Sempre pensei no quanto os seres humanos são poderosos. Sim, nós somos poderosos. Porque temos o poder nas nossas mãos de transformar a vida de outras pessoas. Podemos levá-las até as nuvens e fazê-las flutuar. Como também podemos arrastá-las até o inferno e fazê-las queimar até não sobrar mais nada de quem ela era antigamente. E, às vezes, as consequências são irreversíveis.
Desde que conheci Henry, eu tinha a sensação de que ele me arrastava sem piedade para o inferno. E que não pararia até que finalmente não sobrasse nada de mim além de cinzas. Eu não tinha a menor chance contra ele. Era triste, mas quem disse que a verdade é sempre uma fonte de alegria?
— Você está ainda mais linda do que há quatro anos, Sky — ele murmurou com um sorriso lateral, suas costas despojadamente encostadas na cadeira de Kellan — Ora vamos, você não está feliz em me ver?
Engoli em seco, pensando se seria uma boa ideia dar meia volta e fugir. Acho que Henry leu meus pensamentos porque ele soltou uma risada alta.
— Não, não, princesa. Você não vai escapar da nossa conversinha.
Crispei meus lábios, ciente de que ele não me deixaria ir.
— Venha, sente-se do meu lado — ele disse, mais como um decreto do que um pedido — Temos muito o que discutir.
Respirando fundo, eu me aproximei e me sentei na cadeira ao lado de Henry. Só então eu consegui encará-lo de verdade. Seu rosto, antes completamente limpo, agora estava rodeado de alguns hematomas avermelhados. Havia uma pequena falha em sua sobrancelha esquerda e seus dedos estavam cheios de calos. Henry obviamente brigou bastante. Isso me deixou ainda mais inquieta.
— Deixe a criança no balcão.
Fiz o que Henry mandou, deixando a cadeirinha de Rosie o mais próxima possível de mim. Embora a expressão dele estivesse neutra, eu via uma raiva emanando de seus olhos e fiquei com medo do que ele poderia fazer com Rosie.
— Então — ele voltou a falar — parece que você tem se dado bem desde a última vez que nos vimos, não é? Mudou da cidade com sua irmãzinha, trabalha em uma livraria e...— os olhos dele voaram como flechas para a garotinha, que observava curiosamente a cena — é sua filha?
Puxei o ar antes de responder.
— Não — minha voz não saiu mais do que um sussurro — Estou cuidando dela.
— Está trabalhando de babá também? Que interessante. Isso claramente significa desespero. O que foi, Savannah? Seu pai bêbado não tem pagado suas dívidas?
Arregalei os olhos em sua direção.
Como ele poderia saber disso?
Henry jogou a cabeça para trás em uma risada doentia.
— Vamos lá, Sky. Eu não sou tão previsível assim, sou? É claro que eu faria meu dever de casa antes de confrontá-la. Sabe, esses quatro anos na prisão me fizeram muito bem. Até consegui alguns contatos bem legais.
Eu finalmente entendi que Henry não estava ali para brincadeiras.
Ele iria cumprir o que ele disse que faria há alguns anos. Ele já me encontrou. E vai me fazer pagar por deixá-lo cumprir a pena sozinho.
Pensar nisso fez com que eu entrasse em desespero e pensasse em alguma coisa para me tirar daquela situação o mais rápido possível. Então me lembrei do meu celular, guardado no bolso da minha jaqueta.
— A prisão parecia uma escola, entende? — continuou ele, sua atenção totalmente em um ponto a sua frente — Foi tão inspirador...
Coloquei delicadamente a minha mão em meu bolso e desbloqueei o telefone. Agarrei o aparelho como se a minha vida dependesse disso e fui tirando lentamente até que eu conseguisse ver, de canto de olho, o ícone de mensagens. Apertei o número de Kellan e digitei o mais rápido que meu dedão conseguia. Mandei uma única mensagem:
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TODOS OS PECADOS OCULTOS (VOLUME 1)
Romance"COM VOCÊ EU SINTO QUE NEM MESMO O CÉU É O LIMITE" Uma fera nem sempre é possuidora de uma aparência hedionda. Assim como um príncipe nem sempre é dono de um belo rosto. Savannah Skylar Aiden sabia bem que julgar pela aparência era errado. Ela, as...