Anny encarou fixamente um desenho em sua mesa. Os minutos tinham passado e sua mente insistia em mergulhar na tristeza e culpa. Devia ter deixado o pai tomar as decisões mais severas antes, e agora tinha perdido duas excelentes pessoas.
Quando lhe faltava fôlego, duas lágrimas cintilantes escorregavam pelo rosto e pingava na folha sobre a mesa.
A porta foi tocada duas vezes, mas Anny não ouviu as batidas de primeira. Até que elas insistiram e Thara rapidamente voltou à realidade e enxugou os rastros das lágrimas com os dedos. Após se recompor, se ajeitou na cadeira e aclarou a garganta, numa tentativa de desfazer a rouquidão consequente do choro.
ㅡ Pode entrar. ㅡ quando Marina adentrou a sala, o rosto da mais velha endureceu. ㅡ Por favor, sente-se.
Anny se ergueu da poltrona para caminhar até uma mesinha à direita - ao lado da estante de aço onde era guardado as pastas de arquivos -, para buscar um copo e enchê-lo de água, repetiu a ação com um segundo recipiente.
Marina estava tão abatida quanto a Diretora.
ㅡ Obrigada ㅡ a Mighty bebeu uma boa quantidade do líquido transparente. ㅡ Aconteceu alguma coisa com as Guardiãs? ㅡ Claro que não, Marina sentia, as Flores estavam bem. Apenas perguntou para não deixar o silêncio prolongar.
ㅡ Não, Marina. ㅡ pressionou os lábios finos. Olhou para o desenho no papel de forma discreta. ㅡ Eu sei que não é o momento, mas quero falar sobre um assunto. Queria eu que pudesse esperar, mas depois de hoje...
ㅡ Tudo bem. ㅡ fungou o nariz avermelhado. ㅡ O que foi?
Aquele dia estava sendo repleto de emoções para Marina. Ela não queria conversar sobre assuntos sérios, só desejava ficar na cama e chorar mais um pouco até dormir e acordar para ir a faculdade. Se tivesse forças para estudar.
Anny segurou a folha e entregou para Marina. O choque da Elemental foi visível nos olhos escuros da Diretora, que em nenhum momento deixaram de estudar a feição de Mitchell.
ㅡ É o Matthew ㅡ anunciou com certo temor perante o olhar determinado do homem no desenho. Essa não. ㅡ O que significa isto?
ㅡ Jessy teve uma visão com ele. ㅡ explicou Anny, enlaçando os dedos sob a superfície da mesa. ㅡ Ela me entregou não faz nem dez minutos.
ㅡ Mas eu não entendo ㅡ Olhou outra vez para os traços que se uniam para representar a face do ex-namorado. Só aí a ficha caiu. Tentou comportar as emoções nervosas dentro de si, elas se agitavam a cada tentativa. Sabia o motivo de estar naquela sala.
ㅡ Nesses últimos dias você encontrou Matthew Evans?
A pergunta foi como um chute no estômago. Tratou de disfarçar qualquer indício de pânico. O que seria aquilo? Marina queria entender. Uma pergunta para saber se irei mentir?
Droga. Será que ela suspeita de algo?
Marina engoliu em seco, o nó rasgando a garganta. Precisou beber mais uma quantidade de água, disfarçando o fato dela ter descido muito rápido e dado um embrulho na barriga.
ㅡ Eu... eu posso saber o motivo da pergunta?
Anny não percebeu que aquilo era uma tentativa de Marina saber por onde estava caminhando. Mas resposta que saiu de seus lábios também foram calculadas:
ㅡ Eu me preocupo com o Matthew, mesmo depois desses anos. E se você o viu recentemente, eu preciso muito saber. Talvez ele ainda tenha salvação.
"Talvez", "Salvação". Aquelas palavras fizeram a cabeça da mais nova doer.
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O Sangue Das Elites Distintas
General FictionMighties, termo usado para classificar uma raça com habilidades não-humanas. Seres que vivem ocultos dos humanos, com medo de uma repercussão desagradável que afetaria o Mundo como um todo. O fato de precisarem ficar ocultos, além da falta de ensin...