Para Mia e Kate, morar na cabine dos guardas florestais na região central do parque é simplesmente perfeito. Ali há água, é de fácil acesso, não fica tão longe do antigo centro comercial e do hotel, é uma região que não tem muitos predadores grandes — além de Manny, o leão-da-montanha de três patas, que sempre foge assustado quando alguém chega perto; e as ocasionais raposas que aprontam no mato — e tem várias opções de caça nas redondezas. O guia que Mia conseguiu na loja de caça em Jasper mostra claramente a cabine no meio do território de porcos, perus, veados, perdizes, coelhos e patos, com trilhas antigas que levam a todos eles; o cardápio é grande e diverso em sua maioria, por isso Kate está cansada de comer peixe quase todo dia depois que Mia descobriu sua paixão por pesca. Eles precisam de mais gordura, mais proteínas, mais comida para poder engordar o suficiente para o inverno.
Ben, tentando conciliar todo mundo, sugere:
— Veados têm bastante gordura. Podemos caçar um se você quiser.
— Mas aí tem que ser com uma arma. — Mia revira os olhos, de braços cruzados. — Eu não gosto de armas e não sei atirar direito.
— Eu atiro, então. — Ben, da mesa da cozinha, olha para Kate no tapete. Ela está um pouquinho mal-humorada depois de discutir com Mia. — Na verdade, Kate, você nunca veio caçar com a gente. Que tal?
— E-Eu — ela arregala os olhos, recuando um pouquinho. —, ahn, não gosto muito de caçar.
— Quer vir? —Mia pergunta. — Você pode só observar.
— ... — Kate até que gosta da ideia. Faz muito tempo desde a última vez que ela caçara com Mia, logo quando tinham chegado em Jasper. Faz muito tempo desde que, bom, ela matara alguma coisa. — Posso... tentar atirar?
Mia deixa a boca abrir, surpresa; ao mesmo tempo, Ben ergue as sobrancelhas, feliz, e pergunta:
— Você sabe atirar com a espingarda?
— Sei, mas não sou muito boa.
— Você atira bem melhor que eu — Mia finalmente sorri e levanta da cadeira, animada. — Que milagre! Kate vai pegar nosso jantar!
Kate ri e levanta do chão, ajeitando a roupa. Ela sente-se nervosa de ter que matar um pobre veadinho, mas acha que já deveria ter se acostumado com isso depois de anos vivendo na floresta. Sente-se disposta a tentar de novo.
— Mas eu me recuso a tirar as tripas! Tudo tem limite.
— A gente limpa e você cozinha. — Ben também levanta e pega a espingarda apoiada ao lado da lareira, colocando-a na mão de Kate. — Toma, vai pegar sua mochila também.
Kate e Mia dão risadinhas empolgadas enquanto arrumam suas coisas, e minutos depois os três partem córrego abaixo por alguns quilômetros, atentos às pegadas e cocôs no chão. Cree, como sempre, voa em círculos lá no alto e depois desce até Mia, apontando a direção certa. Eles arrastam o trenó de plástico na terra úmida e cheia de pedrinhas da margem, de bonés contra o Sol forte da manhã e passando calor dentro das jaquetas com estampa camuflada. Quando finalmente chegam no encontro do córrego com um rio mais largo, Cree agita as asas e pula para um galho lá no alto.
— É aqui — Mia sussurra, olhando ao redor. Ela vê patas na lama e relva mastigada.
Kate não sabe muito bem o que está fazendo, então resolve imitar Ben e Mia. Eles andam devagar e abaixados entre os arbustos, parando para olhar e escutar de vez em quando. Antes de verem os veados, Kate começa a sentir o cheiro forte, tipo de estábulo, que vem com o vento. Mia sinaliza para que eles parem e tira os binóculos da mochila, averiguando os arredores.
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Mortos Revivem
Science Fiction"Cientistas argentinos descobrem vírus milenar em geleiras da Patagônia" Essa foi a manchete que Kate leu na tarde de 30 de junho. Uma cepa antiga e mutada de vírus da raiva é descoberta na Argentina e se espalha pelas Américas em duas semanas, mata...