CHAPTER 32

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Onde eu estava com a cabeça em aceitar voltar?

Eu só podia ter enlouquecido.

Fiquei observando a porta da livraria enquanto pressionava firmemente meus dedos no volante. Eu cheguei meia hora adiantada porque sabia que entraria em uma disputa mental entre entrar e simplesmente ir embora. Mas eu prometi para Kellan que voltaria. Eu só não imaginava o quanto cumprir essa promessa seria dolorosa.

Será que Clarisse sabia quem eu era? Será que ela sabia que fui eu quem participou da morte da mãe e da irmã de Kellan?

Fechei meus olhos à medida que pressionava meus dedos no volante ainda mais violentamente. Foi quando alguém bateu contra o vidro da janela do meu carro. Abri meus olhos, assustada.

— Você não vai entrar? — Clarisse disse, sorrindo.

Eu suspirei e devolvi o sorriso.

— É claro.

Retirei a chave da ignição e saí do veículo.

— Fiquei preocupada com você — ela contou, abrindo a porta da livraria.

Eu franzi a testa.

— Por que?

— Você não veio trabalhar ontem. Kellan me disse que você não estava se sentindo muito bem e lhe deu o dia de folga.

Fiz uma careta.

— É, eu não estava muito bem ontem.

— Espero que já esteja melhor hoje — ela sorriu.

— Estou — menti — Obrigada.

A verdade era que eu não estava bem.

Não completamente.

Ainda sentia uma farpa presa no canto do meu coração, fazendo-a arder como o inferno. Em todo o lugar que eu olhava na livraria, eu imaginava a irmãzinha de Kellan pulando e gargalhando. A mãe dele deveria estar sentada, tentando ler um livro, mas não conseguindo porque sua filha a obrigava a olhar dançando.

Então eu imaginava Kellan se aproximando de sua mãe, sorrindo como se fosse o filho mais velho mais feliz do mundo, e lhe dando um beijo na testa. Ele começou a dançar lentamente com sua irmã, a abraçando protetoramente.

E de repente, elas começaram a se dissipar com o vento gélido.

E simplesmente sumiram.

— Ela amava essa parte da livraria — comentou Clarisse, parada ao meu lado — Hattie, a irmã de Kellan. Ela colocava suas músicas preferidas no rádio e ficava dançando pela sala. Kellan odiava suas músicas extremamente altas, mas não conseguia mandá-la desligar ou diminuir o volume. Kellan amava vê-la feliz.

Meus olhos começaram a arder.

— Essa livraria era de quem? — perguntei, tentando desviar o assunto.

— Da mãe dele. Kellan herdou dela quando ela...

Eu olhei para Clarisse.

Ela parecia se esforçar para não chorar.

— Você era amiga dela? Da mãe de Kellan?

Clarisse fungou.

— Sim. Nós éramos melhores amigas desde a infância. Eu presenciei cada momento da vida de Aubrey: o namoro, o casamento, as duas gravidezes. Nós éramos inseparáveis.

Eu precisava mudar de assunto.

Então eu fiz a única coisa que pensei naquele momento.

Eu vi um radiozinho parado ali perto, numa escrivaninha, e o liguei. Para a minha sorte, ele ainda funcionava. Uma música rápida passava por ela, como um pop, e eu aumentei o volume.

TODOS OS PECADOS OCULTOS (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora