CHAPTER 6

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A LIVRARIA ESTAVA VAZIA quando cheguei. Um cheiro peculiar de livros novos invadiu minhas narinas assim que passei pela porta e ouvi o sininho tocar. Se a porta não estivesse aberta, eu suspeitaria de que o dono ainda não havia chegado. Caminhei até o balcão e notei, só naquele momento, que havia uma pilha de marcadores de páginas ao lado da caixa registradora, onde havia uma foto do Planeta Terra em cada um deles. Quando eu peguei um dos marcadores, acabei desfazendo toda a pilha e deixei o balcão à minha frente em um completo caos.

— Droga — resmunguei, tentando recolher os marcadores e empilhando-os novamente.

Naquele momento, ouvi um pigarreio atrás de mim e virei-me com um pulo, assustada. Kellan estava com um dos ombros encostados em uma das prateleiras, os braços fortes e tampados pela camisa preta de frio cruzados em frente ao peito. Ele me encarava com seriedade, mas um dos cantos dos seus lábios estava levemente arqueado em um quase imperceptível sorriso de quem acabara de me pegar no flagra.

Soltei uma risada sem graça, me afastando dois passos do balcão.

— Me desculpe pelos marcadores — eu disse, coçando a ponta da orelha — Prometo que vou arrumá-los.

— Não se preocupe com isso — ele respondeu, se colocando ereto, mas sem descruzar os braços — Preciso que organize a sessão de fantasia, no outro corredor.

Respirei fundo, balançando a cabeça em concordância.

— Venha — chamou — Vou fazer um tour para você conhecer o lugar.

Kellan me mostrou todas as sessões que a livraria tinha disponível e confesso que parecia o paraíso aos meus olhos. Pensei que, se eu tivesse um tempo livre, pegaria alguns para ler. Ou talvez eu os alugaria para ler em casa, tranquilamente.

Contudo, assim que Kellan terminou o tour pela livraria — que descobri ter dois andares incrivelmente grandes — logo chegaram três clientes e a ideia de que eu teria um dia calmo foi por água abaixo. Kellan atendeu dois deles, enquanto eu atendi o último. Surpreendentemente a mulher não precisou muito da minha ajuda, apenas entregou um livro que havia alugado há alguns dias.

— Acha que vai dar conta se eu sair agora? — indagou Kellan, assim que a cliente saiu.

Eu o encarei, receosa.

— Não sei se eu me sentiria confortável sem alguém para me auxiliar aqui.

Assim que o homem abriu a boca para responder, a porta foi aberta e Clarisse passou por ela com uma expressão cansada. Quando seus olhos se ergueram para nos encarar, a mulher abriu um sorriso contido enquanto fechava um guarda-chuva ensopado.

Céus — ela soprou, suspirando, colocando o guarda-chuva no canto e retirando seu sobretudo — Está caindo um temporal lá fora.

— Vou sair agora — disse Kellan, voltando a olhar para mim — Clarisse vai te ajudar no restante do dia.

Sacudi a cabeça em concordância.

— Obrigada.

Kellan aquiesceu e sumiu da minha vista, subindo para o segundo andar.

Quando me virei para Clarisse, flagrei ela me observando banhada de curiosidade. Ela piscou, envergonhada por ter sido pega, e caminhou em direção ao balcão.

— Então, Savannah...— começou ela, ajeitando os marcadores que eu havia desfeito — Você faz faculdade?

Me aproximei dela enquanto mordia meu lábio inferior, lembrando que eu tinha mais um assunto pendente para resolver.

— Eu fazia — respondi, debruçando-me sobre o balcão conforme a mulher se agachava para organizar alguns papéis — Em Debyshire. Mas agora que me mudei para cá, não sei se vou conseguir continuar com os estudos.

TODOS OS PECADOS OCULTOS (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora