Kate desperta com o vento sacudindo as janelas.
Cree abre as asas, alongando-se, e afaga o rosto dela com o bico. Kate acaricia sua cabeça e senta no sofá, olhando na direção da janela. O céu está tomado de nuvens cinzas e pesadas sendo arrastadas pelo vento forte. O relógio diz que são 11h20 da manhã.
— Mãe?
A voz faz o coração dela disparar. Kate vira o rosto e vê Ben deitado no tapete, encolhido, tremendo de leve. A respiração dele está acelerada e trêmula também.
— Mãe?
Ben está sonhando. Ou melhor, tendo algum pesadelo. Kate coloca Cree na almofada ao lado e observa Ben por mais alguns segundos. Ele parece tão frágil...
— Rachel? — ele chama.
Kate não faz ideia de quem seja Rachel, mas decide por acordá-lo. A pior coisa do mundo é ficar preso em um pesadelo sem conseguir acordar, vendo todo mundo morrer várias e várias vezes.
— Pai?
— Ben. — ela chama, tocando-o de leve no ombro. — Ben, acorda.
Ben solta um suspiro longo e pesado. Kate o toca de novo e ele ergue a cabeça, assustado e engasgado. Ele olha ao redor com os olhos arregalados, a cicatriz que desce pela testa até a sobrancelha distorcida e contrastante contra a palidez da pele dele. As sardas tinham sumido também. A expressão dele é de terror e, bom... Lembra Kate de quando Mia acorda com pesadelos também.
— Tá tudo be-
Ben levanta num pulo e ergue as mãos na frente do corpo, como se fosse trocar socos num rinque de boxe. Kate recua, com um pouco de medo, vendo Cree pular em seu joelho e abrir as asas para Ben, confrontando-o também.
Os olhos de Ben percorrem a sala do prefeito rapidamente. Por vários segundos ele mal consegue se lembrar onde está, confuso com as imagens vívidas da fazenda: a casa pegando fogo, os gritos dos porcos e das vacas sendo atacados, a fumaça que queima os pulmões, e os mortos entrando aos montes pela porta e pelas janelas, matando toda sua família.
Um bicho preto está no colo de uma garota. Ela é familiar, mas o nome dela não lhe vem à cabeça. Ben sente as pernas bambas e se apoia na parede, tonto e ofegante.
— Ei. — ela o chama, erguendo as mãos. — Fica calmo.
— Onde- — ele tropeça nos próprios pés e quase cai. — Onde-
— Senta — ela aponta para a poltrona de couro ali perto. — Ou você vai cair. Senta.
Ben consegue se arrastar até a poltrona, tossindo com o gosto de fumaça na boca. Ele consegue ouvi-los — estão chegando como uma manada e vêm terminar de matar todo mundo-
— Tá tudo bem. A gente está em River Cline, que fica em Alberta. No Canadá.
Kate o vê se encolher todo e cobrir o rosto e a cabeça com as mãos. Ela afaga Cree para que ele se acalme também e o coloca dentro do bolso interno do casaco, levantando-se do sofá e pegando água na mochila. Ela ajoelha na frente da poltrona.
— Bebe um pouco de água, Ben.
Ele continua se tremendo todo quando descobre o rosto e pega a garrafa.
— Tá tudo bem. Se lembrou?
Ele balança a cabeça entre goles. Kate lhe dá um sorriso encorajador.
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Mortos Revivem
Science Fiction"Cientistas argentinos descobrem vírus milenar em geleiras da Patagônia" Essa foi a manchete que Kate leu na tarde de 30 de junho. Uma cepa antiga e mutada de vírus da raiva é descoberta na Argentina e se espalha pelas Américas em duas semanas, mata...