Capítulo 1

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"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace" - Victor Hugo

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"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace" - Victor Hugo.

Angeline estava deitada em sua cama, no quarto frio aonde ela sempre dormia. Cheia de aparelhos médicos em seu peito, o que ela mais odiava era ter que olhar naquele monitor, onde mostrava os estágios de seu coração, pois, ela sofre sérios problemas cardíacos. No momento a tela mostrava a cor verde, indicando que seu coração estava bem. O doutor sorriu para Angeline, e ela retribuiu educadamente.

- Seu coração não apresenta riscos agora, mas evite se estressar ou praticar atividades pesadas.

- Sim! O doutor sempre fala isso, por enquanto só estou pintando meus quadros.

Tudo o que Angeline mais gostava era de pintar, seus quadros eram aclamados por toda Edimburgo.

Com a ida do jovem doutor, logo os pais da moça entraram no quarto, aparentando nervosismo e preocupação com a saúde da filha.
Angeline não demonstrava expressão alguma, ainda deitada em sua cama, ela observava a vista do jardim de sua residência, no qual ela gostava muito, pois, de lá surgem as inspirações para suas obras de arte.
- Como esta se sentindo, Angel? - Perguntou Joseph, o pai de Angeline, ele se sentou na cama e segurou a mão da filha.
- Um pouco aliviada de saber que ainda posso continuar a pintar.
A mãe de Angeline derramou algumas lagrimas, ela não suportava ver a sua "garotinha" naquele estado, infeliz, sem poder ser livre para fazer tudo oque quisesse, seu frágil coração lhe priva de realizar muitas coisas.

- Se precisar de alguma coisa nos chame, tá? Filha? - Disse Madeleine, a mãe doce e preocupada de Angeline.

A mulher abraçou sua filha e depositou um longo beijo em sua cabeça, Angeline também beijou o rosto de sua mãe, e ambas sorriram uma para outra.

(...)

Sozinha em seu quarto, Angeline decidiu pintar, ela pegou o potinho aonde guardava seus pinceis, dentro de um armário de madeira antigo que pertenceu a sua avó. As tintas também ficavam lá, depois ela compartilhou sua arte e melancolia em uma tela branca. Ela deslizava o pincel para cima e para baixo, enquanto olhava para o lado de fora, se inspirando nas flores e no céu acinzento.

O jardim possuía todas as flores preferidas de Angel, sua mãe mandou fazer exclusivamente para ela quando Angel completou doze anos, era o local mais colorido de sua casa, Angeline se sentia mais feliz quando estava rodeada de suas flores.

Alguém lhe interrompeu batendo na porta, oque fez com que Angel parasse de pintar, colocando seu material em cima da mesa e retirando seu avental.

- Pode entrar.

Era a governanta da casa, a Sra. Kemp. Uma segunda mãe para Angel. Ela se aproximou da jovem com um sorriso simpático, oque fez com que Angeline se levantasse e fosse de encontro a ela.

- Sra. Kemp, oque lhe traz aqui?

- Já falei que não precisa me chamar de senhora, querida, e sim de Martha.

- Perdoe-me... Martha, é que meus pais me educaram assim, sempre chamar os mais velhos de senhor e senhora.

Martha lhe deu um abraço, e um beijo na testa, em seguida segurou as mãos de Angel, e balançou a cabeça negativamente.

- É melhor ir lavar bem esses "dedinhos" de tinta, o almoço já está pronto, e seus pais lhe aguardam lá embaixo.

Martha se retirou do quarto, e Angel foi até a suíte se lavar. Ela jogou um pouco de água em seu rosto e ficou alguns minutos se observando no espelho, pensando o porquê disso tudo, o porquê desse problema de saúde, e como as pessoas ao seu redor lhe olham com dó, como Martha acabou de fazer ao entrar em seu quarto.

- Espero que um dia esse sofrimento acabe.

Com um vestido azul-escuro e o cabelo penteado, Angeline desceu para se juntar aos seus pais na grande mesa para o almoço. Os pais a olharam com brilho nos olhos. Apesar de Angel não ser mais uma criança há bastante tempo, seus pais ainda pensavam que ela era a garotinha deles, sempre a tratando com muito zelo.

Os empregados começaram a servir o almoço, Angeline tomou um pouco do suco de Framboesa, era o seu preferido. Ao olhar para aquela comida em seu prato, ela sentiu um certo desconforto.

- Oque foi querida? Não gostou do cardápio de hoje? - Perguntou Madeleine segurando a mão da filha.

- Sim, gostei, é que... Está faltando um pouco de açúcar no suco.

- Irei pedir para Samuel adicionar um pouco mais de açúcar no seu suco, querida.

Angeline não gostava de desagradar seus pais, em sua mente isso seria um grande pecado, já que eles fazem de tudo para vê-la feliz e saudável na medida do possível.

Com dificuldade ela pegou os talheres e os levou em direção ao seu prato, antes de cortar o pedaço da carne, ela olhou atenciosamente para seus pais, como eles comiam tranquilamente, e pelas feições deles, ela notava que a comida estava deliciosa, mas que ela não iria conseguir comer tudo. Quando o primeiro pedaço de carne foi de encontro a sua boca, ela sorriu para os pais, mostrando que estava gostando, mas a cada migalha daquela comida que descia por sua garganta mais ela queria jogar tudo para fora. Durante toda a refeição ela se segurou o máximo que podia para não vomitar, mas em alguma hora isso iria acabar acontecendo.

- Com licença meus pais, mas eu preciso ir até o toalete.

Madeleine se levantou e segurou o rosto rosado de Angel, ela se preocupou com a saída repentina de sua filha.

- Oque foi filha? Está se sentindo bem?

- Sim mãe, não se preocupe. Com licença.

Angeline deu longos passos até o banheiro mais próximo, ela não podia correr muito por conta de seu coração de "vidro". Ao chegar no toalete, ela não pensou duas vezes e jogou todo o almoço para dentro daquele vaso sanitário. Angeline se sentiu tão destruída e incapaz de fazer qualquer coisa, pois, já não bastasse seu problema cardíaco ela ainda "ganhou" a bulimia. Após dar a descarga ela foi até o espelho, e derramou lagrimas sobre a pia, a cada dia que ela vomitava era como uma parte de sua vida indo embora aos poucos.

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