Alfonso

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Eu coloco o GTO em marcha lenta no portão e soco no meu código. Com todos os vizinhos no trabalho, a rua está deserta e tranquila. Eu não gosto de tranquila. Faz os meus instintos formigar com a paranóia.

Sem dúvida, meus nervos estão relacionados com o risco no cancelamento de minhas aulas da tarde. Mas desde que meu pai atrasou na clínica, eu reivindiquei uma emergência familiar, as consequências que se fodam, eu pego suas prescrições no caminho de casa.

Quando o portão se abre, eu sigo pela calçada ao redor da parte de trás da propriedade, perguntando se Anahí ouve o barulho do motor.

Eu piso no freio. O que...?

Um Honda preto velho está estacionado perto da porta de trás.

Desconhecido. Desocupado. Sem placas.

Meu estômago endurece em gelo. Anahí.

Eu não respiro até que eu estou na casa. O alarme não está armado.

A próxima respiração não vem até chegar à cozinha. Passos no segundo andar.

Corro através da sala de estar, cada célula do meu corpo hiperalerta.

Quem está aqui?

— Gastón, ele está na garagem! — Uma voz de homem ecoa no andar de cima. — Onde está você?

Rodrigo. Meu sangue corre frio quando corro em direção ao foyer. Ele disse Gastón? Como isso é possível?

Gastón está na porra da minha casa. Com Anahí.

Raiva impele-me a subir as escadas, cada passo um adversário entre mim e ela. Subo mais rápido, levando dois... Três degraus de cada vez.

— Que porra é essa? — Rodrigo ruge da direção do meu quarto. — Sai de cima dela!

Não! Oh, Jesus, porra, não! Urgência funde em meus músculos, empurrando-me mais rápido, mais duro, bloqueando meu maxilar. Eu não posso ouvi-la. Por que eu não posso ouvi-la?

Eu alcanço o último degrau, mas a distância restante parece que está forçando o meu coração a explodir para fora do meu peito. O percurso é muito grande, o salão muito longo. Estou muito longe. Eu nunca deveria ter a deixado. Eu falhei com ela, e eu estou caralho fumegante no meu pesar. Malditamente balançando no meu desespero para chegar até ela.

Eu sigo os sons do aumento dos gritos. Quase lá. Mais alguns passos.

Corro através da porta, meu foco cai sobre o outro lado do quarto.

Anahí está imóvel em minha camiseta. Sangue em seus lábios.

Expressão vazia. Schubert em seus braços. Morto.

Os punhos fechados de Rodrigo. Feridas na face e no braço de Gastón.

Seu zíper aberto.

Cada captura instantânea no milésimo de segundo cauteriza em mim com uma crueldade que cambaleia meus passos.

Ninguém me percebe.

Eu estou em desvantagem, desarmado, e excessivamente-tão-forjado com fúria. Tudo dentro de mim puxa para Anahí, mas eu luto contra isso, recusando-me a olhar para ela ou pensar sobre ela. Se eu fizer, eu vou perder a minha fodida cabeça.

Aderindo para a borda da sala, eu fecho a distância. Anahí está a poucos passos de distância do confronto entre Rodrigo e Gastón.

— Você a estuprou, filho da puta? — Rodrigo dá um soco em Gastón e erra a cabeça se esquivando. — Ela estava dizendo a verdade todo esse tempo?

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