamente um morto atravessa os gramados vizinhos, atraído pelas luzes e pelo barulho do carro. Ele grita, despertando todos os outros como um alarme.
Josh continua apertando o botão da chave do carro. Marta aparece na porta da casa, gritando:
— VOLTA! VOLTA!
— PAPAI!
Kate gruda o rosto no vidro, embaçando-o com sua respiração.
Josh bate no morto com seu taco de hockey, mas outro se aproxima rapidamente. E outro. E outro. Todos os mortos da rua correm na direção da casa como animais famintos, gritando e se retorcendo, pisoteando uns aos outros.
— Não!
Josh tenta recuar até a casa, mas um morto se aproxima por trás e o derruba no chão. Ele grita e outros mortos caem em cima dele, pintando o chão de vermelho. Mia e Marta gritam, desesperadas, e Marta fecha a porta. Quatro mortos jogam-se nela com todas as forças e ela racha no meio. Mia continua gritando lá dentro e a porta é esmurrada violentamente. Kate perde totalmente o fôlego. Os vidros das janelas quebram e as tábuas mal aguentam o impacto
Os gritos de Mia chamam a atenção até dos mortos que atacavam Josh. Eles levantam para bater na porta e nas paredes junto com os outros, deixando uma massa deformada ensanguentada no chão. Kate sente a cabeça ficar leve de tontura.
Pelo menos cinquenta mortos atacam a casa dos Paoli. As janelas e a porta cedem quase ao mesmo tempo e os mortos jorram para dentro como água. Dois, três tiros ecoam na cabeça de Kate, e mais gritos desesperados. Mais batidas fortes: tump, tump, tump.
Mia aparece em seu quarto e tranca a porta. Kate grita, desesperada. Mia corre até a janela e grita e acena na direção de Kate.
Kate destranca sua porta rapidamente e abre uma fresta. A rua está deserta, cheia de sangue. Mia continua gritando e acenando.
— KATE, SOCORRO! SOCORRO! ME AJUDA!
A porta do quarto dela começa a tremer.
— No telhado! — Kate grita de volta.
Mia empurra a janela e passa as pequenas pernas pela beirada, andando cuidadosamente no telhado em cima da garagem. A porta do quarto quebra no meio.
— Pula no carro!
Mia desce o telhado até o carro cinza e pula em seu teto amassado. Kate mal consegue respirar. Mortos explodem a porta e invadem o quarto de Mia aos montes, derrubando-se.
— Rápido, Mia! Rápido!
Mia pula no capô e depois para o chão, correndo desesperadamente. Kate abre a porta e ela se joga para dentro com um baque. Kate bate a porta e fecha todas as trancas, correndo para a janela. Ela espia por uma fresta da cortina e vê mortos pulando a janela do quarto de Mia e rolando pelo telhado, para cair no chão como um saco de batatas. Não, nenhum deles tinha visto Mia entrar.
Kate se vira e vê Mia jogada no chão perto da porta, tremendo violentamente. Kate a levanta pelos braços e a leva para o sofá, abraçando-a com força e deixando algumas lágrimas escaparem.
— Mia? — ela se afasta e limpa o rosto, fungando. — Mia, você tá bem? Tá machucada?
Ela pega o rosto da menina e o beija, chorando mais um pouco.
— Não...
— Tem alguma coisa doendo?
— Não...
Kate analisa o corpo dela rapidamente e não vê sinal de machucados ou sangue. Mia está perfeita, só um pouco desgrenhada. E não para de tremer. O rosto dela está tão, tão pálido e assustado que ela parece um fantasma.
— Fica aqui, ok? Fica quietinha.
Ela balança a cabeça e Kate levanta para pegar água e bolachas. Mia toma alguns goles e rejeita a comida.
— Tá tudo bem agora. — Kate acaricia o cabelo dela — Prometo.
Mia a abraça pela cintura e esconde o rosto em seu ombro, fechando os olhos. Kate a abraça de volta, derramando mais lágrimas, e continua a acariciar seu cabelo.
.
.
Perto das três da manhã, Mia dormiu no sofá.
Kate ficou acordada a madrugada toda na janela, observando os mortos lá fora e fazendo anotações em seu caderno. A grande maioria deles tinha sido atraída para fora da casa por um guaxinim, mas Kate podia ver pelas janelas e pela porta quebradas três mortos perambulando lá dentro. Agora, sem nada para caçar, os outros estavam parados no meio da rua, balançando e se contorcendo. As peles deles estavam cheias de buracos por causa das bolhas, e mais bolhas pareciam crescer umas em cima das outras. Vários rastejavam pelo chão, com as pernas quebradas da queda do telhado, e alguns até tinham pescoços ou coluna tortos.
Quando começou a amanhecer, Kate respirou mais aliviada.
Sentada na mesa da cozinha com uma caneca de café, Kate desentope a mente em seu caderno de desenho. Ela desenha tudo o que é recorrente: aquele morto na janela, o primeiro que ela vira; eles atacando a casa dos Paoli; ajoelhados no chão enquanto atacavam aquela família do final da rua; escorregando pelo telhado; passeando na rua. A mente dela ficava reprisando essas mesmas imagens o tempo inteiro, como se pedissem para serem desenhadas. Colocadas para fora. Kate sequer percebeu quando terminou de preencher a quinta folha de seu caderno, mas logo voltou à realidade com passos no chão de madeira.
Kate olha para a porta e Mia entra, coçando os olhos. Kate fecha o caderno e levanta, indo na direção dela:
— Oi, bom dia, querida. Tá com fome? — Mia balança a cabeça e suspira. — Vamos comer.
Mia senta na cadeira, quieta como um fantasma. A expressão dela está bem melhor e a pele tinha recuperado o tom de âmbar marrom. Os cachos dela estão amassados.
Rapidamente Kate lhe dá um copo com leite e achocolatado e pão com geleia, separando mais café e bolachas para si. Mia come tudo em silêncio, exausta. Kate a observa cuidadosamente e ajeita seus cachos.
— Quer dormir mais um pouco?
— Sim...
— Vamos lá pra cima.
Kate coloca a louça na pia e leva Mia até o segundo andar. Elas passam pelo banheiro e pelo quarto de Jen, seguindo até a última porta. Kate coloca Mia em sua cama e a cobre com uma manta. Ela boceja.
— Pronto, estamos confortáveis agora. — ela sorri e passa a mão em sua cabeça. — Bora tirar uma soneca.
— Kate, fica aqui comigo?
Os olhos de Mia ficam úmidos e ela se esconde debaixo da coberta.
— Claro. Vai um pouco pra lá.
Mia se ajeita e Kate deita também, suspirando. Mia se encolhe nos braços dela e suspira baixinho, sendo abraçada de volta.
Os olhos de Kate queimam de raiva.
Deu tudo errado.
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Observações finais
O próximo capítulo vem amanhã pq esse daqui é muito curto hehehe
Se gostou, considere deixar um comentário! Leio todos e respondo sempre que dá :D
Mil beijos e até a próxima!
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Mortos Revivem
Science Fiction"Cientistas argentinos descobrem vírus milenar em geleiras da Patagônia" Essa foi a manchete que Kate leu na tarde de 30 de junho. Uma cepa antiga e mutada de vírus da raiva é descoberta na Argentina e se espalha pelas Américas em duas semanas, mata...