Capítulo XI

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Kate desperta com o vento sacudindo as janelas.

Cree abre as asas, alongando-se, e afaga o rosto dela com o bico. Kate acaricia sua cabeça e senta no sofá, olhando na direção da janela. O céu está tomado de nuvens cinzas e pesadas sendo arrastadas pelo vento forte. O relógio diz que são 11h20 da manhã.

— Mãe?

A voz faz o coração dela disparar. Kate vira o rosto e vê Ben deitado no tapete, encolhido, tremendo de leve. A respiração dele está acelerada e trêmula também.

— Mãe?

Ben está sonhando. Ou melhor, tendo algum pesadelo. Kate coloca Cree na almofada ao lado e observa Ben por mais alguns segundos. Ele parece tão frágil...

— Rachel? — ele chama.

Kate não faz ideia de quem seja Rachel, mas decide por acordá-lo. A pior coisa do mundo é ficar preso em um pesadelo sem conseguir acordar, vendo todo mundo morrer várias e várias vezes.

— Pai?

— Ben. — ela chama, tocando-o de leve no ombro. — Ben, acorda.

Ben solta um suspiro longo e pesado. Kate o toca de novo e ele ergue a cabeça, assustado e engasgado. Ele olha ao redor com os olhos arregalados, a cicatriz que desce pela testa até a sobrancelha distorcida e contrastante contra a palidez da pele dele. As sardas tinham sumido também. A expressão dele é de terror e, bom... Lembra Kate de quando Mia acorda com pesadelos também.

— Tá tudo be-

Ben levanta num pulo e ergue as mãos na frente do corpo, como se fosse trocar socos num rinque de boxe. Kate recua, com um pouco de medo, vendo Cree pular em seu joelho e abrir as asas para Ben, confrontando-o também.

Os olhos de Ben percorrem a sala do prefeito rapidamente. Por vários segundos ele mal consegue se lembrar onde está, confuso com as imagens vívidas da fazenda: a casa pegando fogo, os gritos dos porcos e das vacas sendo atacados, a fumaça que queima os pulmões, e os mortos entrando aos montes pela porta e pelas janelas, matando toda sua família.

Um bicho preto está no colo de uma garota. Ela é familiar, mas o nome dela não lhe vem à cabeça. Ben sente as pernas bambas e se apoia na parede, tonto e ofegante.

— Ei. — ela o chama, erguendo as mãos. — Fica calmo.

— Onde- — ele tropeça nos próprios pés e quase cai. — Onde-

— Senta — ela aponta para a poltrona de couro ali perto. — Ou você vai cair. Senta.

Ben consegue se arrastar até a poltrona, tossindo com o gosto de fumaça na boca. Ele consegue ouvi-los — estão chegando como uma manada e vêm terminar de matar todo mundo-

— Tá tudo bem. A gente está em River Cline, que fica em Alberta. No Canadá.

Kate o vê se encolher todo e cobrir o rosto e a cabeça com as mãos. Ela afaga Cree para que ele se acalme também e o coloca dentro do bolso interno do casaco, levantando-se do sofá e pegando água na mochila. Ela ajoelha na frente da poltrona.

— Bebe um pouco de água, Ben.

Ele continua se tremendo todo quando descobre o rosto e pega a garrafa.

— Tá tudo bem. Se lembrou?

Ele balança a cabeça entre goles. Kate lhe dá um sorriso encorajador.

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