Nick Nichols apoiou o cotovelo na cabine telefônica, o fone pendurado no ouvido, aguardando que a outra pessoa atendesse. Respirou fundo, de olhos fechados, sentindo um pouco de frio, mesmo estando vestido com um grosso casaco cor amadeirado.
ㅡ Mãe? ㅡ ajeitou a postura quando ouviu a voz baixa da mulher do outro lado da linha. Pressionou os lábios com o silêncio da progenitora, não sabendo o que exatamente falar, mas sentindo falta de alguma coisa.
Alguma coisa. Alguma coisa o quê?
ㅡ Nick, meu filho! ㅡ a mulher pressionou o fone, olhando para o tecido bordado do vestido amarelado. ㅡ Onde você está?
Nichols olhou para a cabine telefônica retangular, demorando para responder porque não sabia se devia falar a verdade. A polícia podia estar ouvindo a ligação, tinha que ser rápido, não podia ser rastreado, localizado. Estava fora de cogitação ficar no xadrez ou acabar sendo morto.
Olhou ao redor, a rua vazia, a parte traseira de prédios apontando para si. Alguns metros antes da cabine telefônica, um ponto de ônibus abandonado e pichado.
ㅡ Estou bem ㅡ murmurou cansado, passando a mão livre pela testa, afastando os fios pretos. ㅡ Como a senhora está?
ㅡ Preocupada com você, Nick. ㅡ a mulher respondeu de imediato, o rapaz apenas deixou um outro suspiro ecoar. Encarou pelo vidro da cabine o céu escurecer, carregado de nuvens cinzas pesadas. Claro, vai chover justamente agora? ㅡ Volte para casa, meu filho, se entregue para a polícia. Vamos recomeçar nossa vida quando você cumprir sua pena. Vamos viver em paz.
ㅡ Não fiz de propósito ㅡ murmurou com amargura, apertando os dedos na palma da mão livre. ㅡ Mãe, a senhora sabe que não fiz de propósito!
Esse dia ficara marcado na alma do rapaz, uma mancha que jamais conseguiria limpar de sua vida. Isso porque ninguém o entendia, muito menos a sua única família, sua mãe.
Menos de um mês e meio atrás, Nichols era uma pessoa normal, aos olhos de seus vizinhos, da sua cidade, sociedade. Nem mesmo sua mãe tinha conhecimento desse poder, esse maldito e incontrolável poder.
Nick era homem honesto, ajudava em casa trabalhando em uma corretora de seguros. No dia cinco de janeiro, uma quarta-feira, estava sendo um dia perturbador, abafado e cansativo. A paciência de Nichols estava a um triz de atingir a barra vermelha do "limite". Seus sensores mentais alertavam em berros um escandaloso "alerta vermelho".
O moreno terminava de assinar um documento com uma caneta quando o supervisor chegou. Iniciaram uma discussão. Não lembrava ao certo o motivo da briga. Mas no meio de toda a bagunça, as mãos descontroladas do rapaz foram ao peito do superior na intenção de afastá-lo. Só queria empurrá-lo, apenas. Foi tudo muito rápido: só lembrava da mão atravessar o peito do homem como se não houvesse nenhuma massa sólida, como se passasse os dedos no ar. Ainda assustado, retirou as mãos de onde estavam, conseguindo visualizar de soslaio o brilho vermelho emitido do próprio braço. No entanto, para uma segunda onda de terror, a caneta que até então segurava, se manteve atravessada no peito do superior, com a ponta enterrada no coração.
Até hoje, a certeza de ser um covarde, o martelava com força, pois no dia, ao invés de chamar ajuda, Nichols fugiu.
ㅡ Mamãe sabe. Mas você precisa agir como homem, Nick. Fugindo você só prova o contrário. ㅡ a senhora sentiu os olhos lacrimejar ao também ficar emotiva. Engoliu em seco, alguns fios grisalhos escapando do rabo de cavalo. Sentia tanta saudade do filho. Meu único filho. Mas ele cometeu um crime. Acreditava ter sido acidental, mas aquela caneta não cravou sozinha no coração daquele homem! ㅡ Volta para casa, Nick. Vamos esclarecer tudo isso.
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O Sangue Das Elites Distintas
General FictionMighties, termo usado para classificar uma raça com habilidades não-humanas. Seres que vivem ocultos dos humanos, com medo de uma repercussão desagradável que afetaria o Mundo como um todo. O fato de precisarem ficar ocultos, além da falta de ensin...