— Meu nome é Kate.
Kate abaixa o pé-de-cabra e senta nos joelhos, na altura do rapaz, mas ainda mantendo distância.
Ele a olha de cima a baixo algumas vezes, como se estivesse se perguntando se essa menina suja e com roupas estranhas era confiável. Quando ele se remexe um pouco para sentar direito, Kate vê uma mancha vermelha de sangue na região das costelas, que parece doer dada a expressão do rapaz.
— Meu nome é Ben.
— Você tá ferido, Ben? Eu tenho água e curativo.
O rosto dele se ilumina quando Kate lhe oferece ajuda. Ben também está imundo, cansado e desesperado por segurança.
— Você veio sozinho? — ela pergunta só para ter certeza, com medo de ser assassinada por um grupo de sobreviventes em pânico. Mas Ben só suspira e balança a cabeça afirmativamente, triste — Vem, deixa eu te ajudar. Vamos ali pra outra sala.
Kate guarda sua arma na mochila e estende as mãos para Ben. Ele guarda a arma, pega na mão dela, ainda segurando as costelas com a outra, e geme de dor e desconforto quando Kate o puxa para cima. Ele é mais alto, mas está tão desnutrido e fraco que não parece ameaçador. Kate junta todos os pertences dele e os enfia na mochila preta, levando-a consigo pelo corredor.
Ela vira a mesa e levanta duas cadeiras, colocando Ben sentado numa delas. Kate abre a mochila e tira uma bolsinha azul de dentro.
— Então — ela começa, ainda meio incerta. Ben só está um pouco pálido e cansado, não parece contaminado e nem morrendo. — Como você se machucou?
Ben a observa abrir a bolsinha e pegar tiras de pano e uma garrafa pequena com água lá de dentro. É tão bom ouvir a voz de outro ser humano que ele se distrai.
— Eu, uh- — ele gagueja, surpreso com a própria voz — Eu me cortei na cerca do estacionamento enquanto pulava.
— Entendi. — Kate abaixa nos joelhos e Ben ergue a camiseta com cuidado, mostrando um rasgo de alguns centímetros na lateral das costelas. Kate tenta esconder o desconforto e espirra água no local, que escorre pelo torso e pinga no chão. — Vamos torcer pra que sua vacina do tétano ainda esteja válida.
Ben resmunga quando Kate aperta o corte com um pedaço limpo de pano.
— Pronto. Segura isso no lugar.
Ela dá meia volta e começa a revirar coisas na bolsinha e em sua mochila. Ben continua respirando alto e forte, olhando o teto, mente vagando longe de cansaço.
— Pelo visto eu esqueci a cola em casa... — Kate suspira. Ben não sabe do que ela está falando, mas a vê sentar na outra cadeira e olhá-lo com atenção — Não tenho nada pra fechar esse corte aqui, mas se você quiser me seguir até em casa...
Ben não parece ser perigoso. Os olhos azuis dele estão cercados de cansaço, e ele está bem magro. Além do mais, está ferido e sozinho. Não é uma ameaça, e Kate daria conta dele se fosse.
E ela também deseja a companhia de outra pessoa, mesmo que só por um tempo.
Ben parece estar pensando a mesma coisa.
— Posso descansar um pouco lá também? — ele pergunta, incerto.
— Claro.
— Tudo bem então.
— Recolha suas coisas — Kate olha para o relógio no pulso — Tá ficando um pouco tarde e o Cree ainda tá me esperando lá fora.
— Tem mais gente com você?
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Mortos Revivem
Science Fiction"Cientistas argentinos descobrem vírus milenar em geleiras da Patagônia" Essa foi a manchete que Kate leu na tarde de 30 de junho. Uma cepa antiga e mutada de vírus da raiva é descoberta na Argentina e se espalha pelas Américas em duas semanas, mata...