4 ANOS ANTES
AQUELE ERA O PIOR DIA DA MINHA VIDA.
O relógio da delegacia parecia estar configurado para não se movimentar de jeito nenhum. Eu estava ali havia duas horas, esperando algum policial ficar disponível para ouvir o meu depoimento. Não que eu não tivesse feito isso. Eu já tinha dado o meu depoimento cerca de duas vezes, sem contar o dia do hospital em que os policiais Hernandez e Lopez foram até o meu quarto para ouvir a minha versão da história.
Eu estava exausta e só conseguia pensar no momento em que eu sairia dali e finalmente voltaria para casa. Fiquei imaginando o meu corpo esparramado sob o colchão, meus olhos se fechando lentamente até eu cair na escuridão e dormir. Eu não queria ficar nem mais um segundo naquele lugar que fedia a suor e alvejante. Tudo me parecia tão enjoativo, que faziam horas à fio que eu não comia e não tinha a menor intenção de comer.
Eu via policiais levando pessoas presas com algemas até uma sala afastada; outros estavam sentados em cadeiras giratórias enquanto encaravam a tela do computador com interesse. Os dois policiais responsáveis pelo caso do acidente que envolveu a mim e Henry estavam colhendo o depoimento de uma testemunha em potencial. Aparentemente o motorista do carro que colidiu conosco estava vivo, sofrendo apenas alguns arranhões leves.
No entanto, ele saiu praticamente ileso comparado as pessoas que estavam nos bancos do passageiro. Segundo o policial Lopez, duas pessoas faleceram devido o impacto violento do carro de Henry contra o outro veículo. Foi um acidente gravíssimo e eu suspeitava que, tanto Henry como eu, pagaríamos muito caro por isso.
A minha mãe, sentada no banco ao meu lado, suspirava a cada cinco minutos e olhava a todo momento para o seu relógio de pulso. Eu já estava começando a ficar irritada com a sua impaciência — o que era irônico, já que eu também estava louca para ir embora —, mas eu não conseguia verbalizar uma palavra sequer para ela. Eu sabia que minha mãe estava furiosa comigo, com Henry e com toda aquela confusão.
— Por que estão demorando tanto? — eu a ouvia resmungar, batucando o pé contra o piso de madeira.
Eu havia perdido as contas de quantas vezes eu havia suspirado.
Assistir filmes em que pessoas eram levadas até a delegacia como sendo suspeitas de um crime era uma coisa, mas vivenciar aquilo era muito diferente. Uma onda de calafrios percorreu o meu corpo quando pensei nas palavras "suspeitas" e "crime". Será que eu estava ali por que era uma suspeita? A morte daquelas duas pessoas se tratava de um crime? Foi apenas um acidente, certo?
Não era como se Henry e eu tivéssemos planejado tudo isso.
Se eu ao menos imaginasse que deixar Henry dirigir naquelas circunstâncias resultaria naquilo, teria aguentado seu ataque histérico e tomado a posse do volante eu mesma. Mas nós não somos capazes de prever o que vai acontecer no futuro. O máximo que podemos fazer é evitar que tragédias como aquela acontecessem. E eu não evitei. E era por isso que eu me amaldiçoava a cada minuto da minha vida depois daquele momento. Porque eu tinha o poder de evitar que duas pessoas morressem e não evitei.
Eu dei a arma para um Henry completamente vendado e deixei que ele atirasse.
Então o sentimento de culpa se apossou de mim. O único maldito sentimento que a polícia vasculha em você até encontrar. E, quando finalmente acha, ela te leva para o fundo do poço.
— Senhorita Aiden?
A voz masculina ressoou pela delegacia, fazendo-me virar o rosto para encarar o oficial Hernandez, parado no corredor. Minha mãe e eu levantamos num pulo e nos aproximamos dele.
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TODOS OS PECADOS OCULTOS (VOLUME 1)
Romance"COM VOCÊ EU SINTO QUE NEM MESMO O CÉU É O LIMITE" Uma fera nem sempre é possuidora de uma aparência hedionda. Assim como um príncipe nem sempre é dono de um belo rosto. Savannah Skylar Aiden sabia bem que julgar pela aparência era errado. Ela, as...