Alfonso

256 14 1
                                    

Passo o dia ouvindo murmúrios e prestando muita atenção às expressões sutis. Beverly Rivard me cumprimenta na sala dos professores vestindo uma careta de boca fechada com desdém. Nada de novo lá. Andrea Augustin me observa de longe, cautelosa e ferida. Ela vai superar isso. Prescott fica de fora do meu caminho nos corredores e se esgueira em seu assento durante a aula. Ele é o único que me preocupa mais. Eu o humilhei na frente de Anahí na noite passada, um golpe terrível para o seu ego de rapaz. Mas se ele abre a boca, ele tem mais a perder do que a sua dignidade.

Na sala de aula, Anahí mantém seu comportamento como uma estudante. Ela não sustenta meu olhar por muito tempo. Não flerta ou demonstra afeto. Mas a tensão sexual entre nós paira como uma tempestade elétrica. Se alguém soubesse o que procurar, eles pegariam isso. Prescott deve ter alguma idéia depois da maneira como eu a defendi, mas ele não se atreve a olhar para ela ou para mim. Por enquanto, tudo que posso fazer é mantê-lo sob o meu estreito escrutínio.

Depois das aulas particulares de Anahí, voltamos para a casa dela. O céu sem estrelas e ausência de luz lança sua rua em uma mancha de sombras.

Enfiando o GTO no mesmo local que eu usei esta manhã, olho na escuridão além de suas janelas. — Ninguém está em casa.

— Acho que não. — Ela abre a porta do carro. — Eu vou ser rápida.

Eu desligo o motor e saio para me juntar a ela na rua.

Ela balança a cabeça e aponta de volta para o carro. — Fique aqui. Alguém poderia voltar para casa.

É arriscado, mas ela não vai entrar em uma casa escura sozinha à noite. Nem ela vai segurar um gato e todos os seus pertences sozinha. Mas no caso de seu irmão aparecer, eu preciso prepará-la para uma reintrodução desagradável.

Eu pego a mão dela e levo-a para a varanda da frente. — Eu conheci Rodrigo um tempo atrás.

— O quê? — Ela para na calçada e olha para mim com os olhos arregalados. — Quando?

Eu puxo os dedos espremendo, forçando seus pés para me seguir até as escadas. — Ele não sabe quem eu sou, e infelizmente, ele não sabe por que eu quebrei seu nariz.

Ela engasga seus passos vacilantes, mas mantem-se em movimento.

— Foi você? — Sua testa enruga enquanto ela abre a porta. Um suspiro passa pelos seus lábios. — Por causa do corte no meu lábio.

— Ninguém fere a minha garota.

— Eu amo quando você diz isso, — ela sussurra suavemente.

Com mãos suaves, ela ajeita a minha gravata, os dedos descendo a seda antes que ela se afaste.

Quando ela abre a porta, o cheiro de fumaça de cigarro inunda meu nariz.

Um segundo depois, um gato malhado laranja corre das profundezas escuras e diminui a seus pés, ronronando como um motor e esfregando contra seus tornozelos.

Ela o pega, acariciando a cabeça rodada contra seu pescoço como se ele fosse a coisa mais vital no mundo.

Enfio as mãos nos bolsos e tento conter meu ciúme sobre um maldito gato. — Você vai me deixar entrar em algum momento esta noite?

— Tão impaciente. — Ela aperta rapidamente o interruptor de parede e a pequena sala inunda com a luz. Em seguida, ela segura o gato para mim e deixa-o cair em meus braços, obrigando-me a levá-lo. — Eu só preciso pegar as coisas dele.

Quando ela corre através da linha de portas para a parte traseira da casa, a bola de pelos em minhas mãos golpeia nada menos do que mil cabelos laranja por todo o meu casaco de camurça.

Dark NotesOnde histórias criam vida. Descubra agora